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A indústria brasileira continua a perder força, puxando a forte desaceleração da economia nacional. O pacote de medidas de estímulo anunciado na quinta-feira, incluindo a redução de tributos sobre bens de consumo, é visto pelos analistas como uma tentativa do governo de lançar mão do que estiver ao seu alcance para relançar a atividade econômica. Embora as medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não sejam de grande magnitude, podem ser prenúncio de munição mais pesada nos próximos meses.
Na terça-feira, 6, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre. Várias instituições ouvidas pelo Estado projetam crescimento próximo de zero, com recuo da indústria. Na sexta-feira, saiu o dado da produção industrial em outubro, com queda de 2,2% em relação a outubro de 2010, e de 0,6% ante setembro, na série dessazonalizada. O resultado foi pior do que a média das expectativas do mercado.
"A indústria da transformação está muito mal", diz Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas no Rio. O Ibre projeta crescimento de 0,3% do PIB no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior, na série dessazonalizada. A previsão para a indústria, porém, é de queda de 0,7%.
A projeção do Ibre também é de desempenho muito ruim do investimento no terceiro trimestre, com queda de 0,9% em relação ao segundo trimestre, na série dessazonalizada, e alta de apenas 2,2% ante o mesmo período de 2010. Silvia observa que tanto a produção nacional de máquinas e equipamentos quanto a importação tiveram quedas surpreendentes nos últimos meses.
Na LCA Consultores, a projeção é de crescimento zero no terceiro trimestre, com queda de 2% da indústria e de 0,7% nos investimentos - nos três casos, na comparação com o segundo trimestre, na série dessazonalizada. Mesmo o Itaú-BBA, que tem visão menos pessimista do investimento no terceiro trimestre, com projeção de alta de 1%, prevê queda na indústria de 0,4%. Para Aurélio Bicalho, economista do Itaú-BBA, o PIB do terceiro trimestre deve apresentar desaceleração em todos os componentes da demanda - consumo das famílias e do governo, investimento e exportações.
Ele considera que a freada entre julho e setembro deve-se principalmente a fatores internos, ligados a medidas tomadas pelo governo desde o final de 2010: alta da taxa básica de juros (que só começou a ser revertida em agosto), medidas macroprudenciais nos mercados de crédito, política fiscal mais apertada e manutenção do valor real do salário mínimo. A partir da segunda metade de agosto, Bicalho acha que a deterioração do cenário internacional, com a crise do euro, começou a pesar.
Já Sérgio Vale, economista da MB Associados, atribui um papel ainda maior à piora externa na desaceleração prevista para o terceiro trimestre. "Tenho dificuldade de achar que só a política econômica está justificando isso, eu vejo uma contaminação maior do cenário internacional", afirma.
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, também considera que a freada no consumo e no ajuste de estoques reflete a contaminação da crise internacional na expectativa dos brasileiros e não é só efeito das medidas de aperto ao crédito tomadas pelo Banco Central. "Tudo isso é efeito da crise."
As instituições ouvidas pelo Estado preveem crescimento do PIB em torno de 3% em 2011, e de 3% a 3,5% em 2012.
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