Bagaço de cana-de-açúcar na construção civil

Experiências da Unesp dão origem a novo composto cerâmico com potencial de aplicação em construções

Fonte: Agência FAPESP –  29/05/07

Foto: Divulgação

Experimentos realizados nos laboratórios da Faculdade de Ciências Tecnológicas (FCT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, deram origem a um novo composto cerâmico com potencial de aplicação na construção civil.

Trata-se de uma massa cerâmica cuja matéria-prima principal é a areia extraída da cinza do bagaço da cana-de-açúcar. “O trabalho tem foco ambiental, do estudo de alternativas de aproveitamento dos resíduos que são dispensados em larga escala pela indústria”, disse o coordenador da pesquisa, Silvio Rainho Teixeira, professor do Departamento de Física, Química e Biologia do FCT, à Agência FAPESP.

“Descobrimos que um material que aceita muito bem os resíduos industriais do setor sucroalcooleiro é a massa cerâmica usada para produção de cerâmica vermelha”, explicou. Os pesquisadores partiram do bagaço de cana usada para produção de álcool, que foi queimado a fim de produzir vapor e energia elétrica para uso industrial.

Para cada tonelada de cana foi gerado cerca de 0,25 tonelada de bagaço, que, quando queimado nas caldeiras, produziu aproximadamente 6 quilos (2,4 %) de cinza – que contém pó de carvão e areia de quartzo.

“A areia de quartzo pode ser misturada com argila e com elementos conhecidos como fundentes químicos para dar origem a uma massa cerâmica que pode ser usada para a fabricação de tijolos, telhas e placas cerâmicas”, disse Teixeira. Os fundentes mais utilizados em cerâmicas são matérias-primas ricas em óxido de sódio (Na2O) e óxido de potássio (K2O), que também estão presentes na cinza em pequenas quantidades.

O pesquisador destaca que esses resíduos das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar produzidos no processo de geração de vapor normalmente são descartados sobre o solo. Em 2002, o Brasil produziu cerca de 1,6 milhão de toneladas de cinza do bagaço de cana.

O pó de carvão extraído da cinza pode ainda ser prensado, usando um aglutinante orgânico, em altas temperaturas para a produção de briquetes (aglomerados) de carvão vegetal.

“Se todo o pó de carvão gerado pela queima do bagaço no Brasil fosse aproveitado, seria possível substituir cerca de 10% do carvão vegetal usado atualmente no país para a geração de energia”, disse Teixeira.

Como a incorporação da areia de quartzo nas propriedades dos materiais cerâmicos depende das composições químicas e mineralógicas da cinza, fazendo com que cada mistura reaja de forma diferente mesmo que as concentrações sejam as mesmas, os pesquisadores estão trabalhando para adequar a tecnologia aos processos de produção em larga escala e para torná-la viável comercialmente.

“Os novos materiais cerâmicos ainda não foram utilizados por empresas e todos os resultados ainda estão sendo validados em laboratório. Mas o mais importante é termos descoberto a incorporação das cinzas do bagaço da cana-de-açúcar na composição de massas cerâmicas como uma solução para o destino final dos resíduos industriais”, afirmou Teixeira.

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