Investimento dá sinais de menor fôlego

O investimento deu sinais de alguma perda de fôlego no bimestre formado por julho e agosto, dado o ritmo mais fraco de expansão do consumo interno de máquinas e equipamentos na comparação com o mesmo período do ano passado. Na média desses dois meses, a formação bruta de capital fixo (medida das contas nacionais do que se investe em bens de capital e na construção civil) avançou 4,8% sobre igual intervalo de 2010, menos que os 6,4% observados no segundo trimestre e os 11,2% do primeiro, nas estimativas da Quest Investimentos. A construção civil cresceu a uma taxa mais forte em julho e agosto do que no segundo trimestre, embora o ritmo não seja dos mais intensos.

De janeiro a agosto, a formação bruta de capital fixo aumentou 7,6% em relação a igual período de 2010, segundo números da Quest. Nos cálculos da MB Associados, o aumento é um pouco mais fraco, de 6,8%. Para 2011, a expectativa dos analistas é de um crescimento entre 5% e 6%, bem abaixo dos 21,9% de 2010, número parcialmente inflado pela fraca base de comparação - em 2009, houve recuo do investimento de 10,3%.

A forte desaceleração das importações de bens de capital ao longo do terceiro trimestre chama a atenção, como destaca o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. Na média de julho e agosto, elas cresceram 2,6% sobre o mesmo período do ano passado, muito menos que os 25,1% de expansão do segundo trimestre. Em setembro, o resultado foi ainda pior: queda de 17,1% sobre o mesmo mês de 2010. Para Borges, o aumento das incertezas no cenário externo, com a piora da crise da dívida europeia, leva parte dos empresários a ficar mais cautelosa. "Quando o quadro se torna mais incerto, as empresas adiam, reduzem ou cancelam projetos de investimento. Acredito que agora predominem os adiamentos." Borges projeta alta de 4,8% para o investimento em 2011.

Estimativas da Quest indicam que, no bimestre julho/agosto, o consumo interno de máquinas e equipamentos foi 5% maior que no mesmo período de 2010. No segundo trimestre, a alta tinha sido de 8,4%. Cálculos de outras consultorias mostram números um pouco diferentes, mas com tendência semelhante. O consumo interno é calculado pela soma da produção e da importação, excluindo a exportação.

Para o economista Fabio Ramos, da Quest, o agravamento da crise e a perspectiva de um crescimento mais fraco colaboram para moderar o ritmo de investimento. Depois de crescer 7,5% em 2010, o PIB deve avançar algo como 3% a 3,5% em 2011. Para o ano que vem, as projeções apontam para uma expansão de 3,7%. "O investimento tende a desapontar neste ano, como desaponta o PIB", diz Ramos, que projeta alta de 3% para a economia e de 5% para a formação bruta de capital fixo em 2011.

O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, também vê uma tendência mais fraca de expansão do investimento. Um ponto importante, segundo ele, é que há maior ociosidade na indústria, o que contribui para as empresas investirem menos, por reduzir a necessidade de ampliar a capacidade produtiva. O aumento da incerteza externa, com indefinição sobre a demanda nos próximos trimestres, também colabora para um menor apetite por inversões, afirma Bicalho. Ele projeta um aumento de 6,1% dos investimentos. A boa notícia, segundo ele, é que as inversões devem continuar a crescer acima do PIB - o Itaú Unibanco prevê alta de 3,2%. O ponto é que, no começo do ano, vários analistas esperavam um alta do investimento na casa de 10%.

A produção doméstica de bens de capital mostra um comportamento bem melhor que o das importações. Em julho e agosto, aumentou 6% sobre igual período de 2010, mais que os 2,6% do segundo trimestre. A prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES, ainda que com taxas mais altas e prazos menores, dá algum fôlego ao setor, induzindo parte das empresas a investir, para aproveitar condições ainda favoráveis.

Borges diz que há uma antecipação das compras de caminhões neste ano, porque em 2012 os preços devem subir, com a entrada em vigor da norma euro 5, que exige motores menos poluentes. Não por acaso, a produção de bens de capital equipamentos de transporte cresce 14% no acumulado do ano até agosto, abaixo apenas dos 17,4% dos bens de capital para construção. O desempenho nos outros segmentos é bastante díspar. Há queda de 7,4% na produção do setor para peças agrícolas, recuo de 8,6% no segmento de energia elétrica e alta de 4,8% nos bens de capital para fins industriais.

Para o economista-chefe da MB, Sérgio Vale, o quadro para o investimento ainda é razoável, mas é muito desigual entre os vários setores da economia. Segundo ele, as inversões estão concentradas nos setores ligados à produção de commodities, mostrando um resultado bem mais desanimador na indústria de transformação, que sofre com o dólar barato, car ga tributária alta e problemas de infraestrutura. Vale estima que a formação bruta de capital fixo vai crescer 5,6% em 2011.

No bimestre julho/agosto, a construção cresceu 4,3% sobre igual período de 2010, mais que os 2,4% do segundo trimestre, nessa base de comparação. Para Borges, a aceleração pode se dever a obras de infraestrutura - o mercado imobiliário, segundo ele, passa por um momento menos exuberante. "Os lançamentos em São Paulo, por exemplo, estão muito acima da demanda por imóveis novos." No acumulado de janeiro a agosto, a construção cresce 4%, um ritmo que não é dos mais expressivos.

Para o crescimento no terceiro trimestre em relação ao segundo, com ajuste sazonal, as estimativas mostram muita divergência. Vale considera possível um aumento de 0,5% a 1%, enquanto Borges trabalha com estabilidade. Ramos também aposta em investimento estável, "talvez em ligeira alta". Mesmo divergentes, as previsões em geral apontam para uma expansão menor que no segundo trimestre, de 1,7% sobre o primeiro.


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