Máquinas agrícolas demandam R$ 16 bi

Os produtores agrícolas vão precisar investir cerca de R$ 16 bilhões ao ano para renovar e ampliar a frota de tratores, colheitadeiras e implementos até o fim da década. A estimativa consta de um estudo elaborado pela consultoria Agroconsult, encomendado pelo Banco John Deere, e obtido com exclusividade pelo Valor.

A demanda é duas vezes maior do que o volume de crédito previsto no Plano Agrícola e Pecuário 2011/12 para o investimento em maquinário - cerca de R$ 8 bilhões. A conta leva em consideração os recursos do Moderfrota e das linhas do BNDES, como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), mas desconsidera o Programa Mais Alimentos, para a agricultura familiar, que financiou quase 30% das vendas de tratores no ano passado.

As linhas oficiais para a compra de máquinas obtiveram resultados expressivos na última década. Desde que o Moderfrota foi criado, em 2000, os agricultores compraram mais de 302 mil tratores e 37,8 mil colheitadeiras, um crescimento de 61% e 69%, respectivamente, em relação à década anterior.

No período, a frota de tratores cresceu 10% e atingiu a marca inédita de 620 mil unidades. Além disso, o maquinário ficou mais potente. A fatia de tratores com mais de 100 cavalos saltou de 28% para 43% entre 2000 e 2010. No ano passado, 31% das colheitadeiras tinham motores com mais de 295 cavalos, categoria inexistente no início da década. "Grande parte desse desempenho se deve à melhora dos níveis de desembolso de crédito rural para investimentos", afirma André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. As compras também refletem as mudanças pelas quais passou o setor na década, com a escalada nos preços da soja decorrente do efeito China.

Pessôa pondera que, embora tenham cumprido um papel importante nos últimos anos, os programas oficiais ainda são insuficientes. "Eles reverteram a tendência de sucateamento dos anos 1990 e deram impulso à renovação, mas a idade média da frota ainda é elevada", afirma. De acordo com o estudo, a oferta de crédito em condições mais favoráveis possibilitou reduzir de 66% para 48% a participação dos tratores com mais de 10 anos entre 2000 e 2010. E fez crescer a de máquinas novas, com até três anos de uso, de 13% para 23%.

Contudo, a idade média dessas máquinas ainda é considerada elevada: 11,2 anos. "O razoável seria uma frota com sete anos de uso. Uma máquina com 10 anos, em um país que colhe duas safras, começa a apresentar deficiências e custos de manutenção elevados", afirma Pessôa. Segundo ele, as máquinas de baixa potência só tiveram um processo intenso de renovação com os programas sociais, como o Mais Alimentos, a partir de 2008. "O Moderfrota não conseguia atender aos agricultores familiares. Quando as condições de juro e prazo se ajustaram, a reação foi imediata."

A última vez que a frota de tratores teve uma idade média inferior a oito anos foi no fim dos anos 1980. Durante os anos 2000, essa média chegou a 12,7 anos. No caso das colheitadeiras, o benefício dos programas oficiais foi mais evidente: o tempo médio de uso, que era de 9,2 anos no início da década, chegou a 2010 em 6,9 anos. Em 2010, apenas 5% dessas máquinas tinham mais de 12 anos, "embora 57% tenham entre sete e 12".

O estudo da Agroconsult mostra que os recursos para investimento no campo cresceram de modo expressivo na segunda metade da década - de R$ 213, em 2005, para R$ 441 por hectare em 2010. "Mesmo assim, a produtividade do trabalho na agricultura segue baixa", pondera Pessôa. De acordo com o estudo, o Brasil tem um trabalhador rural para cada 23 hectares cultivados. "Nos Estados Unidos, há um trabalhador para cada 154 hectares. Mesmo na França, que tem uma estrutura fundiária muito parecida com a nossa região Sul, essa relação é de um para 46", observa o consultor.


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