Fibra óptica brasileira faz 30 anos

O material foi criado como uma alternativa para o uso de fios de cobre

Fonte: Agência FAPESP – 24/05/2007

Foto: Divulgação

Na década de 1960, a transmissão de dados por sinais luminosos em fibras ópticas se tornou uma forte candidata a substituir, gradativamente, os sistemas baseados em fios de cobre nos sistemas de telefonia. Duas limitações, no entanto, impediam o desenvolvimento da tecnologia: as grandes perdas de luz durante a transmissão e o excessivo calor que os lasers geravam.

Enquanto o professor Zeferino Vaz fundava, em 1966, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pesquisadores de diversos países reunidos em empresas e universidades norte-americanas estavam em busca de soluções para o uso da tecnologia, que só foram vencidas em 1970.

Foi quando a empresa norte-americana Corning fabricou a primeira fibra óptica com baixa perda de luz e, nos Laboratórios Bell, da AT&T, foi desenvolvido um tipo de laser capaz de operar à temperatura ambiente.

Três pesquisadores brasileiros que estavam nos Estados Unidos e acompanharam de perto as descobertas – Rogério Cerqueira Leite, Sérgio Porto e José Ripper Filho – aceitaram o convite de Vaz e retornaram ao Brasil para liderar, na Unicamp, pesquisas na área.

Em 1972, o governo brasileiro criou a Telebrás e investiu nos grupos acadêmicos existentes para o desenvolvimento da tecnologia de fabricação das fibras. O principal resultado desses investimentos foi obtido em abril de 1977, quando a primeira fibra óptica brasileira foi puxada em uma torre de dois metros de altura do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) da Unicamp.

"A fibra óptica não foi inventada no Brasil, mas revolucionou os serviços de comunicação no país por ter sido capaz de modificar o mercado ao substituir as tecnologias até então existentes", disse José Ripper Filho, que em 1971 era chefe do Departamento de Física Aplicada do IFGW, à Agência FAPESP.

Ripper Filho foi um dos protagonistas da criação da primeira fibra óptica brasileira que esteve presente no evento "30 anos da fibra óptica brasileira", na tarde desta terça-feira (22/5), em Campinas.

"Percebemos na hora certa a possibilidade de uma mudança radical nos conceitos das comunicações ópticas no país. Ficamos na fronteira do conhecimento em fibras ópticas até o fim da década de 1980", disse Ripper Filho.

A transferência da tecnologia para a indústria nacional ocorreu por meio do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), o então centro de pesquisa e desenvolvimento da Telebrás, no qual foi montada a planta piloto de fabricação das fibras.

Estabelecida em Campinas, a empresa nacional ABC X-Tal contratou pessoal do Grupo de Fibras Ópticas da Unicamp e assinou contrato de US$ 6 milhões com a Telebrás para produzir 2 mil quilômetros de fibra óptica. O primeiro lote de 500 quilômetros foi entregue em agosto de 1984.

"Na década de 1990, no entanto, eventos como o processo de abertura comercial, mudanças na política industrial e a globalização limitaram o projeto nacional de comunicações ópticas e a maior parte das empresas nacionais perdeu força de mercado", lembrou Ripper Filho, atual presidente da AsGA, empresa nacional de equipamentos de comunicações ópticas.

Atualmente, o CPqD continua transferindo tecnologia à indústria, não mais para a produção da fibra, mas para para a fabricação de equipamentos de comunicações ópticas por empresas nacionais como AsGA, Padtec e Digitel.

"O problema é que as principais concorrentes dessas empresas são oriundas da China, dos Estados Unidos e da Europa, que faturam, em média, 20 vezes mais", disse o presidente do CPqD, Helio Machado Graciosa, também presente no evento em Campinas.

Para ele, como o Brasil ainda domina a tecnologia de fabricação e transmissão de dados por fibras ópticas, o maior desafio na área para os próximos anos é fomentar a criação de uma grande indústria brasileira "que tenha poder comercial e logístico no mercado internacional".

"A definição de sucesso em comunicações ópticas é ter as tecnologias nacionais aplicadas no mercado. E isso hoje deve ser perseguido pela indústria, pois a capacitação tecnológica está instalada em várias universidades, indústrias e operadores de comunicação. A Unicamp não tem mais o monopólio tecnológico. A semente plantada há 30 anos frutificou", conclui Graciosa.  


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