Falta audácia em pacote para indústria, dizem associações

A primeira reação de representantes de entidades empresariais às medidas que visam aumentar a competitividade do setor industrial é de que falta audácia ao governo no enfrentamento de pontos considerados essenciais. Batizado de Política do Desenvolvimento da Competitividade (PDC), o conjunto de medidas, apresentado por três ministérios à presidente Dilma Rousseff, não se propõe a atacar o câmbio valorizado, os preços elevados de insumos (tarifas de energia elétrica e gás, entre outros), os juros altos para capital de giro e a elevada carga tributária - pontos tido como fundamentais pelos empresários, de acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, e o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso.

Tanto Barbato quanto Velloso elogiam a iniciativa do governo de colocar em estudo um conjunto de medidas que visam elevar a competitividade da indústria. Mas, além de não atacar os pontos essenciais para a indústria, o problema, de acordo com o presidente da Abinee, é o estudo ter sido iniciado tardiamente, chegando no momento em que o processo de desindustrialização está em estágio avançado.

As medidas para dar maior competitividade à indústria foram apresentadas terça-feira à presidente Dilma Rousseff pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. Entre as iniciativas da PDC, deverão constar estímulos para associações de empresas estrangeiras com grupos nacionais para instalação de plantas de produção no Brasil e imediata devolução de PIS e Cofins pagos pela indústria na compra de máquinas (hoje o prazo é de 12 meses).

"O problema da desindustrialização é mais grave do que as autoridades querem enxergar. O governo continua sem audácia", queixa-se Barbato. "Para mim, a indústria de manufatura deixou de ser prioridade no Brasil. Eu não estou animado com a Política de Desenvolvimento da Competitividade que será lançada no decorrer dos próximos dias. Acho que é um elenco de medidas bem intencionadas, mas o governo poderia fazer muito mais se tivesse um pouco mais de ousadia. O governo está tentando ajudar quem tem saúde. Quem não tem saúde vai quebrar."

A avaliação de Barbato é de que as medidas em estudo deveriam contemplar mecanismos que compensassem os impactos do câmbio valorizado sobre a atividade industrial, bem como reduzir os custos de insumos, os encargos sobre folha de pagamento e a carga tributária. "Hoje é mais caro produzir aqui no Brasil do que nos Estados Unidos", diz Barbato, que na semana passada fez parte de um grupo de representantes da indústria que se reuniu com o ministro Fernando Pimentel para discutir a formulação dessas medidas.

"O governo tem medo de reduzir a carga tributária e perder arrecadação", afirma Barbato, acrescentando que existem algumas questões que necessitam de uma intervenção muito mais imediata do governo. "Por exemplo, o governo deveria ter mais coragem de desonerar determinados bens, apostando que o aumento das vendas faria com ele pudesse arrecadar mais", afirma.

Velloso, da Abimaq, avalia como positivo o conjunto de medidas em estudo no governo, mas diz que a proposta de desoneração tributária - considerada a medida mais delicada entre as que compõem o pacote - não seria a medida fundamental para a indústria. Segundo ele, preocupa mais a elevada taxa Selic e os juros cobrados para empréstimos de capital de giro, além dos altos preços dos insumos e, sobretudo, a taxa de câmbio. São essas as questões fundamentais, de acordo com ele, que colocam a indústria brasileira em desvantagem frente à concorrência americana, europeia e asiática.

"As medidas do PDC são boas, mas não têm capacidade para compensar a competitividade que o custo Brasil tira da indústria", afirma Velloso. Num cálculo que faz com base em dez variáveis, a Abimaq conclui que o custo País tira 45% da competitividade do setor industrial. Se comparar com a indústria de máquinas e equipamentos na Europa, a diferença, de acordo com o vice-presidente da Abimaq, é de 43%. Segundo o estudo, os preços dos insumos no Brasil retiram 9% da competitividade da indústria como um todo, enquanto a carga tributária representa mais 5% e o câmbio, sozinho, compromete 25% da capacidade produtiva. "O câmbio ideal para chegarmos à neutralidade, não ganhar nem perder, seria de dois por um. Ou seja, um câmbio em que um dólar custasse R$ 2", afirma Velloso.

Outro ponto com o qual os dois executivos não concordam no PDC é a contrapartida imposta pelo governo à indústria, que é a inovação do parque industrial como condição para que as empresas tenham acesso aos benefícios oferecidos. Na opinião de Barbato, da Abinee, para uma parte significativa da indústria, os benefícios teriam de vir antes. Para ele, esta parcela da indústria já não tem mais condição de investir em máquinas dado o avançado processo de deterioração. "Ninguém compra máquinas e equipamentos para mostrar para os outros. Compra porque precisa. Quem não compra é porque não tem condições", diz Barbato.


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