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O consumo aparente de máquinas e equipamentos foi 9,3% maior nos primeiros quatro meses de 2011, na comparação com igual período do ano passado. O avanço da produção nacional (descontada a exportação) e da importação no setor deve atingir 10% no primeiro semestre deste ano na comparação com igual período de 2010, nos cálculos do Itaú Unibanco, e, embora ainda sustente um ritmo forte de crescimento, é o menor em seis anos, excetuando o tombo verificado no primeiro semestre de 2009, quando a atividade sofreu os efeitos da crise mundial. A absorção doméstica de bens de capital é, também, cada vez mais sustentada pelo ingresso de máquinas e equipamentos importados, que já representam pouco mais de 30% do total consumido no Brasil. O ritmo menos intenso aponta para uma menor expansão da capacidade instalada da indústria no curto prazo.
Com exceção da crise de 2009, desde o período entre janeiro e junho de 2006, quando o consumo aparente de bens de capital cresceu 10,3% em comparação com igual período do ano anterior, o avanço da absorção doméstica na comparação anual dos primeiros semestres foi sempre muito superior - 16,9% em 2007, 19,6% em 2008 e 32,7% em 2010, quando a comparação se deu com a queda de 18,7% do início de 2009.
O ritmo de 2011, no entanto, não é lento, diz Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, e autor dos cálculos, a pedido do Valor. Segundo Bicalho, o tombo de 2,9% entre março e abril, feito o ajuste sazonal, na produção de máquinas e equipamentos anunciado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) há duas semanas foi contagiado pelo forte recuo nas exportações do setor. De acordo com as estimativas do banco, os fabricantes de máquinas e equipamentos embarcaram ao exterior 5,7% menos entre março e abril, feito o ajuste sazonal. "O mergulho das exportações foi o que explicou a produção menor em abril. Ainda assim, a importação do setor foi 1,7% maior, feito o ajuste sazonal, o que demonstra que a demanda continua aquecida", diz Bicalho.
O equilíbrio entre importação e produção nacional varia entre os setores. Enquanto os fabricantes de máquinas e equipamentos para o setor de construção civil produziram 21% mais entre janeiro e abril deste ano, frente a igual período de 2010, os produtores de bens de capital para fins industriais aumentaram apenas 1,9%, em igual comparação. "A produção nacional para construção civil e transportes é muito forte, já para a indústria e para o setor agrícola há maior substituição por equipamentos importados", diz Bicalho. Na indústria, avalia, há como agravante o recente aumento da capacidade ociosa. "Se o industrial quiser aumentar a produção não precisa adquirir novas máquinas, basta reduzir a ociosidade", afirma.
No setor agrícola, a produção de bens de capital como tratores e caminhões foi 5,2% menor nos primeiros quatro meses do ano na comparação com mesmo período de 2010, mas a produção de partes e peças para maquinário agrícola cresceu 14% na mesma comparação. Entre os fabricantes de bens de capital para o setor de transporte, a produção foi 12,1% maior, no período. "Para grandes empreendimentos ou colheitas, o empresário pesquisa muito preço, e muitas vezes não há equivalente nacional, então o importado não tira mercado do produtor nacional", avalia Bicalho.
Para Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados e professor da Unicamp, o ciclo de investimentos na economia está cada vez mais concentrado em grandes obras públicas, diferente do período entre 2005 e 2008, quando, segundo ele, a atividade voltou a se acelerar pela primeira vez em 25 anos de maneira sustentável. Agora, diz Pereira, "falamos de hidrelétricas, estádios, aeroportos, estradas, portos", onde as licitações incluem atores internacionais.
"Com a crise mundial, fabricantes de países ricos como Itália, Alemanha e Japão estão sem demanda para suas máquinas e equipamentos, e acabam dando grandes descontos de preços para seus produtos", avalia Pereira, para quem a valorização cambial acaba "impulsionando ainda mais" o produto importado.
De acordo com Pereira, a elevação dos juros básicos, por parte do Banco Central (BC), deve reduzir o ímpeto dos investimentos a partir do segundo semestre. Entre janeiro e junho, o BC elevou a Selic, atualmente em 12,5% ao ano, em 1,5 ponto percentual, e acena ao mercado que deve elevar ao menos mais uma vez. "Isto é muito ruim para o investimento", diz Pereira, "porque direciona o empresário que quer adquirir bens de capital para o BNDES, mas este também passa por um ano de menos concessões".
Entre janeiro e março, os fabricantes de máquinas e equipamentos fizeram consultas de financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) equivalentes a R$ 396,4 milhões - nos últimos seis anos, esse valor só foi superado pelos R$ 621,4 milhões de 2008.
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