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Amanhã, início da folia para muitos, será dia de trabalho para cerca de 6 mil operários da Fiat. Eles não são os únicos. Na Dayco, fabricante de autopeças, haverá produção amanhã e também na segunda e terça-feira. Na Bahia, terra do Carnaval, os empregados da Ford conseguiram folga agora em troca de trabalho no feriado de Finados. De uma forma ou de outra, o atual ritmo da produção na indústria automotiva só permite sambar na linha de montagem. O desempenho dos últimos dias e projeções para os próximos mostram como esse setor conseguiu, até agora, driblar as medidas de contenção de consumo.
Os volumes recordes de produção e vendas do primeiro bimestre são o principal motivo da decisão da direção da Dayco de trabalhar não apenas no Carnaval, como também em todos os feriados e finais de semana deste trimestre. A empresa americana acaba de inaugurar suas duas primeiras fábricas no Brasil. Além da demanda interna, explica o diretor superintendente, Ronaldo Teffeha, a empresa está exportando para outras unidades do grupo. "Não podemos parar", diz.
O ritmo de produção em fevereiro - com 15,4 mil veículos, em média, por dia - ficou 23% acima da média diária de janeiro e mais de 10% acima da marca do mesmo mês do ano passado.
É por isso, que as montadoras não querem perder nem um dia de produção. Na Volkswagen, os empregados de São Bernardo do Campo trabalharam no sábado passado para compensar a próxima segunda-feira. Mas haverá produção na fábrica de automóveis de Taubaté e na de motores, em São Carlos. Os fornecedores autopeças têm que seguir o ritmo dos clientes. Onde não houver compensação é preciso trabalhar.
Na TRW, a folga depende do cliente. "Algumas linhas trabalharão durante o Carnaval, outras não", afirma o diretor Wilson Rocha. Na principal fábrica da Bosch, em Campinas (SP), o expediente da segunda foi transferido para 7 de Setembro. Mas a unidade de freios, também em Campinas, e a fábrica de Curitiba vão funcionar segunda e terça-feira. O ritmo intenso já anima os sindicatos. O dos metalúrgicos de Camaçari promete paralisar a Ford "em algum dia depois do Carnaval" para convencer a empresa a fixar um plano de cargos e salários.
A demanda interna continua sendo o principal impulso dessa indústria, que se prepara para crescer novamente este ano, depois de ver o mercado interno dobrar de tamanho nos últimos sete anos. Cada parte envolvida nesse enredo assume um papel para driblar as medidas de contenção do consumo.
Os fabricantes de veículos parecem ter sempre pronto um tipo de subsídio a cada intervenção do Banco Central nas taxas de juros. Na quarta-feira, dia em que a Selic foi elevada para 11,75% ao ano, o Banco Volkswagen estendeu para o modelo Gol a promoção da taxa de 0,99% ao mês que já vinha oferecendo no Fox.
Outra explicação para o mercado ainda não ter dado sinais de enfraquecimento é a ampliação da base dos consumidores que sentiram o gosto do carro zero quilômetro. O vice-presidente da General Motors, Marcos Munhoz, lembra que o país registra ciclos de forte demanda há quatro anos. Assim, quem entrou nesse mercado desde então tem um seminovo para dar como entrada no zero. Isso ajuda num momento em que o governo inibe financiamentos sem entrada. "Quem compra um carro novo não consegue voltar para o usado", diz.
A enfermeira Liliane Cristina Carvalheiro já sentiu essa sensação. Faz apenas dois anos que ela comprou o seu primeiro carro novo, um Gol básico, financiado em 36 meses. Mas o desejo de aliviar o sofrimento diário de enfrentar trânsito pesado ao longo de quase todo o trajeto de 31 quilômetros até o trabalho a levaram a almejar um carro igual com ar-condicionado e direção hidráulica.
Entrou, então, em cena, o vendedor, outro personagem que tem atuado com destreza nesses tempos de crédito farto, apesar da alta de juros. Kleber Cavalcanti, um vendedor experiente da Amazon, concessionária de São Paulo, conseguiu, após um test drive, convencer Liliane a dar um passo adiante e comprar um veículo de categoria melhor, um Fox. E garantiu que não ia pesar. Num exercício em torno de diversas formas de financiamento, ele conseguiu oferecer a Liliane o carro dos sonhos sem muito custo adicional.
A prestação do financiamento do antigo carro - R$ 613,75 - subiu para R$ 675,00. O que pode parecer um passe de mágica é, na verdade, o ofício que os vendedores assumem hoje. "Basta saber buscar o melhor plano; no caso dessa cliente a taxa que encontramos foi menor do que a que ela pagava no plano feito há dois anos", explica o gerente de vendas Marcos Leite.
A favor do consumidor entra também a guerra entre as marcas. Para o diretor de assuntos institucionais da Ford, Rogelio Golfarb, parte do crescimento do mercado se sustentou em reduções de preços que surgem em razão do aumento da concorrência. "Em 2000 o Brasil tinha 15 marcas e 191 modelos e versões de automóveis; hoje são 43 marcas com uma variedade que chega a 900 carros", destaca.
As promoções, segundo o gerente de vendas da Citroën, Rodrigo Hernandez, refletem muito mais a concorrência entre as marcas do que uma reação às medidas de contenção. "O consumidor continua seguro; mas nós lançamos as ofertas do mês de acordo com a necessidade de colocar determinado modelo no mercado", destaca.
"Antes de comprar o meu primeiro carro novo eu nunca havia entrado em financiamento; tinha medo", diz Liliane, de 32 anos. Ela agora já pensa em financiar uma casa. E se para os operários que produzem os carros, esse Carnaval será de trabalho, para a enfermeira os próximos dias serão de descanso e de passeio com o carro novo.
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