Notícias
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados na semana passada pelo Ministério do Trabalho, houve de janeiro a setembro deste ano um recorde – mais um – no total de contratações com carteira assinada no Brasil. O saldo positivo foi de 2,2 milhões no período. Conversei hoje com o economista Mansueto de Almeida, pesquisador do Ipea, e ele chamou a atenção para outro recorde do período: o do pagamento de seguro-desemprego. Foram liberados até 30 de setembro quase 15,9 bilhões de reais para ajudar desempregados. A expectativa é que ambos – contratação com carteira assinada e pagamento de seguro-desemprego – ampliem seus recordes até o final do ano.
Não se tem informação de que algo parecido ocorra em outros países. Comum é ver justamente o inverso: mais trabalho leva a um número menor de desocupados e, consequentemente, a uma redução no pagamento do auxílio-desemprego. Mansueto lembrou que esse descompasso, em parte, explica porque um item da contabilidade do governo, a conta de Outros Benefícios de Natureza Social, não para de aumentar, apesar de o país viver um período de crescimento econômico e apresentar uma das menores taxas de desemprego da história.
Indo além das contas públicas, o mais interessante é buscar entender a natureza social do estranho fenômeno. No Brasil, a maioria dos trabalhadores com carteira assinada ganha pouco mais de 2 salários mínimos e não tem plano de carreira. Nos momentos de aperto econômico, quando falta trabalho, o instinto de sobrevivência manda se agarrar a qualquer coisa. Mas quando há oferta de vagas em abundância – como ocorre neste momento –, prevalece o senso comum de ganhar o máximo no menor tempo possível.
O esquema é o seguinte: o empregado pede para ser demitido ou cria uma situação para ser demitido, leva os benefícios previstos em lei, como o fundo de garantia, entra com pedido de seguro-desemprego e passa a fazer bicos. Quando o prazo para o pagamento do seguro expira, volta a procurar emprego. Com essa manobra, muita gente junta dinheiro para comprar um eletroeletrônico, reformar a casa, dar entrada num carrinho usado.
Uma das razões desse comportamento é o baixo nível de escolaridade. Um número incontável de pesquisas estabelece uma relação entre nível educacional e renda individual. Se o brasileiro contasse com mais anos de estudo – e estudo de qualidade – a realidade das pessoas e das contas públicas poderia de ser diferente. O trabalhador médio seria mais qualificado, mais valorizado, mais bem pago e também teria ambição de construir uma carreira, sem precisar depender da esperteza para garantir algo mais que o pão de cada dia.
Gostou? Então compartilhe:
Faça seu login
Ainda não é cadastrado?
Cadastre-se como Pessoa física ou Empresa