A esta altura, ninguém mais duvida de que saímos da crise em posição privilegiada frente à concorrência mundial. De acordo com as previsões do FMI, o Brasil é o único Bric que deve crescer neste ano a uma taxa equivalente às registradas antes da crise – 4,7%, pelas contas conservadoras do fundo. China e Índia, é verdade, crescerão mais em termos absolutos. Mas em ritmo ainda inferior ao de 2007. O país vive uma situação incomparável, mas, paradoxalmente, corre o risco de ficar para trás justamente agora, na disputa com seus competidores diretos. Por questões estruturais, como a carga tributária peso-pesado e a legislação trabalhista onerosa, mas principalmente por um problema conjuntural decorrente do investimento insuficiente em inovação.
Em 2009, pela primeira vez desde 1978, o país exportou mais commodities que manufaturados. Isso significa que o esforço de três décadas para agregar valor à pauta de exportações, abrindo mercados para manufaturas made in Brazil, regrediu barbaramente. Como o preço das matérias-primas voltou a subir forte nos primeiros meses de 2010, a questão parece irrelevante. Mas os preços das commodities são historicamente voláteis, e o atual ciclo de alta não vai durar para sempre. Logo, o Brasil só sustentará o atual ritmo de crescimento dos países emergentes se encontrar um modo de reforçar a presença dos produtos industrializados na sua lista de exportações. Com o nível atual de investimentos em inovação, a tarefa é inexequível.
Em um estudo chamado “A Década Brasileira”, a consultoria alemã Roland Berger mostra que, em contraponto aos indicadores macroeconômicos invejáveis, o Brasil está perdendo a corrida dos gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Somados, os investimentos das empresas e do governo brasileiro em tecnologias para o lançamento de novos produtos e serviços ficam na casa dos 0,8% do PIB. É menos de um quarto do que se aplica no Japão, mas o que impressiona mesmo é a comparação com os outros Brics. China e Rússia estão à frente, com 1,42% e 1,08%, respectivamente. E a Índia vem logo atrás, com 0,69%.
No Brasil, não tem havido avanços nessa área. No início de abril, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, informou ao presidente Lula que o gasto exclusivamente privado com inovação tecnológica neste ano ficará abaixo do projetado em 2008. Nenhuma das quatro metas de política industrial fixadas há dois anos será cumprida. Uma delas era, justamente, a elevação do investimento das empresas em pesquisa e desenvolvimento para 0,65% do PIB – ante 0,51% em 2008. Pelas contas do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), para que isso acontecesse seria preciso que o incentivo governamental à inovação subisse de 0,07% para 0,09% do PIB, um aumento de 30%. E isso não vai acontecer.
A comparação com outros gigantes emergentes pode parecer artificial, consideradas as diferenças nos modelos de desenvolvimento de cada país. Mas ela é necessária, já que existe uma forte correlação entre (pouca) inovação e (baixo) valor agregado dos produtos exportados. Esta é uma vulnerabilidade preocupante do Brasil, já que uma pauta de exportações concentrada em matérias-primas torna as receitas externas demasiadamente sensíveis ao preço de mercado das commodities. Conclui o relatório da Roland Berger: “O Brasil tem de investir em inovação para desenvolver posição sustentável como uma economia em posição de liderança mundial”.
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