Mais montadoras, menos reajustes

Crescimento no número de fabricantes de carros no país eleva a competição e inibe aumentos de preços, que têm ficado abaixo da inflação

Imagem: Divulgação

A indústria automobilística se vê acuada pela pressão de aumento de custos que enfrenta com o fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o aumento do aço e a retirada gradual de um desconto de 40% no tributo da importação de autopeças. Mas repassar os custos ao consumidor, como fazia no passado, quando era tachada de oligopólio, já não é tão fácil.

Mesmo num mercado comprador, que deve ser recorde este ano, a disputa agressiva entre as mais de 40 marcas que atuam no Brasil, entre fabricantes e importadores, inibe aumentos.

Há uma década, as montadoras não conseguem acompanhar a inflação. No período, enquanto o IPCA ficou em 87%, o valor médio do carro novo subiu 20%, conclui pesquisa da Quest Investimentos. Um automóvel de R$ 25 mil em 2000 hoje custaria R$ 30 mil. Se tivesse acompanhado a inflação, iria a R$ 46,8 mil.

A situação não se altera muito se analisarmos o período em que a indústria ultrapassou a marca de vendas anuais de 2 milhões de veículos, em 2007. De janeiro daquele ano até o mês passado, o preço médio dos automóveis subiu 3,54% ante uma inflação medida pela Fipe de 18,1%. Nesse período ocorreram mudanças em vários modelos, que foram reestilizados ou renovados. Ainda assim, há casos até de redução de preços (ver quadro).

Nos últimos anos, o setor teve ganho de escala e produtividade. Ao passar de um patamar de vendas de 2 milhões de veículos em 2007 para mais de 3 milhões no ano passado, a indústria contabilizou crescimento de 50%. "Sem dúvida ganhamos na otimização da produção e dos equipamentos", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini.

Na avaliação do sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros, a importação é um dos principais fatores que inibem reajustes num mercado tão aquecido. Além do real valorizado ante o dólar, há excesso de produção em vários países que oferecem preços competitivos para desovar estoques.

"Se as montadoras aumentassem muito o preço dos carros populares, por exemplo, ele ficaria próximo ao de modelos importados", diz Barros. O produto nacional perderia mercado.

Competição. Belini, que também preside a Fiat, reconhece que a concorrência inibe reajustes. Ele lembra que, há 20 anos, o Brasil abrigava cinco fabricantes de automóveis. Hoje, são 14, e novas empresas estão chegando, entre elas as chinesas. "Tínhamos naquela época 25 modelos à venda e agora temos mais de 500."

As quatro maiores montadoras (Fiat, Volks, GM e Ford) tinham 84,6% do mercado brasileiro em 2000, participação que caiu para 75%. As fabricantes que chegaram a partir de 1997, entre elas Honda e Peugeot, ampliaram sua fatia no bolo de 11% para 24,3%. O restante fica com os importadores sem fábricas. A guerra para conquistar cada novo ponto, ou não perder os já conquistados, é grande. Pelo menos 16 lançamentos estão anunciados para os próximos meses.

Belini ressalta que dificilmente as empresas vão absorver todo o aumento de custo que terão a partir deste mês, mas admite que, a exemplo dos últimos anos, os reajustes não vão repor a inflação.

O economista Ayrton Fontes, da consultoria de varejo MSantos, lembra que a pressão de custo chega num momento em que o mercado está em queda. Depois do recorde mensal em março, com 353,7 mil unidades, as vendas caíram para 277,8 mil em abril. Neste mês, contabiliza queda de quase 30%, com 94 mil veículos até quinta-feira.

Para melhorar o desempenho, Volks e GM fazem feirões neste fim de semana. "A queda nas vendas era esperada, mas nem tanto", diz Fontes, para quem houve uma bolha de consumo.

Belini iniciou o mês com expectativa de vendas iguais ou pouco abaixo de abril. Agora, prefere apenas dizer que continua "vendo com bons olhos o resultado para o ano, que deve ser 7% a 8% melhor que 2009", quando foram vendidos 3,1 milhões de veículos. As vendas acumuladas até a quinta-feira superam em 17% as de igual período de 2009, com 1,16 milhão de unidades.

Muitos consumidores ainda acham o carro nacional caro, especialmente se comparado a outros países. As empresas dizem que boa parte do preço é tributo.


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