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Nem Copenhague, nem a Rodada Doha, nem a reforma no Conselho de Segurança, nem um novo acordo sobre desarmamento. A década termina com todas as grandes negociações multilaterais em um impasse e com a diplomacia mundial se questionando como dar soluções a problemas globais e ao mesmo tempo preservar interesses nacionais.
Em todos os processos negociadores, o que está em jogo é praticamente a mesma coisa: uma nova posição dos países emergentes, o reconhecimento de que a arquitetura mundial mudou e, claro, a solução de um problema global.
A negociação sobre o clima, que fracassou em 18 de dezembro, foi a última de uma série de fiascos no diálogo entre nações.
Para o Wall Street Journal, o entendimento obtido na capital dinamarquesa foi uma "carta morta".
Na Europa e em outras partes do mundo, a preocupação não é apenas com o clima, mas com a credibilidade das negociações multilaterais e da Organização das Nações Unidas (ONU) como centro de decisões.
Para Alden Meyer, da entidade americana Union of Concerned Scientists, o fracasso de Copenhague mostra "a fragilidade do sistema multilateral". Na ONU, diplomatas e a cúpula da entidade está ciente dos obstáculos. Mas a avaliação é de que não há outra solução democrática, garantindo que todos os países participem do projeto.
Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, observou em uma conversa com o Estado dois meses antes de Copenhague que o desafio da reunião não era apenas climático, mas o de demonstrar que países podem chegar a soluções de forma conjunta e pôr de lado interesses nacionais.
Mas o clima não é o único problema. Há quase dez anos, os mesmos governos negociam um acordo para reequilibrar o comércio mundial, abrindo novas oportunidades para países emergentes e reduzindo as distorções criadas pelas economias ricas. A Rodada Doha, lançada em 2001, está em um estado de paralisia.
Para o ex-ministro do Comércio do Canadá e ex-presidente do Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Sérgio Marchi, se a Rodada não for concluída em 2010, ela deve ser definitivamente abandonada. "Não faz sentido continuar negociando algo que por dez anos já não funcionou."
Assim como nas negociações climáticas, os países ricos querem compromissos dos emergentes em troca de um acordo.
No setor de desarmamento, o processo negociador da ONU está parado também há dez anos. Governos não se entendem nem mesmo em relação a um agenda de trabalho, enquanto países mantêm em Genebra missões inteiras para o diálogo sobre o desarmamento. De um lado, governos sem a tecnologia nuclear querem um reequilíbrio da distribuição de poder no mundo, com a redução de arsenais. Já aqueles que têm a bomba atômica resistem em abrir mão de seu poder, pelo menos enquanto não haja um entendimento global.
Mesmo Obama, que propôs um mundo sem armas atômicas em maio, deixou claro que os americanos não começariam a reduzir seus arsenais enquanto outros não fizessem o mesmo, e de forma convincente.
Na ONU, outro impasse de mais de uma década é a reforma do Conselho de Segurança, instância máxima da entidade. Para todos está claro que o atual modelo de cinco países com o poder de veto (Rússia, China, Estados Unidos, França e Reino Unido) não atende mais às necessidades globais. Mas ninguém se entende sobre como deva ser uma reforma.
Brasil, Índia, Japão e Alemanha são alguns dos candidatos. Mas enfrentam resistências tão grandes como os apoios que existem para a reforma da entidade.
Resistência
Em todos os fóruns de debates, a marca comum é a resistência dos países que desfrutam de benefícios do status quo em não querer perder seu poder. Ao mesmo tempo, a emergência de novos polos de crescimento obriga um novo reconhecimento da realidade internacional.
Se potências tradicionais hesitam em admitir uma transição a uma nova arquitetura, os novos polos de atração de investimentos e de crescimento querem garantias de que vão poder crescer sem obstáculos, mesmo que os tempos sejam outros. O impasse, portanto, é o que vem caracterizando esse enfrentamento por enquanto.
Há menos de um mês, o chanceler Celso Amorim estima que 2009 será o ano em que as "placas tectônicas" começaram a se ajustar, em uma referência ao reconhecimento de que os emergentes precisam fazer parte dos processos de decisão no mundo.
Isso ficou claro com a decisão do G-20 (Grupo dos 20 países mais industrializados) de tomar para si a tarefa de reformar o sistema financeiro mundial como forma de salvar a economia internacional de sua pior crise em 70 anos. De quebra, a decisão foi uma declaração de que o G-7 (grupo dos sete países mais ricos)passava a ser um processo que já não dava respostas aos problemas.
Mas nem nesse caso a situação é clara. Ao Estado, negociadores argentinos acusaram os países ricos de tentar repetir o comportamento do G-7 dentro do G-20. Isso ocorreria pelo estabelecimento de agendas que favorecem seus interesses ou mudando a ordem das presidências de sub-grupos de trabalho. Para membros na ONU, se a década de 90 foi marcada pela tentativa de soluções globais, a década que termina será lembrada pela percepção de que essas soluções não são tão simples.
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