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Fotos: Divulgação
Praticamente inexplorado em escala comercial, o potencial brasileiro de geração de energia elétrica a partir da radiação solar começa a atrair investidores externos. A Solaria Energía y Medio Ambiente, empresa espanhola que projeta, fabrica, instala e opera unidades de geração fotovoltaica, fechou com a Fairway Logística e Transportes, empresa brasileira de soluções logísticas, acordo para criação de uma controlada no Brasil.
Ainda sem nome definido, a espanhola terá 55% do capital da nova empresa, enquanto o sócio local fica com os outros 45%. Num primeiro momento, a parceria visa à instalação de usinas de geração a partir de placas e equipamentos importados da Espanha. A médio prazo, o plano é mais ambicioso. Na medida em que a clientela crescer e a demanda por essa energia alternativa aumentar, uma indústria de montagem de placas solares será instalada no país, antecipou o presidente da Solaria, Enrico Diaz-Tejeiro Gutierrez.
Além de fabricar equipamentos para suas usinas brasileiras dentro do próprio país, a futura unidade industrial produzirá placas para exportação, informou o empresário. Segundo ele, diante das boas perspectivas de crescimento da economia e da confiança na manutenção dos fundamentos macroeconômicos que darão sustentabilidade a tal processo, a Solaria escolheu o Brasil como base industrial de suas futuras exportações para o resto do continente americano. "Queremos fabricar no Brasil equipamentos para instalação de unidades de geração fotovoltaica na Argentina, no Uruguai, no Paraguai..", exemplificou.
A fabricação de placas no país não tem data certa para começar. Segundo Gutierrez, a fábrica será montada quando a demanda por unidades de geração de energia solar atingir pelo menos 100 MW por ano, o que ele acha que não vai demorar, diante da necessidade brasileira de garantir energia para seu crescimento.
Responsável pela implementação do plano no país, Saturnino da Silva, o sócio brasileiro, diz que não pode, ainda, informar quem são os potenciais compradores da energia a ser gerada nesse primeiro momento. Mas diz que vários já foram "identificados e contatados". Conforme o empresário, em tese, a coligada brasileira da Solaria poderá montar unidades de geração tanto para atender a sistemas isolados quanto para vender através do sistema interligado, ou seja, jogando energia na rede de transmissão do Operador Nacional do Sistema (ONS).
A empresa poderá usar o sistema interligado tanto para vender energia livre, isto é, destinada a atender contratos diretos com grandes consumidores, quanto para vender às distribuidoras (nesse caso, é preciso antes entrar nos leilões).
A ideia, no entanto, é começar atuando com sistemas isolados, gerando energia em áreas onde, por restrições geográficas ou ambientais, é difícil a chegada de grandes linhas de transmissão, a exemplo da região amazônica. Nesses lugares, a energia elétrica solar tende a ser mais competitiva, porque pode ser gerada no local ou muito próxima do local do consumo, não exigindo, portanto, construção de linhas de transmissão de grandes distâncias.
As termelétricas também são compatíveis com sistemas isolados. Mas, para funcionar, exigem algum tipo de combustível, fóssil ou renovável. As pequenas centrais hidrelétricas, por sua vez, dependem de recursos hídricos. Já uma unidade de geração fotovoltaica, além da radiação solar e dos equipamentos, precisa apenas terreno de tamanho compatível com a potência pretendida. Segundo Cesar da Silva, engenheiro da Fairway, para cada megawatt de potência instalada, são necessários no máximo 2 hectares, dependendo do caso, 1,5 hectar apenas.
O tipo de cliente brasileiro inicialmente visado pela Solaria/FairWay é o consumidor livre de energia. A futura nova empresa poderá montar e operar uma usina exclusiva tanto para uma grande indústria quanto para um pequeno shopping. "Até para um condomínio residencial de cinco casas vale a pena montar uma unidade de geração solar", diz ele.
O empresário explica que o avanço da tecnologia e a entrada de novos fabricantes no mercado mundial de purificação de silício, matéria prima das células usadas nas placas que transformam luz solar em eletricidade, reduziu a menos da metade o custo desse tipo de energia desde 2007, tornando-a viável economicamente. Ainda assim, ele diz que, pelo menos no início, para que o segmento se desenvolva bem no Brasil, são necessários estímulos. É preciso, por exemplo, tornar claro que a energia solar está entre aquelas sujeitas à redução da taxa de transmissão em caso de uso do sistema interligado. Uma resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permite que energia de fontes alternativas tenha desconto entre 50% e 100% da taxa de transmissão, na venda de até 30 MW.
O uso de energia solar, sobretudo residencial, já é relativamente difundido no Brasil, mas só para aquecimento de água. Praticamente inexiste aproveitamento de radiação solar para geração de energia elétrica. Segundo a Aneel, o país tem, atualmente, uma única unidade de energia elétrica solar em operação. É a Usina de Araras, de propriedade da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária, localizada em Nova Mamoré (RO). Ainda conforme a agência, a potência outorgada para esse empreendimento é de apenas 20,48 KW. A autarquia informa que chegou a autorizar a instalação de 5 MW para um empreendimento da empresa MPX Tauá Energia Solar, em Tauá, no Ceará. Mas esta usina consta na lista de obras ainda não realizadas.
Dados da Aneel indicam que a potência de todos os empreendimentos de geração atualmente em operação no Brasil soma 106,098 mil MW. Em relação a esse universo, os 160 MW previstos até 2012 no contrato entre Solaria e Fairway equivalem a 0,15%. Mas como a energia solar hoje representa "traço" na composição da matriz energética brasileira, o percentual não pode ser considerado inexpressivo.
Além de normas mais claras, o presidente da Fairway defende a criação de linhas de crédito de longo prazo, de pelo menos 20 anos, para estimular essa fonte alternativa de geração. Segundo ele, na Europa, governos de países como Espanha e Alemanha têm dado inclusive subsídios para o desenvolvimento desse potencial energético.
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