ArcelorMittal acirra disputa nos aços planos


A competição entre as três siderúrgicas de aços laminados planos do Brasil – Usiminas, ArcelorMittal e Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) – cresce a cada ano e tende a ficar mais acirrada. Pelo menos se depender da ArcelorMittal, que tem uma plataforma de crescimento em curso para ocupar mais espaço. Com menos de dez anos de atuação nesse segmento – antes só fazia placas para exportação -, a ArcelorMittal Tubarão já detém um quinto do consumo total no país. Ao considerar somente a venda de produtos comuns às três fabricantes, sua fatia sobe para 27,6%, conforme dados do setor de 2008.

“Somos a única empresa que vai aumentar a oferta de laminados até 2012?, diz Benjamin Mário Baptista, presidente da ArcelorMittal Tubarão, que sucedeu a antiga CST, e principal executivo de aços planos do grupo na América do Sul. “Na venda direta de aço com tecnologia de galvanização a quente para montadoras, de preço mais competitivo, já temos 40% de participação. Os outros 60% são divididos entre Usiminas e CSN”, diz o executivo. A empresa vendeu no ano passado no mercado interno 2,5 milhões de toneladas de aços laminados.

O alvo principal da siderúrgica, com unidades de produção em Serra (ES) e São Francisco do Sul (SC), é a indústria automotiva. Esse mercado é tido como o filé mignon e sempre foi dominado pela Usiminas. Mas mira também construção civil (perfis, telhas, portas, divisórias, persianas, entre outros itens) e linha branca doméstica e comercial (geladeiras, máquinas de lavar, freezers). Nesses segmentos quer ampliar a fatia atual e entrar em novos nichos de aplicações. Esses três setores demandam mais de 60% de todo o aço consumido no país.

Nos últimos cinco anos, o mercado de laminados planos no país engordou de 10,5 milhões para 13,2 milhões de toneladas. A Usiminas apenas conseguiu manter seu volume de vendas, mas, percentualmente, sua fatia encolheu de 55% em 2004 para 46% no primeiro semestre deste ano, conforme dados de seu balanço. A CSN é líder absoluta em embalagens metálicas, como única fabricante de folhas estanhadas, e tem 41% do mercado de linha branca. Na construção civil, é dona de 30%, ante 38% da siderúrgica mineira. A penetração no automotivo é a menor das três, com 21%.

A estratégia da ArcelorMittal Tubarão na briga com as concorrentes locais e o material importado passa pela expansão de suas bases industrial e comercial. Para elevar a oferta, executa plano de investimento de R$ 500 milhões a ser concluído em 2010. Desse pacote, acaba de duplicar a capacidade de seu laminador de bobinas em Serra, de 2,8 milhões para 4 milhões de toneladas ao ano.

Ao mesmo tempo, instala uma nova linha de aço galvanizado (chapas revestidas com zinco para evitar corrosão) em São Francisco do Sul, na filial Veja. Essa linha, de 350 mil toneladas, será voltada para atender a demanda da construção civil e de fabricantes de linha branca. A unidade antiga, de 2004, com 500 mil toneladas, será dedicada às montadoras de automóveis (atualmente é 80%). Ao final da expansão, Vega ficará apta a fazer até 1,4 milhão de toneladas/ano, quase 50% a mais que hoje.

A nova linha ganhará equipamentos para adicionar mais acabamento ao aço, com ligas de alumínio e zinco e com pré-pintura. Com isso, entra em aplicações mais sofisticadas na construção e linha branca. Até agora, só a CSN faz esses produtos na suas instalações de Araucária (PR). São duas linhas, com capacidade superior a 200 mil toneladas. As importações passaram de 100 mil toneladas e as vendas totais de 330 mil toneladas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). “A demanda vai crescer nessa área e nós queremos estar presentes”, diz Baptista.

A Usiminas começa a erguer uma nova linha de aço galvanizado, de 550 mil toneladas, e vai ofertar mais 150 mil toneladas de laminado a quente na usina de Ipatinga. Terá também um moderno laminador na antiga Cosipa, em Cubatão (SP). Mas tudo isso só ficará pronto a partir de 2012. A CSN não tem nada previsto, além de uma usina de aços longos (vergalhões, perfis e barras), para 2011.

Na área comercial, assim como as concorrentes, a ArcelorMittal Tubarão tem plano de alargar ainda mais sua base de vendas, diretas e por meio de distribuidoras próprias. A estratégia envolveu aquisições de dois centros de serviços e distribuição em 2008 – a Manchester, em Contagem (MG), e a espanhola Gonvarri (50%), que tem unidades em Curitiba (PR) e Hortolândia (SP). Além disso, vinha investindo na expansão da rede Belgo (aços planos e longos), que já dispõe de mais de 70 unidades no país, num modelo similar ao da Gerdau Comercial.

Em setembro do ano passado, deu outro passo com a criação da ArcelorMittal Tubarão Comercial, que herdou filiais da Vega no Paraná, São Paulo, Minas e Bahia. São, na verdade, postos avançados de estocagem de aço, dentro de instalações de clientes que beneficiam e entregam as chapas de aço já cortadas às montadoras, dentre as quais Renault, Volks, Fiat, Peugeot e Ford. No caso da Renault, a Gonvarri/Gestamp entrega até material estampado.

A transferência de várias operações das montadoras e outros clientes a fornecedores é uma tendência crescente, explica o executivo. Com isso, as usinas, cada vez mais, passam a dominar canais da distribuição e unidades de centros de serviços (corte das chapas e bobinas e até estampagem de peças e componentes). Nesse caminho, a Usiminas unifica este ano as controladas Rio Negro, Fasal, Dufer e Zamprogna sob o mesmo guarda-chuva, passando a deter 23% desse mercado no primeiro trimestre, segundo o Inda, entidade dos distribuidores. A ArcelorMittal ficou com 16%, a CSN com 13% e Gerdau Comercial, por volta de 7% a 8%. Assim, nas mãos das quatro siderúrgicas estão quase 60% da vendas, o dobro de três aos atrás.

Segundo Baptista, essa atividade é importante para fazer o atendimento das duas maiores cadeias de consumo no país: construção e a automotiva. “Vamos continuar expandindo nesse negócio, com investimento direto e por meio de aquisições”, afirmou. Ele aponta que tem de estar preparado para aproveitar a expansão do mercado que virá. Menciona, por exemplo, a ampliação da fábrica da GM em Gravataí (RS), da Honda e Toyota, em São Paulo, e a vinda da Hyundai para Piracicaba (SP). “Nossa meta é crescer mais na área automotiva”.

No ano passado, a ArcelorMittal Tubarão produziu 6,2 milhões de toneladas de aço bruto e obteve receita líquida de R$ 9,5 bilhões, com vendas de 5,9 milhões de toneladas de produtos (placas e laminados). A exportação somou 3,4 milhões de toneladas, das quais cerca de 12% de material laminado.

A disputa pode ganhar novos ingredientes. A Gerdau, tradicionalmente focada na construção civil e indústria com seus vergalhões, perfis, arames e pregos, não é de hoje que já cresce os olhos sobre os mercados de aços planos. Já dispõe de uma base de distribuição e de centros de serviços desse tipo de aço em mais de 70 pontos no país, a Gerdau Comercial, dona de 8% do mercado, e tem na Açominas sua plataforma de produção. Hoje, já produz placas. O próximo passo são chapas grossas. O seguinte, a cadeia de aços laminados finos.

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