Deflação nos preços industriais chegou ao consumidor

Na conjuntura, serviços continuam a pressionar a inflação e impedem retração maior no IPCA.

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Os produtos industriais no atacado recuaram com força no primeiro semestre do ano, tombo que se estendeu ao varejo, como mostra a evolução das cotações dos bens de consumo duráveis. De janeiro a junho, bens industriais no atacado caíram 4,39%, segundo números do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), enquanto os duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) recuaram 2,8%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Esse resultado, porém, não tem sido suficiente para levar a uma queda mais forte da inflação ao consumidor, em grande parte devido ao comportamento das cotações de serviços, que subiram 4,3% no ano e 7,2% em 12 meses. A expectativa dos analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) é de que o IPCA de 2009 fique em 4,53%, um pouco acima do centro da meta de inflação, de 4,5%. Nos 12 meses até junho, o indicador acumula alta de 4,8%.

Ontem, o IGP-M de julho encerrou o mês com deflação de 0,43%, fazendo o indicador encerrar o período de 12 meses também no terreno negativo, com uma variação negativa de 0,67%, primeira vez desde maio de 2006. O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, diz que os preços de produtos industriais caíram por conta dos reflexos da crise, traduzidos no desaquecimento da economia e no recuo das commodities em relação às máximas atingidas no meio do ano passado, e também devido às desonerações tributárias promovidas pelo governo.

Deflação
O Índice de Preços no Atacado (IPA) industrial registrou deflação nos últimos sete meses, acumulando queda de 0,43% nos 12 meses até junho, a menor variação nessa base de comparação desde abril de 1950. As cotações de algumas matérias-primas recuaram com força, indicando o barateamento de insumos. O minério de ferro, por exemplo, caiu 12,91% no IGP-DI de junho. Com a elevada ociosidade na indústria, o panorama inflacionário no setor é dos mais tranquilos. No segundo trimestre, o índice de difusão, que mostra o percentual de itens em alta, ficou em 30%, percentual bem inferior aos mais de 50% do mesmo período de 2008, segundo cálculos da LCA.

As isenções fiscais também tiveram peso importante para a redução desses preços , destaca Romão, citando a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos e linha branca (como refrigeradores e máquinas de lavar roupa). A desoneração teve impacto tanto para as cotações no atacado quanto para o varejo.

Áreas

O grupo automóveis para passageiros recuou 8,4% de janeiro a junho no atacado, segundo o IGP-DI. No IPCA, os automóveis novos tiveram queda de 5,9% nesse período. Para o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, a diminuição do IPI teve mais importância para o recuo dos preços do que a própria desaceleração da economia. Os refrigeradores, que também tiveram o IPI cortado, acumulam baixa de 6,03% no ano, segundo o IPCA.

Os televisores, não beneficiados por redução de impostos, viram os preços caírem 2,8% no período. Os economistas do Bradesco destacam que a inflação dos produtos ligados à atividade da indústria caiu com força no Brasil, a exemplo do que ocorreu em outros países. Os preços industriais no atacado e os bens duráveis no varejo deixam isso bem claro, dizem os analistas do banco, que também enfatizam a importância da redução do IPI.

Romão nota que as cotações de bens duráveis recuaram em cinco dos seis primeiros meses do ano. Esses produtos são os principais responsáveis por puxar para baixo a inflação no varejo neste ano, ao lado do grupo alimentos e bebidas, segundo ele. Um ponto é que os bens duráveis têm peso relativamente limitado no IPCA, respondendo por 8,75% do indicador. Os preços de alimentos e bebidas, com peso de 22,7% no IPCA, subiram 2,64% no primeiro semestre, bem menos que os 8,64% dos primeiros seis meses de 2008.

Enquanto os bens duráveis e os produtos alimentícios colaboram para uma inflação mais tranquila em 2009, os serviços (como aluguéis, condomínio, mensalidade escolar cabeleireiro e conserto de automóveis) jogaram na direção oposta.

Serviços
A massa salarial ainda em alta e o fato de que a inflação passada influencia alguns itens, como aluguéis, mantêm o grupo pressionado, diz Romão. O rendimento real (descontada a inflação) ainda cresce a um ritmo de 3% em relação ao mesmo mês do ano anterior, como notam os economistas do Bradesco. Isso é fundamental para manter razoavelmente elevada a demanda por serviços.Com peso de 24,9% no IPCA, eles têm segurado a inflação em patamares mais altos. Esses preços reagem com mais defasagem à desaceleração da economia , explica Romão, que aposta numa perda de fôlego dos serviços nos próximos meses. Ele projeta uma alta de 6% para esse grupo em 2009, menos que os 7,2% acumulados nos 12 meses até junho.

No IPCA-15 de julho, os serviços mostraram uma desaceleração razoável: subiram 0,26%, menos que o 0,39% de junho e o 0,63% de maio.

Para o ano que vem, as perspectivas para esses preços são bem mais favoráveis, dizem os analistas.

Gomes Filho estima que os serviços vão subir 4,5% em 2010, depois de aumentar 6% neste ano. Ele ressalta que os IGPs devem fechar 2009 com uma pequena deflação, de 0,7%, o que indica um cenário benigno para a trajetória das cotações alguns serviços, como os aluguéis, que são corrigidos pelo IGP-M, e também para alguns preços administrados, uma vez que algumas tarifas públicas também levam em conta a variação desse indicador. Romão também acredita que a inflação de serviços vai ficar mais fraca no ano que vem, apostando em alta de 4,3%, menos que os 6% deste ano. Isso deverá ser importante para fazer o IPCA subir menos em 2010 - ele estima uma variação de 4,5% neste ano e de 4,1% no que vem.

Com esse comportamento mais favorável dos serviços e também dos preços administrados, a aceleração esperada para os bens duráveis não surtirá grande efeito sobre a inflação geral. Para Romão, depois de cair 2,9% em 2009, as cotações dos duráveis vão subir 1,9% em 2010.

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