Foto: Divulgação
Diretores da ZF do Brasil passaram os três turnos de ontem, em Sorocaba, informando 1.870 funcionários, que, devido à crise financeira que assola o setor automotivo, especificamente o segmento de produção da empresa - caminhões pesados e tratores agrícolas - vão ser obrigados a demitir 411 deles. Os desligamentos, que começam a partir da próxima segunda-feira, serão feitas seguindo um Plano de Demissão Voluntária (PDV).
Baseada nas projeções de mercado e nas solicitações de seus clientes, que planejavam produção ainda maior para 2009, o diretor de Marketing da ZF do Brasil, João Lopes, informou que, como outras empresas do setor automotivo, A ZF também preparou-se para volumes ainda maiores que os do ano passado, o que resultou em mais de 50% de capacidade ociosa desde o inicio do ano. Prevemos a recuperação do mercado de caminhões pesados só para 2011, disse.
Buscando minimizar o impacto dessa situação, a ZF do Brasil adotou diversas medidas desde dezembro passado, como a redução ao mínimo do programa de investimentos, que caiu em Sorocaba de R$ 117 milhões para R$ 86 milhões; um programa agressivo de redução de despesas de até 50% em todos os níveis; férias coletivas em duas ocasiões; redução de 236 postos de trabalho em fevereiro, acordo para compensação de horas de uma semana, PDV e redução de jornada e de salários entre os meses de abril e julho.
Essas medidas foram tomadas na expectativa de que ocorresse a recuperação do mercado até a metade do ano, fato que efetivamente não aconteceu. Os pedidos dos clientes para o segundo semestre mostram a manutenção da ociosidade da empresa em torno de 48%. Mesmo a produção projetada para o primeiro e segundo semestres de 2010 não prevê a recuperação dos volumes de 2008, ressaltou Lopes.
Convênio médico e bônus
Segundo o diretor de Marketing da empresa, o PDV oferecido aos 411 funcionários que serão demitidos prevê a manutenção do convênio médico por três meses, mais o pagamento de um bônus de R$ 5 mil, independente do tempo de casa. Temos 50% de ociosidade em termos de produção. Esclarecemos que essas medidas representam mais um esforço para reduzir o impacto social da prolongada queda de mercado, acrescentou Lopes.
A ZF do Brasil planeja ações complementares, como a internação de algumas atividades atualmente terceirizadas, para absorver o excesso de capacidade. mas estas ações por si não são suficientes. O mercado obriga-nos a fazer as demissões, concluiu o diretor de Marketing.
Duramente atingida pela crise financeira internacional, a produção brasileira de veículos comerciais e máquinas agrícolas de janeiro a junho encontra-se abaixo dos níveis do mesmo período de 2008, em especial a de caminhões pesados, que foi reduzida em cerca de 52%, e a de tratores acima de 90 cv que chegou a 65%. A queda de pedidos para a indústria de autopeças ocorreu em proporção ainda maior devido ao estoque de componentes das montadoras, acrescida da queda das exportações.
Sindicato contesta
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba, instituição ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), Ademilson Terto da Silva, contesta a forma como a ZF do Brasil está tratando dessas demissões. Para ele, enquanto outros setores estão recuperando mercado rapidamente, o setor de veículos pesados, como o de caminhões, atendido pela ZF do Brasil, ainda passa por dificuldades.
A demora desse segmento em superar a crise se deve, em nossa opinião, à dependência que cultivou do mercado externo. No entanto, novamente, a forma como a ZF do Brasil tomou as medidas que julgou necessárias foi um desrespeito aos trabalhadores e uma afronta ao sindicato. No início do ano ela já havia feito algo semelhante, quando, unilateralmente, decidiu reduzir os salários dos trabalhadores, mesmo sem ter acordo com o sindicato, salientou Silva.
Segundo o líder sindical, a redução salarial proposta pela empresa, no começo do ano, nada resolveu. Agora, no caso do PDV, a ZF do Brasil novamente se esquivou de negociar com o sindicato; preferiu o caminho da arbitrariedade. Consideramos insuficiente a indenização de R$ 5 mil e três meses de convênio médico, oferecidos aos funcionários em geral. A situação se agrava porque, pelo formato escolhido pela empresa, o trabalhador que aderir perde o direito ao seguro-desemprego, destacou Silva.
Indenização ultrajante
O sindicato tratou como ultrajante a indenização de R$ 15 mil oferecidos pela ZF do Brasil ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou doença ocupacional que aderir ao PDV. O trabalhador lesionado que se submeter ao plano, às vezes por necessidade imediata, corre o risco de se tornar dependente da previdência social por toda a vida, sendo que, pela Convenção Coletiva dos Metalúrgicos, ele teria direito a permanecer no emprego enquanto durassem as sequelas do acidente ou doença do trabalho, alertou o sindicalista.
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