Foto: Divulgação
No último 27 de abril, uma segunda-feira, ele completou 61 anos desde que nasceu em Agudos, cidade do interior paulista abençoada por ser faixa de passagem do Aquífero Guarani, um dos patrimônios da humanidade pelo mar de água doce que concentra no subsolo.
Se em Agudos e adjacências tira-se água abundante do subsolo para tudo, inclusive para a fabricação de cerveja de extrema qualidade, no cargo de vice-presidente mundial de manufatura da General Motors da América Latina, África e Oriente Médio, José Eugênio Pinheiro, tem tirado leite de pedra para tornar as fábricas mais competitivas.
Os frutos são palpáveis. As fábricas no Brasil – Gravataí, São Caetano e São José dos Campos – deram saltos de produtividade. “Ganhamos 37 carros por hora, o que em um ano representa 150 mil carros de capacidade. Ou seja, economizamos uma fábrica no valor de US$ 500 milhões sem praticamente investimentos e sem criar turnos adicionais”, reitera José Eugênio — o que ele mesmo já tinha dito com exclusividade à Gazeta Mercantil tempos atrás. Ele avança: “Nosso modelo deu tão certo que há vários brasileiros comandando áreas de manufatura em fábricas da GM no mundo.”
Há 40 anos trabalhando na GM, José Eugênio entende que a competitividade é fundamental para a sobrevivência das empresas e das regiões. A tendência é crescer em áreas de menor custo de manufatura. Mas, nascido no interior e criado na região do ABC, ele faz um vigoroso alerta. “Precisamos ter responsabilidade com o futuro e não condenar as fábricas mais antigas.”
Para isso, paralelamente ao essencial e contínuo esforço de aumento de produtividade, tem-se evoluído na discussão com sindicatos e trabalhadores na direção de novas grades salariais que coloquem as regiões mais tradicionais em pé de igualdade com as novas áreas em que as montadoras estão se instalando e que oferecem custos competitivos de mão-de-obra.
Gazeta Mercantil - Quanto cada fábrica da GM contribuiu para o ganho de produtividade que resultou em 150 mil carros?
José Eugênio - São Caetano e Gravataí, cada uma das fabricas com 40%, responderam por 80% do aumento de produtividade. Outros 20% ficaram por conta de São José dos Campos.
Gazeta Mercantil - Quer dizer que é possível ganhar competitividade e viabilizar fábricas tradicionais como São Caetano do Sul, no ABC paulista?
José Eugênio - A produção de veículos está se deslocando aceleradamente para regiões de menor custo. Basta ver os números. Em 1997 o estado de São Paulo produzia 70% dos veículos brasileiros e outros estados ficavam com 30%. Em 2008, São Paulo tinha 46,9%. Ou seja, 23,1% da produção foi realocada. Não podemos e não devemos condenar as regiões tradicionais. Quem é responsável tem que agir na direção de reduzir custos continuamente, aumentar a produtividade, eliminar desperdícios e ampliar parcerias com fornecedores nas áreas de produção e de serviços.
Gazeta Mercantil - As fábricas tradicionais ainda têm poucos sistemistas, aqueles parceiros que fornecem just in time componentes pré-montados. Por que?
José Eugênio - Efetivamente os sistemistas ainda são poucos, mas entendo que este momento de crise abre espaço para ampliarmos as parcerias com fornecedores.
Gazeta Mercantil - É possível ganhar mais produtividade?
José Eugênio - É. E como? Sendo intransigente com custos. Não é porque ganhamos 150 mil carros de produtividade que vamos parar. Queremos mais.
Gazeta Mercantil - Isso quer dizer que o ganho de produtividade na manufatura não tem limites?
José Eugênio - Costumo dizer que para ganhar produtividade é preciso reunir alguns fatores: oportunidade de crescimento, linha de produto adequada e ter fábricas flexíveis. Temos vários modelos que podem ser feitos em diversas unidades, caso do Corsa Classic, montado tanto em Rosário, na Argentina, como em São Caetano, no Brasil. Se o mercado quer Corsa Classic aciono as duas fábricas. Alem de flexibilidade, claro, é preciso ter um processo. Temos o nosso, o sistema global de manufatura, na sigla em inglês conhecido por GMS. Trata-se de um sistema que pode se replicado em todo mundo e envolve comprometimento das pessoas, melhoria contínua, menor tempo de execução, padronização e qualidade.
Gazeta Mercantil - Como se consegue o comprometimento das pessoas?
José Eugênio - É preciso que haja atitude das lideranças e muita coragem. E posso dizer que conseguimos esse comprometimento não só aqui, mas na área que comando, a região LAAM, que abrange América Latina, África e Oriente Médio onde temos um total de 22 fábricas e efetivo de 23 mil pessoas ligadas à manufatura.
Gazeta Mercantil - É sabido que o modelo da região LAAM deu tão certo na área de manufatura que até passou a ‘exportar’ profissionais para fábricas de outras regiões. Como é isso?
José Eugênio - Nossa escola efetivamente fez bons alunos, hoje espalhados na GM do mundo inteiro. Temos, por exemplo, brasileiros dirigindo manufatura na China, Alemanha, Estados Unidos, além de Venezuela e Argentina.
Gazeta Mercantil - Em que medida a crise financeira mundial (e da GM, em particular) atrapalhou essa corrida na busca de redução de custos de manufatura?
José Eugênio - Nos últimos seis meses foi muito difícil pensar em produtividade. Tínhamos um quadro de crescimento que foi interrompido. Fomos obrigados a fazer muitos ajustes. Mas, já estamos de novo empenhados em cortar custos de manufatura.
Gazeta Mercantil - Mas por que cortar em manufatura se é a menor fatia no custo de um carro?
José Eugênio - De fato. Quando se toma o custo de um carro, 85% são com matérias-primas, componentes, cabendo 15% à manufatura, que engloba mão-de-obra utilizada na montagem do carro mais insumos como energia, ar e água. Mas, respondendo à pergunta: é mais fácil cortar custos de manufatura.
Gazeta Mercantil - Qual o placar da redução de custo de manufatura na GM do Brasil?
José Eugênio - Não vou dar número absoluto para não abrir o jogo. Mas posso dizer que evoluímos muito. Em 2005 tínhamos um custo 100 de manufatura por carro. Chegamos ano passado com custo 80 e nossa meta em 2010 é baixar para um custo médio por carro em torno de 65. É uma grande evolução.
Gazeta Mercantil - De maneira geral, quais as vantagens e desvantagens que o Brasil leva no setor automotivo?
José Eugênio - Temos algumas vantagens. Uma delas é engenharia local com competência para desenvolvimento completo de veículos globais. Há boa disponibilidade de matéria prima e base sólida de fornecedores e de força de trabalho. As desvantagens: encargos sobre mão de obra que chegam a 85%, baixo poder aquisitivo da população e alto custo de capital, pouca infraestrutura, excesso de capacidade instalada e taxa de câmbio impactando as exportações.
Gazeta Mercantil - Em termos de futuro, quais as perspectivas globais do setor?
José Eugênio - A atividade caminha no sentido de aprimorar as relações entre sindicato, trabalhador, empresa e governo. Outra tendência é de parcerias e fusões e am-pliação de acordos com fornecedores que abranjam do design à produção. O futuro será também de plataformas mais simples, globais, de menor custo e maior reúso de componentes.
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