Foto: Paraná Online
Para você, qual é a importância do bom funcionamento de um tubo de retirada de petróleo localizado há mais de dois mil metros de profundidade? Poucos imaginam, mas manter a qualidade desses e de diversos outros metais é essencial para qualquer ramo industrial.
Essa também é a preocupação e a base das pesquisas realizadas no Laboratório de Eletroquímica de Superfície e Corrosão (Lesc), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Além de simular e analisar o funcionamento desse e outros matais, o Lesc é referência nacional em desenvolvimento de pesquisas na área de eletroquímica e corrosão.
Basicamente, o trabalho do Lesc é focado na corrosão de materiais. "Temos várias linhas de trabalho, a mais recente é a de corrosão em alta temperatura. Temos um sistema que faz testes em materiais para comparar qual material irá resistir mais em 600 ou até mesmo 800 graus, sem ter que esperar ele falhar. Hoje, as condições que as empresas trabalham são cada vez mais agressivas a esses materiais", explica o coordenador do Lesc, Haroldo de Araújo Ponte.
Ao longo dos anos, através dos estudos e pesquisas realizadas na área de corrosão, o Lesc constatou que dois tipos são os mais frequentes. "A corrosão generalizada e a localizada são as que mais atingem os materiais que analisamos. Elas são o grande problema e que não podem acontecer em hipótese alguma. Trabalhamos para garantir que um equipamento funcione 10, 20 ou até mesmo 30 anos sem falha alguma", diz Ponte.
Dentre esses materiais que não podem falhar, está o que é utilizado na produção de petróleo. "O tubos ficam a dois mil metros de profundidade e em funcionamento durante 30 anos. A peça não pode falhar, ou seja, nada que interrompa o processo de petróleo pode acontecer. Para qualquer empresa, o custo da reposição desse metal seria muito caro", explica o coordenador.
É para formar profissionais capazes de identificar e prevenir esses tipos de problemas que o Lesc trabalha. "Nosso papel aqui é introduzir os alunos nas áreas de pesquisa. Aqui eles aprendem a pensar e resolver problemas que ainda não conhecem", diz o coordenador. "Queremos qualificar os alunos para que contratações em grandes empresas se realizem ou, para que eles voltem para a comunidade acadêmica como professores. Nossa expectativa é essa", completa.
Para chegar a tais constatações, o Lesc utiliza técnicas de microscopia eletrônica de varredura (MEV), microscopia eletrônica de transmissão (MET), microscopia de força atômica (AFM), difração de raio X, fluorescência de raio X, espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (XPS), ensaios de tração, dentre outros, na caracterização de seus materiais.
Lesc revela talentos
Durante todos os anos de atuação, o Lesc revelou inúmeros talentos que ganharam destaque no exterior por conta dos estudos realizados no laboratório. Exemplo disso é a engenheira química Patrícia Raquel Silva, que já tem mestrado e doutorado em Engenharia e Ciência dos Materiais e já foi para a China, defender sua pesquisa orientada pelo coordenador do Lesc, Haroldo de Araújo Ponte.
"Esta experiência foi realmente única e muito valiosa para minha formação. Em outubro de 2004 tive a oportunidade de viajar à China (Beijing) para participar de um evento intitulado World Petroleum Congress 1st Youth Fórum, direcionado aos jovens pesquisadores do setor de petróleo e gás.
No ano seguinte, tive a notícia de que o trabalho havia sido considerado um dos oito melhores apresentados no congresso da China. Por isso, fui convidada a apresentá-lo também no 18th World Petroleum Congress, o maior evento mundial do setor de petróleo e gás, que foi realizado na África do Sul (Johannesburg)", relata a engenheira química.
Para o físico Cléber Alexandre da Silva, o Lesc está contribuindo para sua carreira como pesquisador. "No Lesc aprendemos quais posturas tomar para resolver determinados problemas. Na graduação temos esses questionamentos apenas em livros, onde basta olhar no final para termos a resposta. Aqui (Lesc) não é bem assim, temos que trabalhar sério para chegar aos resultados. A resposta sou eu que tenho que fazer", diz.
Outros laboratórios também foram implantados
O Lesc foi implantado em 1999, a partir daí, outros laboratórios foram criados. São eles: Lamabio e Laboratório de Tecnologia Ambiental (LTA). O Lamabio trabalha com a melhoria de superfícies de próteses e implantes. "Hoje, o implante precisa ser integrado ao osso, que pode levar tempo indeterminado. Isso depende muito do desenvolvimento das nossas pesquisas. Atualmente, desenvolvemos processos de pesquisa em que a osteointegração pode acontecer em dez dias. E o melhor, com índice de rejeição praticamente nulo", explica Ponte.
De acordo com ele, o próximo passo do Lamabio é começar a investir na prótese biocompatível do fêmur. No LTA, o objetivo das pesquisas é fazer com que as empresas utilizem de forma ecológica e lucrativa aquilo que é descartado. "Pegamos o passivo ambiental - o lixo da empresa -, e transformamos esse material em um ativo, ou seja, um novo produto no mercado com alto valor comercial agregado", explica o coordenador.
"Ao invés de jogar um resíduo adequadamente para um aterro sanitário que ficará muito tempo impactando a área, por exemplo, direcionamos para um setor produtivo", completa. Hoje esses laboratórios são independentes, mas fazem parte do laboratório de eletroquímica aplicada (Gea) e, financeiramente, ainda dependem do Lesc