Vale aceita reduzir preço em 10%, diz associação chinesa


A Companhia Vale do Rio Doce ofereceu um corte de 10% nos preços do minério de ferro, segundo informou o diretor-presidente da Associação Chinesa de Ferro e Aço (Cisa), Zou Jian. Em entrevista concedida na quinta-feira passada à agência Dow Jones Newswire, o executivo disse que a mineradora estava preparada para assinar imediatamente um contrato de fornecimento de minério de ferro caso as siderúrgicas chinesas aceitassem uma redução de 10% nos preços.

De acordo com Zou Jian, as empresas mantém a intenção de um corte de 30% a 50% em relação aos preços recordes de 2008, disse Zou. Segundo ele, a BHP Billiton e a Rio Tinto ainda não fizeram uma proposta de preço.

No entanto, oficialmente o posicionamento da Vale é de esperar a movimentação das concorrentes. Durante a apresentação dos  resultados anuais, na sexta-feira passada, a mineradora brasileira informou que vai ceder o papel de marcador de preço para as rivais anglo-australianas neste ano. "Nossa postura é de aguardar as discussões entre os demais produtores e nossos clientes para entender exatamente qual a visão que se extrai dessa discussão", disse o diretor executivo da Vale, Fabio Barbosa. "Temos a visão de que o melhor arranjo para a nossa indústria, tanto para os produtores quanto para os cliente seja o sistema de benchmark", disse o executivo, durante coletiva com a imprensa.

No ano passado, a Vale fechou um reajuste nos preços dos finos de minério de ferro e pelotas em 65% e 71% sobre os níveis de 2007. A Rio Tinto e a BHP, que prolongaram as negociações e pressionaram por taxas maiores devido à proximidade geográfica com a China, conseguiram aumento de 85%, em média, o que quebrou a tradição do sistema benchmark, em que a produtoras de minério seguem o primeiro acordo fechado naquele ano. Nos últimos anos, a Vale vinha liderando o processo.

Depois que as mineradoras australianas asseguraram preços mais altos, a Vale tentou um aumento adicional, em meados de 2008, de mais 10%, o que provocou protestos e um boicote informal por parte das usinas chineses. No início deste ano, a imprensa internacional chegou a informar que os chineses aceitariam uma redução menor por parte do minério brasileiro.

Agora a Vale espera o fechamento dos acordos entre chineses e as mineradoras anglo-australianas, enquanto essas mineradoras, que também parecem estar esperando para lançar suas propostas, ganham tempo, na esperança de que o mercado siderúrgico dê sinais mais sólidos de que está em recuperação.

A produção chinesa no primeiro mês do ano voltou a crescer: 10,5% acima do registrado em dezembro, e 2,4% mais do que em janeiro de 2008, segundo informou o Instituto Mundial do Aço (worldsteel). No entanto, os preços dos aço no mercado chinês ainda não se firmaram.

De acordo com a agência de notícias oficial Xinhua, em janeiro as usinas elevaram produção e preços, na comparação com dezembro, em uma tentativa de restaurar a rentabilidade, mas a demanda de usuários finais ainda está caindo. No entanto, em fevereiro, algumas empresas, como o Shougang Groupe a Tangshan Iron and Steel, reduziram preços de seus produtos laminados.

A Vale informou na sexta-feira passada que prevê registrar recorde de embarques para a China no primeiro trimestre, com volume de aproximadamente 30 milhões de toneladas, mas as taxas de frete também seguem em baixa. O preço do frete para serviço imediato está agora mais alto do que as taxas futuras. Operadores disseram que tal diferença ocorre porque os compradores chineses de minério estão estocando acima das necessidades. A DNB Shipping informou em nota que a Baosteel, maior siderúrgica chinesa, possui estoques que garantem três meses de suprimento, o que, se for verdade, é cerca de três vezes o volume normal de estocagem. Segundo Dahlman Rose. Os estoques nos portos chineses subiram para 59,4 milhões de toneladas de minério de ferro no final da semana passada, ante as 58 milhões de toneladas da semana anterior.

"Se indicadores de vendas finais não começarem a melhorar nas próximas duas semanas, as previsões são de que o setor, que trabalha agora com cerca de 90% da capacidade, está formando estoques muito rápido", disse o analista do JP Morgan, Michael Jansen, semana passada.

Caso seja efetivamente confirmada a estagnação, as mineradoras perdem o argumento que permitiria a elas obter uma taxa de ajuste  positiva por conta da retomada da indústria chinesa.

A imprensa internacional chegou a noticiar que as mineradoras tinham proposto um aumento de 5% no minério de ferro, mas de acordo com Shan Shanghua, secretário-geral da Cisa, nunca foi feita tal proposta. "Quem aceitaria um aumento? Isso é um sonho acordado. Não é possível. Esta é uma questão de quanto vai cair (o preço), e não se vai subir ou descer", disse.