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Foto: Divulgação
Por João Francisco Salomão,
presidente da Federação das Indústrias do Estado do Acre
A vitória de Barack Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, com o referendo do maior comparecimento às urnas na história da democracia desse país, indica o anseio de mudanças por parte dos norte-americanos. Este desejo, aliás, corrobora um sentimento praticamente universal, já que o governo de George W. Bush termina de modo melancólico, com alta rejeição interna e externa, e sem a mínima capacidade de articulação e liderança.
É importante lembrar que Bush herdou o governo com a economia norte-americana aquecida, quase a pleno emprego, e uma situação muito favorável em termos de política externa. Bill Clinton havia lhe legado um país em prosperidade e com relações diplomáticas avançadas, em especial no sensível Oriente Médio. Hoje, os norte-americanos são protagonistas de duas guerras, sendo que a injustificada intervenção no Iraque já lhes custou quatro mil vidas, 700 bilhões de dólares e a antipatia de bilhões de habitantes em todo o mundo. Também assistiram à eclosão, em seu sistema financeiro, de uma das mais graves crises econômicas de todos os tempos.
A grande votação recebida por Barack Obama, senadores e deputados do Partido Democrata expressou toda a insatisfação dos norte-americanos. Significou uma reivindicação de mudança! O discurso de vitória do presidente eleito, dia 5 de novembro, em Chicago, acena na direção desse anseio dos habitantes dos Estados Unidos e de todo o mundo. É preciso entender, porém, que as transformações a serem processadas não decorrem apenas da plataforma político-econômica do novo governo, mas também são premidas pelas circunstâncias da economia local e mundial.
No plano econômico, Obama assumirá o socorro estatal de 850 bilhões de dólares às instituições financeiras, recentemente aprovado pelo Congresso, à custa do agravamento do déficit público norte-americano. Terá, ainda, de empreender ferrenha luta contra a recessão, já presente nos balanços do terceiro trimestre e nos preocupantes dados do desemprego, que atingiu, em outubro, o maior índice em 14 anos. O setor público dos Estados Unidos somente poderá investir mediante o aumento de sua dívida. Obama, contudo, não terá muitas alternativas, inclusive para poder cumprir compromissos sociais de sua campanha.
Para as empresas, de todos os setores de atividades, é fundamental entender o que está ocorrendo. A crise financeira e a eleição de Obama representam o início de uma nova ordem econômica mundial, uma antítese à que prevaleceu nas últimas três décadas. Nesse contexto, a prioridade imediata é restabelecer o crédito, para manter a economia viva, como está tentando fazer o governo brasileiro, ao flexibilizar o compulsório dos bancos. Aliás, é lamentável que esse dinheiro ainda não tenha chegado à economia produtiva, para financiar bens industriais e de consumo...
Essa nova ordem econômica exige a rápida adaptação das empresas. Em meio às crises, surgem muitas oportunidades. Assim, não se deve ficar esperando a onda passar. A hora é de ir à luta, à busca de clientes, fidelização dos antigos e um olhar mais amplo em direção à perspectiva de novos negócios. Mais do que nunca, depois de comprovado que o exagero nas operações financeiras pode ser o prenúncio do caos, as empresas voltam-se com força total à produção. Parece que foi aprendida a recente lição de algumas gigantes brasileiras do setor industrial, que tomaram imenso prejuízo na brincadeira da especulativa alavancagem dos dólares de suas exportações.
Em função da nova ordem que se estabelece, a gestão de risco das finanças está perdendo espaço. É hora e vez de uma atitude mais segura e ponderada das tesourarias e de concentrar absoluto foco na atividade-fim de cada empresa. Está muito claro que o lucro deve ser produzido substancialmente pelo chão de fábrica e não nas aplicações financeiras. Perceber as mudanças profundas que estão acontecendo neste momento é fundamental para as organizações que se pretendam vencedoras nesta página da história que emerge da grave crise financeira e do resultado das urnas dos Estados Unidos.
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