Fonte: Valor Online - 06/10/08
*Kate Linebaugh - The Wall Street Journal
Um dia desses, a fábrica da Honda de East Liberty, Ohio (EUA), produziu 120 Civics durante a manhã. Então, a linha de produção parou e funcionários de uniforme branco começaram a instalar peças parecidas com mãos em gigantescos robôs cinza que soldavam aço na estrutura de um carro. Uns cinco minutos depois, a linha começou a funcionar de novo, e os robôs começaram a montar um carro mais longo e mais alto, o CR-V, um misto de perua e utilitário.
Na indústria automobilística, isso é considerado um grande feito. Até poucos anos atrás, a maioria das fábricas de automóveis na América do Norte só podia fazer um modelo de cada vez. Algumas empresas agora têm fábricas flexíveis. Por exemplo, a da Ford em Oakville, na província de Ontário, no Canadá, produz três veículos diferentes, e muitas fábricas podem fazer pequenas variações de um veículo básico.
Mas mudar de um modelo para outro completamente diferente ainda leva semanas e consome milhões de dólares. A Ford vai gastar pelo menos US$ 75 milhões para reformar a fábrica de utilitários esportivos em Michigan para produzir carros pequenos, e o trabalho levará 13 meses. A GM está remodelando a fábrica de Lordstown, Ohio, para produzir um novo modelo ao custo de US$ 350 milhões.
As fábricas da Honda são as mais flexíveis da América do Norte e essa destreza está se tornando uma vantagem estratégica fundamental para a empresa. Em tempos de gasolina com preço volátil, ela pode ajustar a produção aos níveis de estoque mais rápido do que as concorrentes. Há alguns meses, quando o preço da gasolina bateu recordes nos Estados Unidos, a Honda conseguiu desacelerar a produção da sua picape Ridgeline no Canadá e aumentar a de veículos com melhor venda.
Nas últimas semanas, o preço do combustível caiu. Se continuar baixando e a demanda por veículos maiores aumentar, a Honda pode ajustar a produção mais rápido do que a maioria das montadoras, diz Ron Harbour, sócio da Oliver Wyman, firma de consultoria internacional que publica o "Harbour Report", relatório anual sobre produção automobilística.
Este ano tem sido difícil para a maioria das montadoras nos EUA. A crise imobiliária e o desaquecimento da economia do país reduziram a venda geral de veículos. Ao mesmo tempo, o alto preço da gasolina serviu de incentivo para o consumidor americano comprar carros menores em vez de caminhonetes e utilitários esportivos, tão populares no passado. Nos primeiros oito meses do ano, as vendas da Chrysler recuaram 24%, as da GM caíram 18% e as da Ford, 15%. Até a poderosa Toyota viu suas vendas baixar 7,8% nos EUA.
Mas as vendas americanas da Honda, a segunda maior montadora do Japão, subiram 1,7% no período, e sua participação de mercado nos EUA deu um salto, chegando ao nível recorde de 11,1% em agosto. Ela é agora a quarta maior montadora nos EUA, depois da GM, Toyota e Ford, e à frente da Chrysler. Em agosto, ela vendeu apenas 3,6 mil veículos menos que a Ford.
A empresa enfrenta desafios de sobra. As vendas da sua picape andam decepcionando. A Acura, sua marca de luxo, luta para se destacar num segmento que é dominado pela divisão Lexus, da Toyota, pela BMW e pela Mercedes-Benz. E, apesar de conhecida por automóveis econômicos, ela tem de acelerar para alcançar a Toyota em veículos híbridos.
A força mais visível da Honda é uma linha de modelos formada, principalmente, por carros pequenos e econômicos. Ela evitou produzir o tipo de picapes e utilitários esportivos com estruturas de aço pesadas por baixo da lataria. O Ridgeline e os veículos que se parecem com utilitários esportivos dela usam carcaças mais leves, como as de carros de passeio.
Além disso, bem no momento em que a demanda por carros de menor porte está aumentando, a Honda está prestes a expandir sua capacidade para produzir Civics. Uma nova fábrica em Greensburg, Indianápolis, deve começar a produção nas próximas semanas.
Mas a flexibilidade da linha de montagem é quase tão importante para o sucesso da empresa quanto sua linha de produtos. A Honda pode alterar a produção entre as fábricas, além de fazer diferentes modelos numa unidade.
Dez anos atrás, a empresa investiu US$ 400 milhões nas três fábricas em Ohio para torná-las flexíveis. Isso permitiu que parasse de importar o CR-V de uma fábrica na Grã-Bretanha, quando a desvalorização do dólar estava espremendo as margens de lucro. Este ano ainda, a produção da Ridgeline vai ser transferida de Alliston, Ontário, para Lincoln, no Alabama, para que a fábrica canadense possa aumentar a produção do Civic.
As montadoras costumavam elaborar um novo processo industrial a cada vez que projetavam um novo carro, e as velhas linhas de montagem refletem isso. Na Honda, uma variedade de modelos pode ser montada eficientemente porque quase todos os veículos dela são projetados para ser feitos da mesma maneira, mesmo que suas peças sejam ligeiramente diferentes. Na fábrica de East Liberty, as portas são instaladas no Civic e no CR-V no mesmo estágio do processo, e seus painéis laterais são atados aos tetos no mesmo ponto da linha de produção.
Outro aspecto importante são os robôs cinza. Eles usam um instrumento projetado pela Honda que funciona como uma mão e segura as peças durante o processo de solda. Os trabalhadores simplesmente põe "mãos" diferentes nos robôs para lidar com as peças para os veículos diferentes.
As fábricas também são preparadas para montar tanto um carro que vende bastante, quanto vários modelos de menores vendas.