Fonte: Agecom/UFSC - 01/10/08
Foto: Agecom/UFSC
Criar ferramentas que auxiliem o desenvolvimento de políticas públicas para implantação de um programa nacional de telhados solares fotovoltaicos. Esse é um dos objetivos de um trabalho da UFSC que será apresentado no
XII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, que será realizado de 7 a 10 de outubro, em Fortaleza. Mais de 800 trabalhos serão apresentados no evento que reúne pesquisadores de todo o país e contará com três conferencistas internacionais.
O estudo mostra que, entre 2012 e 2013, algumas regiões do Brasil já poderão ter preços equivalentes de energia fotovoltaica e energia convencional. Os dados são resultado de simulações de cenários para um programa solar brasileiro. As simulações foram realizadas através do desenvolvimento de planilhas eletrônicas, onde é possível identificar, entre diversos itens, o custo total do programa, o impacto tarifário que terá através da diluição dos custos aos consumidores finais e o momento em que o preço da energia fotovoltaica e da energia convencional será o mesmo para o usuário final.
De acordo com o coordenador dos trabalhos, o professor Ricardo Rüther, foram realizadas simulações para diferentes portes de programa, taxas internas de retorno ao investidor, duração e período de pagamento da tarifa prêmio. As simulações visam atingir um modelo que seja interessante o suficiente para atrair investidores e que ao mesmo tempo não tenha um impacto tarifário de grande magnitude para o usuário final.
A proposta é inspirada na experiência da Alemanha, país com o mais bem-sucedido mecanismo de incentivo às fontes renováveis de energia. Segue os pontos positivos do Renewable Energy Sources Act e adapta os pontos que não estão de acordo com a realidade brasileira. No modelo alemão, por exemplo, todos os consumidores finais de energia rateiam os custos do programa. No caso do Brasil, os consumidores de baixa renda seriam excluídos do rateio, segundo Rüther.
Análise de impacto tarifário e de investimento
A análise foi desenvolvida para o setor residencial e para as condições de radiação solar de Fortaleza, onde acontecerá na próxima semana o Entac 2008. O trabalho detalha exemplo de cenário desenvolvido para um programa de 1.000 MWp a serem instalados num período de 10 anos. Com base no consumo energético total anual do setor residencial (72.062.231 MWh para o ano de 2006, de acordo com dados do Ministério de Minas e Energia), foi calculada a tarifa prêmio paga por cada kWh gerado, o impacto tarifário do programa, bem como a contribuição desta energia gerada no suprimento do consumo do respectivo setor.
A tarifa prêmio é um mecanismo temporário de incentivo, pelo qual o consumidor que tem um telhado solar fotovoltaico recebe por cada kWh injetado na rede elétrica uma tarifa superior à tarifa convencional por um período de 10 a 20 anos, com o objetivo de premiar a adoção da geração solar.
De acordo com o estudo, tomando como base o consumo médio mensal do setor residencial no Brasil (200 kWh), cada unidade consumidora do respectivo setor pagará a mais em sua fatura de energia aproximadamente R$0,28 por mês, para o primeiro ano do programa. Esse valor atingirá um pico de R$1,51 por mês no décimo ano do programa e, a partir daí, esse custo declinará para os anos seguintes.
O programa terá uma geração de 166.200 MWh adicionais ao ano, o que equivalerá a uma contribuição anual de 0,23 % no suprimento do consumo do setor residencial, no primeiro ano. Ao final dos 10 anos de instalações, o programa contribuiria com 1,6% para o suprimento dessa demanda.
Baseado no cenário em que foi adotado um percentual anual de reajuste tarifário de 4% e uma TIR de 7%, a energia convencional começará a ter o mesmo preço da energia fotovoltaica, na região de Fortaleza, a partir de 2013. Nesse ano, segundo o cenário proposto, Fortaleza terá uma tarifa convencional de energia para o setor residencial de 0,62 R$/kWh, o mesmo valor que será o preço da energia fotovoltaica para essa região.
Na opinião dos autores, o Brasil é um país rico em fontes renováveis de energia e reúne condições necessárias e suficientes para estabelecer uma lei de incentivo à geração distribuída, em particular à geração de energia solar fotovoltaica conectada à rede, a exemplo da que foi estabelecida na Alemanha, Espanha e vários outros países. No entanto, atualmente, não há regulamentação para a promoção da energia solar fotovoltaica conectada à rede, o que dificulta a sua inserção.
Os seguintes itens foram considerados dados de entrada para a base de cálculo na planilha:
• Porte do programa (MWp/ano);
• Duração do programa (anos);
• Período de pagamento da tarifa prêmio (anos);
• Preço do sistema fotovoltaico (R$/Wp);
• Despesas de operação, manutenção e reposição (OM&R) (% do custo do programa);
• Taxa interna de retorno ao investidor (%);
• Produtividade (yield) média anual do tipo de tecnologia FV escolhido, para a o nível médio anual de radiação solar considerada (kWh/kWp);
• Consumo anual residencial nacional total (kWh);
• Tarifa média mensal de energia convencional para o setor residencial (R$/kWh).
Baseados na entrada dos dados acima apresentados, os seguintes itens foram calculados:
• Custo total do programa;
• Montante anual arrecadado em tarifa prêmio;
• Tarifa prêmio por kWh gerado pela tecnologia solar FV;
• Impacto (acréscimo) na tarifa do consumidor residencial, por cada kWh consumido de energia convencional, ao longo do período de duração do pagamento da tarifa prêmio;
• Geração anual de energia pela tecnologia solar FV;
• Percentual de contribuição da geração FV no suprimento energético brasileiro
Mais informações:
Professor Ricardo Rüther
Laboratorio de Energia Solar (Labsolar) e Laboratorio de Eficiencia Energetica em Edificacoes (LabEEE)
Fone: (48) 3721-5174
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