Fonte: Valor - 05/09/09
O preço do aço está começando a enfraquecer ao redor do mundo, com quedas que chegam a 30%, num sinal de que pela primeira vez o produto está seguindo o caminho de outras commodities. Fabricantes de automóveis e eletrodomésticos e construtoras têm usado menos aço devido ao desaquecimento da economia mundial. Se essa tendência continuar, como é esperado, os preços de outras matérias-primas usadas para fazer aço, especialmente o minério de ferro e certos tipos de carvão, provavelmente cairão.
Embora o preço do aço continue em níveis historicamente altos, a fase de altas implacáveis dos últimos dois anos parece ter acabado. Ontem, a maior siderúrgica do mundo, a ArcelorMittal, anunciou cortes de até 10% no preços de todos os seus aços na África do Sul, devido à queda dos preços internacionais. O corte, que começa em 1º de outubro, será o primeiro em um ano.
No Leste Europeu, o preço de aço laminado a quente, básico para a maioria dos produtos feitos com aço, já caiu cerca de 30%, para a faixa de US$ 1.000 por tonelada, em menos de dois meses. Enquanto isso, nos Estados Unidos, os preços dos laminados a quente e a frio feitos no país caíram cerca de 8%, ou US$ 80 a tonelada, no mês passado.
Na China, o aço tem caído desde julho, depois de uma alta no primeiro semestre que levou a um recorde em junho. "A demanda está enfraquecendo em todo o mundo", diz Charles Bradford, analista de aço da Bradford Securities. Na Índia, as principais siderúrgicas decidiram recentemente deixar os preços inalterados, depois de um congelamento de três meses.
O aço era um dos poucos metais cujo preço permaneceu forte enquanto outros flutuaram e mais recentemente entraram em tendência de queda. Cobre, alumínio, níquel e ferro-velho caíram. Algumas das quedas refletem o fato de nesta época do ano as montadoras estarem mudando seus modelos, e também que em países onde a temperatura fica muito alta em meados do ano, como no Oriente Médio, as atividades de construção são interrompidas.
Mas isso não explica a forte queda ao redor do mundo, diz John Anton, economista siderúrgico da Global Insight, uma empresa americana de finanças e informação. Ele diz que os preços do aço estão caindo porque as altas de preços finalmente chegaram ao limite, já que o panorama para as economias européia e americana parece pior do que no início do ano.
Em alguns casos, a queda reflete uma redução nos custos com matéria-prima. O níquel, que é usado para fazer o aço inoxidável, caiu e a demanda por eletrodomésticos e outros produtos de aço inoxidável enfraqueceu este ano, levando fabricantes desse tipo de aço a cortar preços. Estoques de aço inoxidável cresceram nos últimos meses, segundo Peter Fish, presidente da Meps International Ltd., uma firma de consultoria e pesquisa de siderurgia com sede em Londres.
Restrições de crédito também são citadas nas previsões de queda da demanda por aço inoxidável, diz ele. Da mesma forma, a sucata de aço, que é fundida para fazer novos produtos siderúrgicos, começou a cair depois de chegar ao pico no início do ano. Na Índia, o preço da sucata caiu 25% no mês passado, segundo o ministro indiano do aço, Ram Vilas Paswan.
Seu ministério previu que os preços do aço no país continuarão em queda por causa da reduzida demanda tanto doméstica quanto internacional. Não está claro se a queda dos preços do aço vai durar. Alguns economistas e analistas estão prevendo que os preços vão se equilibrar mais para o fim do ano, quando os estoques se reduzirem. E, em pelo menos um dos principais participantes desse mercado, o Brasil, o setor siderúrgico parece não estar muito preocupado com o desaquecimento global.
O crescimento dos setores que mais consomem o aço nacional não tem dado sinais de enfraquecer, segundo Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia. Embora reconheça que há uma tendência de desaquecimento internacional, Lopes disse que, internamente, "as condições permanecem" e a preocupação é em aumentar a capacidade para atender à demanda prevista para os próximos anos. Lopes estima que este ano a produção brasileira de aço cresça 7,4%, para 36,3 milhões de toneladas, puxada pelo aumento da demanda nos setores de construção civil, automóveis e bens de capital.
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