Falta de trabalhadores qualificados freia crescimento


Com a economia brasileira avançando ao ritmo mais rápido em décadas, a falta de engenheiros petrolíferos a eletricistas está abalando a competitividade do país e desacelerando o crescimento.

Algumas companhias gastam muito dinheiro treinando profissionais ou trazendo trabalhadores estrangeiros. Outras são forçadas a descartar planos de expansão por causa do pequeno mercado de trabalhadores qualificados.

"A fraca educação e treinamento é talvez o maior peso para o crescimento do país", disse Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O Brasil está crescendo a um ritmo anual de 5 a 6 por cento e este ano recebeu o cobiçado grau de investimento, alimentando a crença que o país esta finalmente tomando um lugar ao lado de outros mercados emergentes gigantes de rápido crescimento como Índia e China.

Mas em setores como mineração e maquinaria mais de 70 por cento das empresas brasileiras carecem de trabalho qualificado, afirmou a CNI. O Brasil forma 23 mil engenheiros por ano, comparado com 80 mil na Coréia do Sul, 250 mil na Índia e 400 mil na China, segundo o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.

Isso deixa o país com uma falta anual de 25 mil novos engenheiros, nos cálculos do Confea. O uso de trabalho imigrante não é oficialmente encorajado mas construtoras e outras empresas estão recrutando em países estrangeiros, incluindo Cuba. "Os projetos necessários de infra-estrutura estão paralisados pois não existe profissionais o suficiente para desenhá-los e acompanhá-los", disse Marcos Tulio de Melo, presidente do Confea.

Acostumado a ciclos de altas e baixas de investimentos por décadas, o Brasil investiu pouco em treinamento e estava despreparado para atender a demanda por trabalhadores qualificados quando a economia começou a decolar em 2004.

"O país, no fundo, não acreditava muito que nós poderíamos ingressar em um processo de crescimento sustentável --agora nós enfrentamos um blecaute de trabalhadores", disse o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, Eliezer Moreira Pacheco.

Enquanto o mercado emergente rival da Índia se tornou um líder mundial de softwares, o Brasil enfrentará a falta de 50 mil programadores nos próximos três anos.

"Nós estamos atrasados. Identificamos o problema anos atrás mas não se fez nada", disse José Curcelli, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Software.

Alem disso, muitos formandos em tecnologia de informação não possuem inglês adequado e não são treinados nas linguagens de programação mais necessárias no mercado, afirmou Curcelli.

"Nosso currículo está um pouco atrasado, antigo. Não se adaptou ao mercado, à globalização", acrescentou Curcelli.

Ensino médio fraco

A última pesquisa Pisa de educação publicada pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) classificou os estudantes do ensino médio brasileiro em 50o e 53o lugares, numa lista de 57 países, em proficiência em ciências e matemática respectivamente. A Coréia do Sul ficou na sétima e primeira colocação. "É difícil treinar aqueles que não estão interessados em tecnologia ou habilitados em ciências ou matemática", disse Melo.

Para compensar, grandes empresas gastam pesadamente em treinamento. A Vale, que espera gerar 62 mil empregos diretos ou terceirizados até 2012, admitirá milhares de estagiários, contratará dúzias de engenheiros estrangeiros e gastará 1 milhão de dólares em gerenciamento de programas de treinamentos este ano.

A Petrobras financiou 300 milhões de reais para um programa de cinco anos de treinamento de 112 mil trabalhadores para a indústria petrolífera até o final de 2009. A empresa ainda gasta 90 milhões de reais anualmente para o treinamento de seus próprios empregados.

Empresas sem tais recursos ficam em situação ainda pior. Quase um quarto de gerentes de pequenas empresas consideram a falta de trabalhadores qualificados o seu pior problema, segundo uma pesquisa da CNI divulgada em julho.

José Augusto Liparini gostaria de aumentar a produção de sua fábrica de móveis de 32 empregados, em Minas Gerais, mas não encontra carpinteiros treinados. "Hoje o problema não é o mercado ou a entrega de bens, é a força de trabalho", disse Liparini.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá inaugurar nas próximas semanas diversos campos e escolas técnicas em todo o país para demonstrar a sua nova ofensiva na educação.

Mas autoridades admitem que não existe solução rápida. "Eu acho que será anos antes de conseguirmos controlar a demanda (por trabalho qualificado)", afirmou à Reuters o ministro do Desenvolvimento, Indústria e do Comércio Exterior, Miguel Jorge.

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