Cuba se volta para a energia eólica

Cuba pretende desenvolver fontes renováveis para reduzir sua dependência do petróleo

Fonte: Envolverde - 02/04/2007

Cuba pretende desenvolver a energia eólica e outras fontes renováveis para reduzir sua dependência do combustível fóssil na geração de eletricidade, mas sem perder a esperança de encontrar novos poços de petróleo. “O essencial é diversificar a matriz energética, não há uma solução única”, reconheceu à IPS Conrado Moreno, especialista em energia eólica do Centro de Estudos de Tecnologias Energéticas Renováveis (Ceter), vinculado ao Instituto Superior Politécnico José Antonio Echeverría, de Havana. A força dos ventos poderia se converter na segunda fonte energética do país, estima Moreno, embora prefira não dar números sobre o potencial eólico ainda em estudo.

Até os anos 90, em Cuba quase não se falava de energia eólica, a não sem no ambiente acadêmico e entre uns poucos professores. “Nos chamavam de sonhadores, e o pior é que primava o critério de que aqui não havia vento para produzir eletricidade”, conta Moreno. Porém, os altos preços do petróleo e a crise do sistema eletro-energético em 2004, causador de prolongadas interrupções do serviço, determinaram que se fizesse uma análise integral que contribuiu para uma mudança de enfoque, favorável ao projeto de uma estratégia para o aproveitamento dos ventos.

O virtual colapso energético se deveu à obsolescência e deterioração das centrais termoelétricas e às sérias avarias na usina Guiteras, a principal do país. Em todo caso, o programa de prospecção eólica começou em 1991 e derivou na confecção de um mapa que permitiu determinar onde estão os lugares mais promissores, nos quais estão sendo instalados estações anemométricas para analisar e medir a potência dos ventos. Nesse contexto, o parque eólico demonstrativo de 0,45 megawatts instalado em 1999 em Turiguanó, na província de Ciego de Ávila, 434 quilômetros a leste de Havana, não é o único, desde que foi inaugurado em fevereiro um maior na Ilha da Juventude.

Os seis aerogeradores de fabricação francesa que hoje fazem parte da paisagem da segunda maior ilha do arquipélago cubano têm capacidade para produzir 1,65 megawatts de eletricidade, cerca de 10% do que é necessário nas horas de maior demanda nesse município do sudoeste cubano. Prevê-se que antes de terminar este primeiro semestre um terceiro parque eólico, desta vez com 5,1 megawatts, entrará em atividade com seis agrogeradores na localidade costeira de Gibara, ao norte de Holguín, 689 quilômetros a leste da capital.

A instalação posterior de um segundo parque nessa mesma zona aumentaria para cerca de 9,5 megawatts a eletricidade produzida por meio de energia dos ventos, que é injetada na rede nacional de distribuição, embora no momento de forma experimental. Uma das maiores vantagens do vento é que não contamina. Segundo cálculos dos especialistas, para cada quilowatt gerado por energia eólica se evita a emissão na atmosfera de um quilo de dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa.

Entretanto, ecologistas alertam para o dano que os aerogeradores podem causar às aves migratórias. “O estudo de impacto ambiental feito antes de se instalar um parque eólico inclui a análise desse e de muitos outros aspectos. Inclusive, deve-se cuidar de não interferir nas comunicações”, disse Moreno. Outros especialistas apontam entre as vantagens dos aerogeradores o fato de poderem ser colocados em espaços não aptos para outros fins, como regiões desérticas, próximas da costa ou em ladeiras muito íngremes para servirem ao cultivo. Também podem conviver com outros usos do solo, por exemplo, pastagem para o gado ou cultivos baixos como trigo e arroz, batata ou beterraba, entre outros.

No mundo, esta fonte energética se coloca entre as de maior dinamismo. Segundo dados da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA), entre 1997 e 2006 a capacidade eólica instalada aumentou 10 vezes. A WWA aponta o Brasil como o mercado mais dinâmico durante 2006, pois com a incorporação de 208 megawatts aumentou em sete vezes sua capacidade eólica em apenas um ano. A Alemanha, com capacidade de 20.662 MW, seguida da Espanha e dos Estados Unidos, com mais de 11 mil MW cada um, lideram a lista de maiores produtores deste tipo de energia.

Entre 22 e 25 de maio, Havana será sede de uma conferência internacional de energia renováveis de uma reunião sobre energia eólica no qual serão analisadas as perspectivas de cooperação nesse campo. Cuba também gera eletricidade a partir da biomassa proveniente da cana-de-açúcar em pequenas hidrelétricas, e energia fotovoltaica.mas, seu sistema elétrico depende principalmente do combustível fóssil. Durante 2007, somaram-se 39 novos poços aos trabalhos de prospecção e perfuração em zonas onde já existem jazidas petrolíferas e aumentará em cerca de 100 mil toneladas a produção de petróleo.

No ano passado, Cuba produziu cerca de 3,9 milhões de toneladas de petróleo e gás, equivalentes a quase a metade do combustível que consome. O restante é importado. Um aumento substancial na quantidade e qualidade de petróleo depende de futuras descobertas no setor cubano do Golfo do México, onde dos 59 blocos abertos à licitação há apenas 16 contratados e oito em negociação.