Por conta da aquisição da Metal Leve, em 1996, a subsidiária brasileira da Mahle tornou-se a única empresa do grupo listada em bolsa. Nem mesmo a matriz, com sede na Alemanha, está no mercado de capitais. O registro de companhia aberta foi concedido à Metal Leve há 21 anos. Segundo Axel Erhard Brod, vice-presidente da Mahle no país, por enquanto não existe nenhuma intenção de sair da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). "Atualmente, consideramos o fato de estarmos na bolsa como uma alternativa para financiamentos futuros", afirma o executivo. Para ele, a possibilidade mais viável de utilização do mercado de capitais seria para uma aquisição. "Se aparecer algum negócio interessante, ou até mesmo um projeto, podemos ir ao mercado".
A aquisição de empresas brasileiras na década de 90 foi uma das mais bem-sucedidas estratégias na história do grupo Mahle. A experiência no país serviu de exemplo para negociações semelhantes no resto do mundo, segundo o presidente mundial do grupo Mahle, Heinz Junker. Ao decidir comprar parte da Metal Leve - e, em seguida, o controle total da empresa - e um ano mais tarde parte da Cofap, outra empresa brasileira, a multinacional adquiriu a capacidade de produzir conjuntos completos de motores. No caso, juntou a tecnologia na produção de peças distintas, como os pistões da Metal Leve e os anéis da Cofap.
Em março, o grupo fez duas aquisições. Comprou a divisão de componentes para motores da americana Dana, com 39 fábricas em todos o mundo e três no Mercosul. No mesmo mês, a companhia adquiriu a Edival, uma fábrica de válvulas da Argentina.
A aquisição da Metal Leve ficou marcada na memória do presidente mundial da companhia. Ele se lembra bem da dificuldade para encontrar um vôo que o levasse de Sttutgart para São Paulo para poder fechar o negócio imperdível. A Metal Leve, do empresário José Mindlin, era uma referência entre as montadoras no Brasil. Mas estava em dificuldades financeiras e despreparada para enfrentar a globalização e a abertura do mercado brasileiro.
Para não perder o negócio, o jeito foi encarar o único assento disponível, no meio de uma fileira de cinco, na classe econômica de um vôo que partiu da Alemanha em um sábado. Junker lembra bem de como a viagem foi tumultuada. Ele ri ao lembrar que o passageiro à sua frente levava um cachorro como companheiro de bordo.
Mas o esforço valeu a pena. Junker conta que hoje as demais fábricas da Mahle em todo o mundo trabalham com o sistema de conjuntos de peças, a experiência testada no Brasil e que garante hoje o avanço da empresa no país. Junker vem ao país pelo menos a cada três ou quatro meses. O peso da operação brasileira e de toda a América do Sul tem crescido. A participação das vendas da região em uma companhia que fatura US$ 7,5 bilhões por ano passou de 8% para 12% entre 2003 e 2007.
Junker esteve no Brasil mais uma vez esta semana para inaugurar ontem o novo centro tecnológico da empresa, em Jundiaí (SP), um pólo de desenvolvimento de componentes de ponta, que servirá tanto para os produtos fabricados pela própria empresa como também venderá serviços de engenharia para as montadoras.
Para Junker, o mercado brasileiro é algo único. O executivo lembra que o país lida com combustíveis diferentemente de outras partes do mundo e, que, portanto, precisa de um centro de desenvolvimento específico para atender aos clientes locais. Para ele, o uso do etanol tem, no Brasil, um significado próprio. "O país tem muito espaço e consegue extrair o produto da cana-de-açúcar", afirma. "Na Europa, será preciso desenvolver a tecnologia do etanol a partir de resíduos e outras substâncias que não disputem com a produção de alimentos", completa.
A preocupação de Junker com a subsidiária brasileira hoje está no efeito do câmbio sobre as exportações. As vendas externas absorviam 57% do faturamento líquido da empresa na América do Sul há quatro anos. A participação caiu para 44%. Mas, à medida em que os contratos externos expiram, a tendência é de o percentual cair ainda mais. A vantagem, nesse caso é que, ao contrário de grande parte da indústria de autopeças, a Mahle ainda não enfrenta problemas de falta de capacidade. Com a queda nas exportações, o espaço nas fábricas dedicado aos contratos externos começou a ser usado para atender ao crescimento da demanda interna.
Os Estados Unidos são o principal mercado externo da Mahle América do Sul. Ali, as preocupações da direção da companhia alemã são ainda maiores. O grupo fechou duas fábricas pequenas recentemente por conta da crise. "Não vejo a possibilidade de a crise nos Estados Unidos acabar em menos do que um ano", afirma o presidente mundial do grupo. A única esperança de a empresa ver as vendas crescerem naquele mercado é a mudança na legislação de emissões de poluentes, que obrigará à troca dos motores.
O quadro na América do Sul é bem mais animador. A receita líquida passou de US$ 824,1 milhões em 2005 para US$ 957,6 milhões em 2006 e US$ 1,245 bilhão no ano passado. Com 11 fábricas no Brasil e quatro na Argentina, a empresa tem 12,6 mil empregados.
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