A indústria automobilística é um setor em que o capital estrangeiro é soberano. No entanto, três empresários brasileiros sobrevivem ao avanço das multinacionais: Eduardo Souza Ramos, Carlos Alberto de Oliveira Andrade e José Luiz Gandini. Dois deles - Souza Ramos e Oliveira Andrade, do grupo CAOA - são donos das fábricas que fazem veículos sob licença de montadoras estrangeiras. Gandini ainda atua apenas como importador, mas não esconde o sonho de também ter a sua própria fábrica.
Não se sabe até quando os três resistirão às possíveis tentativas dos fabricantes, que lhes concedem licença para atuar no Brasil, de assumir o controle da produção e das vendas em um país que cada vez mais atrai as montadoras pelo potencial de expansão do mercado. Isso aconteceu outras vezes. O caso mais recente é o da alemã Audi, que tomou da família Senna o comando da marca no Brasil.
As montadoras só tiram o representante local dos seus negócios quando se sentem seguras o suficiente para colocar o próprio capital na operação. O Brasil ainda é um terreno desconhecido principalmente para os asiáticos. E os três - Souza Ramos, Oliveira Andrade e Gandini - representam marcas asiáticas.
Há 10 anos Souza Ramos produz veículos Mitsubishi com licença do fabricante japonês. Faz um ano que Oliveira Andrade, que até então era o importador da coreana Hyundai, inaugurou uma fábrica de veículos da marca. Gandini é o representante da também coreana Kia. É a marca importada que mais vende no país. Os três investiram capital próprio. Não existem sócios estrangeiros nessas operações.
Mas em um dos casos não é apenas a questão cultural que impede os estrangeiros de investir no Brasil. O maior problema para a instalação de uma fábrica da Hyundai no Brasil é uma antiga dívida com o governo federal, de cerca de R$ 1,6 bilhão em impostos e multas por atraso, que se arrasta desde o final dos anos 90.
Na época, a já extinta Asia Motors, outra montadora sul-coreana, usufruiu dos incentivos fiscais de importação garantidos pelo programa do regime automotivo do governo de Fernando Henrique Cardoso. Em troca, se comprometia a instalar uma fábrica no país. Mas não cumpriu o acordo. A Asia Motors pertencia ao grupo Kia, que foi adquirido pela Hyundai .
O governo do Rio de Janeiro pretende tentar interferir em busca de uma solução para atrair o investimento da Hyundai, que pode chegar, segundo informações de Oliveira Andrade, a cerca de US$ 1 bilhão. Esse dinheiro seria aplicado em uma fábrica de carros de passeio.
A unidade que pertence ao grupo CAOA, instalada em Anápolis (GO), produz hoje um caminhão leve. Oliveira Andrade diz que o investimento dos coreanos não prejudicaria a sua fábrica. O empresário diz estar protegido por um contrato de dez anos, renovável por mais dez.
Uma nova missão de representantes do grupo Hyundai estava sendo aguardada nos últimos dias para mais uma fase de estudos da viabilidade do investimento e de negociações com governos estaduais. No entanto, há rumores de que, para escapar do pagamento da dívida, os coreanos poderiam optar por levar o empreendimento para o México.
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