A General Motors anunciou ontem (19) investimento de US$ 500 milhões para produzir um veículo médio na fábrica de São José dos Campos (SP). Esta é a terceira montadora a conseguir negociar regras trabalhistas mais flexíveis em bases de sindicatos de metalúrgicos que tradicionalmente resistiam abrir a mão de antigas conquistas. Ford e Volkswagen fizeram o mesmo no ABC. O novo veículo da GM, que será produzido em São José dos Campos e na Tailândia, será lançado no mercado brasileiro no segundo semestre de 2010.
Os recursos divulgados ontem foram aprovados pela matriz da companhia, nos Estados Unidos, em maio. Mais investimentos podem vir pela frente dentro da estratégia da GM de compensar, nos mercados em que consegue crescer e ter lucros, as perdas que amarga na América do Norte. Em julho de 2007, a montadora anunciou investimento de US$ 300 milhões no Brasil e mais US$ 200 milhões na Argentina.
A empresa decidiu também ontem reativar o segundo turno de trabalho da linha Corsa, que está na fábrica de São José dos Campos, desativado há três anos. Para isso, vai contratar 600 empregados (em regime temporário). Hoje são 9 mil trabalhando naquela unidade.
Em troca do investimento, a GM negociou com o sindicato local uma jornada mais flexível (com possibilidade de adicionar uma hora extra por dia) e piso salarial para os novos empregados mais baixo que o anterior. O objetivo é reduzir custos para ganhar na concorrência por novos projetos com as demais fábricas da multinacional, localizadas em outros países.
A direção da GM no Brasil tratou o acordo com o sindicato em tom de vitória. Um impasse nas negociações se arrastava havia semanas. A última rodada de discussões lembrou os velhos tempos das difíceis relações trabalhistas no setor metalúrgico paulista: a reunião entre os sindicalistas e a direção da GM que celebrou o entendimento durou 14 horas, encerrando-se às 3h30 da madrugada de ontem.
O entusiasmo da GM com o resultado desse acordo provocou algo inédito: os executivos da montadora envolvidos na negociação fizeram questão de comparecer à assembléia dos trabalhadores, na troca de turno, ontem à tarde, convocada para aprovar a negociação.
Após a assembléia, o vice-presidente da GM, José Carlos Pinheiro Neto, se dirigiu à Prefeitura e à sede da diocese da cidade , para agradecer, respectivamente, o prefeito Eduardo Cury (PSDB) e o bispo Dom Moacir Silva. O bispo também participou da assembléia. "É um momento importante ", disse Pinheiro Neto.
Desta vez a GM agitou o ambiente que envolve a sua segunda maior fábrica brasileira. Conseguiu com que se formasse no município um grupo de apoio, que ganhou o nome de comissão pró-GM, formado por prefeitura, câmara, Igreja e outras entidades. Com esse apoio, a companhia ganhou forças para enfrentar a resistência do sindicato.
A 91 quilômetros de São Paulo, São José dos Campos é uma cidade de com cerca de 600 mil habitantes localizada no chamado Vale do Paraíba, região que abriga um pólo de empresas de material bélico, metalúrgico e sede da Embraer.
A GM tem a fábrica na cidade há 50 anos. A dificuldade nas relações entre a montadora e o Sindicato dos Metalúrgicos é antiga. A entidade é alinhada e comandada por dirigentes ligados ao PSTU. Para conseguir o acordo com o sindicato, a GM ameaçou deslocar o projeto do novo veículo para uma nova fábrica, que seria a quarta da companhia no país.
O diretor de assuntos institucionais da GM do Brasil, Luis Moan, o principal executivo da empresa envolvido nessa negociação, garante que a empresa pensou mesmo em construir nova fábrica caso o acordo não fosse fechado. Ele lembra que a maior fábrica da empresa, a de São Caetano do Sul, no ABC, já opera a plena capacidade, em três turnos, sem chances de expansão geográfica porque está espremida no meio de uma cidade pequena.
A opção de levar a nova linha para Gravataí, no Rio Grande do Sul, onde está a fábrica mais nova, que produz o Celta, também foi eliminada porque, diz o executivo, apesar de haver ali terreno disponível o investimento na estrutura de novos prédios seria inevitável. "Em São José já temos não apenas prédio, como também a infra-estrutura de energia, logística e outras facilidades", destaca Moan.
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