Aquele profissional que nos tempos da aprendizagem, nunca apostou o comprimento dos cavacos com os colegas de classe que atire a primeira pedra.
Pode parecer uma alusão àquela parábola da mulher adúltera, que seria apedrejada não fosse a intervenção de Jesus. Falando assim pode parecer cruel a relação com o pecado, mas todos concordarão que naqueles momentos em que a aposta dos comprimentos dos cavacos aconteciam, o instrutor não estava por perto. Pode soar como “quando o gato não está os ratos fazem a festa!”
Mas também posso garantir que era nesses momentos em que realmente o aluno aprendia, sim, ele poderia arriscar vários avanços até obter o controle e a estabilidade necessária para se produzir o cavaco desejado.
E quando o instrutor aparecia logo vinha o sermão.
É incrível, parece até vidência, alguns péssimos líderes têm a habilidade de encontrar os seus subordinados fazendo a coisa errada, parece que até sabem o momento certo para os flagrantes.
É uma u-topia(usinagem – topia), é difícil encontrar aquele que chega perto e diz: "AHÁ! Parabéns! É isso aí! Está fazendo um ótimo trabalho."
Flagrar as pessoas fazendo a coisa certa não é tarefa comum. Não consigo acreditar que uma pessoa possa explorar seu lado criativo não possuindo a ideal liberdade para criar, aplicar, arriscar, errar e aprender com isso.
O que ocorre são práticas punitivas, que inibem o desenvolvimento pessoal e técnico e ainda baixam a auto-estima. Algumas pesquisas mostram que 80% de todo o metal duro empregado nas ferramentas de corte para usinagem está sendo mal aplicado.
O metal duro está dividindo a fatia das ferramentas de corte mais utilizadas, com o aço rápido. Acredito que principalmente pelo motivo de poucos saberem aplicá-lo corretamente e transferir esse conhecimento.
Admira-me muito que várias pessoas tenham que esperar o momento de sair da escola e chegar ao mercado e finalmente começar a praticar por tentativa e erro (um absurdo) o uso de ferramentas de metal duro.
Ou ainda esperar por participar das palestras ministradas por profissionais da usinagem como: Ricardo Freitas, Fábio Ricardo, Francisco Marcondes, Salvador Favara, Wilson Sergio, João Carosella, Aldeci Santos, Carlos Ancelmo, Nivaldo Coppini, Anselmo Diniz , entre outros.
“Os profissionais do futuro são formados com as ferramentas do futuro”; foi um slogan de um grande fabricante de ferramentas de corte em sua campanha de marketing e ao patrocinar um torneio de formação profissional.
Mas como os profissionais do futuro serão realmente profissionais de futuro se ainda se pratica o beabá com os “bits”, e o garoto chega na indústria e ainda não sabe usar a “widia”?
A solução poderia estar em treinar os profissionais que multiplicariam essa tecnologia para os alunos.
Mas quantos estão dispostos a captarem a mensagem, a realmente driblar o Dragão do Medo da Mudança, e a ensinar os garotos durante aprendizagem a utilizar corretamente os parâmetros de corte mais avançados?
Poucos acredite. Pode até ter investimento, mas, na prática a teoria é outra! Quem não se admira ao ver um garoto em um torneio de formação profissional, chegando numa bancada ou numa máquina, desenrolando um tapete, cortando-o em forma de estrado, trocando a morsa da bancada por uma adaptada a ele, observar o sincronismo de seus movimentos, a ponderação, ao sequenciamento do ferramental, a concentração absoluta e a precisão dos passos? Admirável eu diria!
Mas será educação ou adestramento? Sim, esse mesmo garoto aprendeu ou está lá para fazer essa ou aquela escola atingir a visibilidade dentro da instituição mantenedora, ou politicamente para promover aquela cidade pequena? E ainda dizem que o momento é o da formação baseada em competências!
O que tenho observado é a montagem de um circo, um legítimo picadeiro para mostrar que se está trabalhando, e os resultados pouco interessam. E os educadores? Como podem adotar uma postura adúltera? Tais torneios estão revelando uma realidade: não existem mais profissionais como antigamente.
Eles possuem uma Ferrari, mas não tem piloto para extrair o máximo dela. Andam conforme a equipe manda. Talvez até parem para deixar o outro passar.
A vitória estando ali na mão e não podem pegar a taça merecida (de honra ao mérito) pela traição. Quem os ensina os trata como inimigos da profissão, a ameaça que pode lhes dividir ou tirar o ganha pão.
Muitas vezes, quando estava aplicando novas tecnologias para os alunos, a realidade do mundo do trabalho; recebia a indagação:
"Você não acha que está sofisticado demais? Eles não vão aprender isso nunca. Vá com calma! Usinar assim é perigoso! Pode quebrar a máquina."
Minha experiência de mais de 30 anos diz que não é certo! Gargalhadas internas, meu íntimo só poderia fazer isso: rir. Como pode uma pessoa que deve ensinar, duvidar da capacidade de aprender de outra?
Afinal ele estava lá para ensinar ou deixar fazer? Insegurança e quebra de máquinas? Onde estão os parâmetros para se calcular? Vomitar fórmulas ou explicar como elas nascem? Para explicar como surge a fórmula da velocidade de corte, do rpm, da potência nós precisamos apenas de um barbante, um objeto cilíndrico e um pouco de boa vontade. E quanto à experiência?
Experiência não é tempo de casa, é VIVÊNCIA, às vezes as pessoas passam 30 anos em um lugar e somente um é realmente experiência. Os outros 29? Foram gastos repetindo-se sempre a mesma coisa. Quando perceberem o que está acontecendo: o “cepezinho” já os ultrapassou! Em conhecimento, habilidades e atitudes.
O titulo desta crônica baseia-se no famoso livro de SPENCER JOHNSON “QUEM MEXEU NO MEU QUEIJO?”
E aborda principalmente os aspectos da mudança. Profissionais que pensam que ontem deve ser igual a anteontem e porque amanhã não deve ser muito diferente de hoje; me lembram do sapo na panela (assunto da próxima crônica).
Dinossauros em extinção. Isso poderia mudar, se talvez transformassem a omissão em ação. Omissão? Ou seria adultério? Traindo a profissão?!!! Bem, até aí, fica a critério de alguém se sentir no direito de lançar a primeira pedra!
Por Wilson Sergio, instrutor técnico de usingem.
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