Figura: Divulgação
Por Milton Luis Joseph*
É comum ouvirmos nos bate-papos informais que a água vai acabar, que é preciso economizar, pois ela é um bem finito etc. Mas por que o hábito do uso racional da água não acontece ou acontece de forma lenta? Arrisco que é porque a maioria das pessoas pensa em sua atitude de uma forma isolada: "de que adianta eu economizar se meu vizinho lava o carro todos os sábados com a mangueira?". Um bom exercício é pensar que a sua ação, somada a de outras pessoas que também se preocupam com o mesmo problema, vão formando uma única onda que pode, sim, fazer a diferença.
Este movimento – agir individualmente e influir coletivamente – tem de ser contínuo e urgente. Temos dois terços da superfície da Terra cobertos por água (1% deste total é apropriado para beber), mas uma em cada três pessoas não dispõe do líquido em quantidade suficiente para atender as suas necessidades básicas.
Rever nossos hábitos, que estão constantemente sendo estimulados pelo consumo desenfreado, pode ser um caminho para uma guinada. Isto porque se o padrão atual de consumo de água for mantido, calcula-se que essa proporção subirá para dois terços da população mundial em 2050. Taí uma prova de que os seres humanos afetaram decisiva e negativamente a renovação natural dos recursos hídricos, seja consumindo sem se importar com o uso racional e o combate ao desperdício, seja ocupando os espaços das regiões dos mananciais, poluindo a água. Calcula-se que 30% das maiores bacias hidrográficas tenham perdido mais da metade da cobertura vegetal original, o que levou à redução da quantidade de água.
A Região Metropolitana de São Paulo já sente a dificuldade na captação de água de boa qualidade, pois os mananciais mais limpos estão mais distantes, o que encarece a água que é distribuída. Boa parte do líquido que chega aos imóveis da Grande São Paulo é captada da bacia do rio Piracicaba e viaja mais de 70 km para chegar às torneiras. Mesmo assim, enquanto a ONU recomenda um consumo de até 110 litros por habitante/dia, nos bairros nobres de São Paulo chegamos a uma média de até 500 litros habitante/dia.
Há também a responsabilidade do setor público, que deve combater as perdas d´água no sistema. No Brasil, do total de água captada, uma média de 50% se perde no percurso entre os mananciais e os imóveis. E é mais complicado ainda saber que o país já está produzindo água em capacidade hídrica próxima do esgotamento. Em Santo André, a média de perda é menor, cerca de 29%, e vem caindo ano a ano graças a investimentos tanto em tecnologia como na educação e mobilização ambiental, que é fundamental quando falamos em mudança de comportamentos.
Sabemos que há muito a ser feito, mas que não podemos parar. É possível acreditar numa mudança se também formos parte dela. Este é o melhor presente que damos ao Planeta para comemorar o Dia Mundial da Água.
* Milton Luis Joseph é engenheiro civil e superintendente do Semasa - Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André, onde trabalha desde 1979.