Houve quem duvidasse quando anunciaram a criação de um “armário frio”. Atualmente as geladeiras não surpreendem mais ninguém, nem por causa de inovações como as gavetas com temperaturas diferenciadas para conservar carne ou vinho.
Novas invenções para reduzir o calor podem ser viabilizadas num futuro próximo pois já neste ano R$ 480 mil serão destinados ao desenvolvimento de novas tecnologias de refrigeração à base de materiais avançados. O repasse será feito pela Fapesc (Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina).
No total, a Fapesc vai liberar mais de R$ 6 milhões aos 13 estudos selecionados para o Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência). Por meio dele, receberão dinheiro pesquisadores de “comprovada competência, de reputação técnico-científica reconhecida nacional e internacionalmente – organizados para desenvolver projetos de pesquisa científica ou tecnológica inovadora”, como se lê na última chamada pública do Pronex.
Um desses grupos é o Polo (sigla que corresponde a Laboratórios de Pesquisa em Refrigeração e Termofísica). Ele é parte do Departamento de Engenharia Mecânica da Ufsc e congrega mais de 100 colaboradores, entre eles o professor Alvaro Toubes Prata, que deverá assumir a reitoria da Ufsc em maio. “Minha preocupação maior será administrar a instituição, mas não deixarei de ser professor e pesquisador.”
Seu novo desafio é avançar no campo tecnológico, com a ajuda dos colegas do Polo. “Nós vamos investigar um fenômeno físico que tem nos mostrado que é possível produzir frio a partir de um campo magnético oscilante”, explica Prata.
O foco do projeto são as novas tecnologias de refrigeração, que deverão ser aplicadas nas mais variadas situações, muito além da fabricação de geladeiras. “Cada vez mais há necessidade de resfriar componentes eletrônicos como computador e telefone celular, além de partes específicas dos freios de automóvel e das lâmpadas que operam a temperaturas altas. Com o avanço em novas tecnologias de refrigeração, as pessoas começarão a investir em roupas que tenham sistema de refrigeração próprio, para trabalhar num deserto ou numa mina, por exemplo.” Mesmo camisas de uso corrente poderão ter temperaturas reguláveis.
Tais invenções esbarram na fabricação de novos materiais e nas dificuldades de substituir processos tradicionais, entre outros obstáculos.
“Hoje grande parte da produção de frio é feita por compressão mecânica de vapor, uma tecnologia que existe há mais de um século. Outro exemplo são os carros que ainda funcionam com motores a combustão, embora o modelo elétrico ou movido a hidrogênio seja mais eficiente”, pondera, acrescentando que mudanças tecnológicas não ocorrem de um dia para o outro.
Há mais de 25 anos a Ufsc atua na área de refrigeração, em parceria com a Embraco (Empresa Brasileira de Compressores). Hoje os laboratórios de refrigeração da Ufsc são parte do Polo, que atrai estudantes de graduação e pós-graduação até dos cursos de Física, sem falar nas Engenharias Química, Mecânica etc.
Os pesquisadores têm apoio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Este último voltou a auxiliar o grupo por meio do Pronex, programa ao qual destinou não só os R$3.600,00 prometidos, mas também uma suplementação de R$741mil para contemplar dois projetos adicionais. Por sua vez, a Fapesc entrou com R$1.800,00, o que elevou o total para R$6.141.000,00.
Esses recursos são destinados a estudos cujos orçamentos elevados exigem um processo rigoroso de seleção, a partir de uma chamada pública.
Primeiro uma equipe da Fapesc indica as propostas que preenchem todos os requisitos e encaminham-nas a dois consultores independentes ( conhecidos no meio acadêmico como ad hoc). Eles levam em consideração 14 itens previamente anunciados no edital, entre eles a originalidade do projeto e os resultados esperados – é essencial que as conclusões possam ser aproveitadas pelo setor produtivo.
De posse dos pareceres dos consultores, o Comitê Consultivo faz nova avaliação. “Depois disso ainda vem a análise do mérito e a da relevância do projeto e, por fim, o julgamento pelo Comissão de Coordenação”, detalha Miguel Pelandré Perez, gerente de Pesquisa Científica e Tecnológica da Fapesc.
Foram selecionados pelo Pronex trabalhos de diversas áreas: um ajudará a conservar a flora nativa da Mata Atlântica, outro proporá formas de cultivo de peixes nativos na bacia do Rio Uruguai e um terceiro vai listar autores, obras e acervos literários catarinenses em meio digital.
Para ver a relação completa dos projetos, acesse
www.fapesc.sc.gov.br.