O Mercado e o Ambiente: Perfil Profissional e os Desafios Atuais para sua Formação

Maurício Novaes Souza (*)
 
Atualmente muito se fala em Desenvolvimento Sustentável. Contudo, para alcançá-lo, é necessário que sejam criadas tecnologias apropriadas e pessoal competente para gerenciá-las: as atividades comerciais e industriais mundiais e brasileiras estão, parcialmente, conscientes da necessidade de adotarem práticas de gestão ambiental e pretendem ampliar seus investimentos destinados à proteção do meio ambiente.

Isto de deve principalmente às profundas transformações do modelo econômico decorrentes da reestruturação produtiva, da integração mundial dos mercados financeiros, da internacionalização das economias, da desregulamentação e abertura dos mercados, com a quebra de barreiras protecionistas, em suas causas e conseqüências político-sociais. Tais mudanças vêm atingindo, de forma acelerada e diferenciada, sobretudo na última década do século passado e nos primeiros sete anos desse século XXI, amplos setores da população trabalhadora e os donos de empresas/indústrias, urbano-rural.

Essas mudanças, em grau e extensão diferentes entre países e no interior dos mesmos, geram permanentes incertezas, novas tensões, aprofundamento das desigualdades sociais e da exclusão social. Isso se deve principalmente à alta competitividade e a evolução tecnológica (nem sempre apropriadas), associadas às exigências das leis ambientais (crescentes e agindo com maior rigor), que com maciço apoio popular imprimiram uma velocidade muito mais acelerada ao mercado, afetando significativamente as empresas, em todos os setores da economia.

No caso brasileiro, com relação ao meio ambiente, muita degradação e impactos foram gerados. Na população, observa-se um processo de pauperização, inclusive entre os trabalhadores integrados ao mercado de trabalho, como resultado de uma trajetória marcada pela insegurança, instabilidade e precariedade nos vínculos laborais. Essa degradação das condições materiais de vida, das formas de reprodução, agravada pela ausência de mecanismos de proteção social e associada à desestruturação/reconstrução de identidades geradas em torno do trabalho, configura, em sua complexidade, uma nova questão social.

Atualmente, para se manter no mercado, as empresas precisam estar mais atentas à velocidade das mudanças e inovar continuamente. Contudo, a grande maioria das empresas de pequeno porte, particularmente no interior, vem enfrentando dificuldades na relação com os órgãos ambientais em face à necessidade de se cumprir exigências ambientais por vezes desconhecidas dos seus proprietários e funcionários, que na maioria das vezes questionam as suas aplicabilidade técnica e seus aspectos de sustentabilidade econômica.

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional das Indústrias em meados de 2007, sinaliza que a questão ambiental está cada vez mais integrada ao planejamento das empresas. Nessa sondagem, verificou-se que cerca de 80% das empresas pesquisadas realizaram procedimentos gerenciais associados à gestão ambiental, sendo que as indústrias de grande porte adotaram tais medidas em proporção maior que aquelas de pequeno e médio porte (87,7% e 72,2%, respectivamente). Contudo, resultado de outras pesquisas, observa-se que o profissional brasileiro não está devidamente qualificado para lidar com essa nova realidade, particularmente no que se refere aos cuidados ambientais.

Esse ambiente dinâmico e turbulento, no qual também nós brasileiros estamos inseridos, requer dos empresários uma busca incessante pela competitividade, impondo-lhes a necessidade de contar com profissionais capacitados e preparados para enfrentar ameaças e oportunidades do mercado. Atualmente, as empresas buscam utilizar instrumentos de gestão de competências e de desempenho, dentre outros, para que possam sobreviver e se sustentar nessa acirrada guerra da economia globalizada.

Nessa busca, os gestores têm identificado o capital humano como um dos fatores que mais contribuem para que as empresas sustentem suas vantagens competitivas. É fato notório que, nos dias atuais, o bem mais precioso de uma corporação é o conhecimento, o grande diferencial competitivo do mundo do trabalho. Ou seja, a economia atual está baseada no capital intelectual, no qual as pessoas é que fazem a diferença.

Todas essas considerações nos levam a refletir sobre as mudanças que têm ocorrido no ambiente das empresas e no foco de sua gestão refletindo na exigência das competências profissionais que elas necessitam e, também, nos centros de ensino técnico e tecnológico, como o CEFET, e nas faculdades e universidades que formam esses profissionais. As empresas estão avaliando se as pessoas têm prazer no exercício da função, se têm ambição para crescer e se têm generosidade para compartilhar conhecimento e gerar valor. Elas procuram pessoas que saibam trabalhar em equipe, que demonstram equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Pessoas que têm capacidade de quebrar paradigmas, de negociar, de se comunicar, de se modernizar e de aperfeiçoar continuamente o próprio aprendizado.

Existem vários estudos que apontam as habilidades, conhecimentos e características que o mercado tem exigido dos seus profissionais, destacando-se: domínio de idiomas, capacidade de aprender, visão sistêmica, empreendedorismo, liderança, criatividade, humildade, versatilidade, dentre outros. Será que os citados centros de pesquisa e ensino estão preparados para atenderem a essa demanda?

Creio que alguns estão preparados, outros ainda não se depararam com essa nova realidade. Penso ainda, que não poderá ser apenas função exclusiva destas instituições de ensino. Os profissionais têm de tomar as rédeas de sua vida, de suas escolhas e de seu desempenho. Deverão investir em si próprios, adotando medidas, tais como: fazer curso de línguas e especializações; ler bons livros, jornais e revistas; freqüentar cinema e teatro; e praticar esportes. É necessário que determinem os objetivos que almejem alcançar, e criem um plano e condições para atingi-los e conquistá-los. É fundamental que se aprimore suas competências. Deve-se traçar um plano, não só para a sua carreira, mas principalmente, um plano para sua vida. Faz-se necessário que procure adquirir novas habilidades e novos conhecimentos, novos relacionamentos e novos hábitos.

Sejamos, então, criadores da nossa própria vida, posto que ela é fruto de tudo o que fazemos, com base nas nossas crenças atuais. Em Rio Pomba, MG, por exemplo, temos no CEFET/RP vários cursos superiores e técnicos que poderão contribuir definitivamente nesse sentido. Nos casos específicos dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Agroecologia, interagimos com os diversos fatores que interferem em nossa vida, analisamos suas inter-relações, buscamos conhecer a legislação atual, entre outros.

Na verdade, o profissional que o mercado atual requer, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, deverá saber e praticar a Gestão Ambiental, que têm como Princípios: a Qualidade; a Criatividade; a Humanidade; a Lucratividade (sim, também é permitido); a Continuidade; a Lealdade; e a Ética - para que efetivamente se atinja o Desenvolvimento Sustentável. Os Benefícios de sua aplicação são: a Sobrevivência Humana; o Consenso Público; a Oportunidade de Mercado; a Redução de Risco; a Redução de Custos; e a Integridade Pessoal.
Há de se considerar ainda, que para atender as propostas do Desenvolvimento Sustentável, os profissionais deverão apresentar como Características: incorporar tecnologias inovadoras e apropriadas; tomar decisões tendo como base uma visão holística e sistêmica; promover um contexto de maior responsabilidade social; e conhecer outras culturas.

Deverão possuir, ou estar em busca, das seguintes Habilidades: Comunicação interpessoal, intercultural e expressão correta; Profissional atuante, responsável e plenamente qualificado; Utilização do raciocínio lógico, crítico e analítico operando com valores; Domínio da Tecnologia da Informação; Perceber a necessidade constante de aperfeiçoamento e atualização; Atuação em todas as áreas concernentes à profissão (visão sistêmica); Contribuir para as ações de equipes interdisciplinares e multidisciplinares; Lidar com modelos de gestão inovadores; Compreender a complexidade do mundo globalizado em que vivemos.

Para isso, faz-se necessário que adote as seguintes Atitudes e Procedimentos: Aprender a aprender; Ampla formação cultural - conhecer/saber; Ser criativo e inovador; Conciliar conhecimento teórico e prático; Ser líder e capaz de tomar decisões; Trabalhar em parceria/compartilhar; Estar tecnologicamente atualizado; Saber lidar com produtividade e competitividade; Ter visão estratégica; Possuir espírito empreendedor; Sensível às questões sociais e ambientais; e Flexível às mudanças.

Tal profissional proporcionará à sua empresa as seguintes Vantagens Competitivas: Redução de custos, em função da economia de recursos naturais e diminuição da geração de resíduos; Possibilidades de conquistar mercados restritos, como o da União Européia; Redução das indenizações por responsabilidade civil, e danos ao meio ambiente; e Atendimento às legislações inerentes ao meio ambiente.

Enfim, o profissional moderno, de qualquer que seja a sua área de trabalho, deve conhecer o que é e como aplicar a Gestão Ambiental. Deverá saber que esta visa ordenar as atividades humanas para que estas originem o menor impacto possível sobre o meio ambiente. Esta organização vai desde a escolha das melhores técnicas até o cumprimento da legislação e a alocação correta de recursos humanos e financeiros.

Contudo, há de se considerar que existe uma percepção difusa por diversos setores produtivos, e até mesmo instituições de ensino, particularmente em algumas áreas mais conservadoras, como a Economia ou o Agronegócio Empresarial. Em janeiro de 2007, durante a II Semana Acadêmica de Gestão do Agronegócio da Universidade Federal de Viçosa, foi publicado o artigo intitulado “As sete características mais desejadas no mercado de trabalho” (Fonte: STEFENONI, C. Caderno de Empregos. Jornal A GAZETA, Vitória-ES, 24 set. 2006), quais sejam: ser resistente, ter postura, ter iniciativa, ser humilde, ser honesto, ser responsável e saber se relacionar. Fiz um comentário sobre esse artigo em um jornal local, que em momento algum citou o meio ambiente, acrescentando uma oitava característica: ter sensibilidade ambiental.

Entretanto, felizmente, alguns setores já assumiram tais compromissos com o novo modelo de desenvolvimento, ao incorporarem em seus modelos de gestão a dimensão ambiental. A gestão de qualidade empresarial passa pela obrigatoriedade de que sejam implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens naturais, as fontes de matérias-prima, as potencialidades do quadro humano criativo, as comunidades locais e devem iniciar o novo ciclo, onde a cultura do descartável e do desperdício sejam atitudes do passado.

Atividades de reciclagem, incentivo à diminuição do consumo, controle de resíduo, capacitação permanentes dos quadros profissionais, em diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho em equipe e às ações criativas são desafios-chave neste novo cenário.

Por essas questões, as Faculdades, as Universidades, os Centros de Ensino Técnico e Tecnológico, entre outros, deverão preparar os futuros profissionais, de todas as áreas, de tal forma que percebam que a adoção de Sistemas de Gestão Ambiental é a resposta natural das empresas aos princípios do Desenvolvimento Sustentável; e também de um novo cliente, que cresce exponencialmente: o consumidor verde e ecologicamente correto.
 
* Engenheiro agrônomo, mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável.
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