* A tecnologia de CAD (Computer Aided Design ou desenho auxiliado por computador), especialmente 3D, quebrou paradigmas importantes nos projetos de sólidos mecânicos. Substituiu o trabalho braçal e abriu espaço para projetos mais inteligentes, criativos e funcionais.
As últimas versões de software de CAD estão tão avançadas que realmente ajudam a produzir produtos superiores de forma mais rápida, sem erros e com menor custo, isso graças as novas funcionalidades e tecnologias que foram incorporadas recentemente no mercado. Esse salto de qualidade trouxe no seu vácuo o convite para um passo adiante, um desafio: os projetos sustentáveis.
Mas o que é um projeto sustentável? É uma abordagem holística e abrangente para a criação de produtos ambientalmente benignos, socialmente justos e economicamente viáveis.
Segundo o Instituto Akatu - uma organização não-governamental brasileira para educar e mobilizar a sociedade para o consumo consciente - a humanidade caminha para um beco sem saída.
Se o atual ritmo de exploração do planeta continuar, em um século não haverá fontes de água ou de energia, reservas de ar puro nem terras para agricultura em quantidade suficiente para a preservação da vida.
Hoje, mesmo com metade da humanidade situada abaixo da linha de pobreza, já se consome 20% a mais do que a Terra consegue renovar. Se a população do mundo passasse a consumir nos mesmos padrões de países ricos, seriam necessários mais três planetas iguais a este para garantir produtos e serviços básicos como água, energia e alimentos para todo mundo.
Para se evitar uma catástrofe sócio-ambiental, a única saída, então, é todos adotarmos padrões de produção e de consumo sustentáveis. Para isso, as companhias devem injetar no seu DNA um novo valor, o da sustentabilidade, que é a capacidade de se utilizar os recursos naturais da Terra sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Esse é o desafio lançado para cada engenheiro ou projetista. Além de criar produtos superiores do ponto de vista do design, da funcionalidade e da economia, é preciso pensar na sustentabilidade do planeta, ou seja, o profissional deve levar em consideração como economizar em termos de recursos naturais, quais os impactos no meio ambiente, os resíduos sólidos que gera, o descarte, sua decomposição, etc.
O mundo ideal
Veículos com consumo eficiente de combustível, edifícios com aquecimento solar, usinas de combustão limpa, embalagens recicláveis e iluminação de baixa tensão são exemplos importantes de produtos que ajudam a equilibrar necessidades de consumo com bons cuidados ambientais.
De fato, qualquer produto pode ser fabricado com a sustentabilidade do projeto em mente se os engenheiros quiserem realmente criar produtos utilizando materiais menos perigosos para o meio ambiente.
Entretanto, a natureza humana acredita ser mais fácil deixar tudo como está, mesmo diante de contra-argumentos persuasivos, como por exemplo, o fato de que empresas que planejam visando o futuro são mais lucrativas do que empresas reativas e defensivas.
É possível projetar pensando na reutilização ou reciclagem do produto ao final da vida útil. Por exemplo, o produto pode ser projetado gastando-se menos matéria-prima, como por exemplo, alterando a espessura das paredes de uma peça de 13 mm para 10 mm sem comprometer sua funcionalidade, como o gabinete de uma TV de tela plana.
Da mesma forma, é perfeitamente possível fabricar sem produzir resíduos perigosos, por exemplo, com a eliminação bem-sucedida de soldas à base de chumbo.
Com um panorama claro, não há como postergar a adoção de projetos sustentáveis nas empresas. A Europa, por exemplo, está abrindo caminho para essa mudança na maneira de pensar, tendo recentemente proposto uma Política Integrada de Produtos (IPP, Integrated Product Policy), que, além de promover, impulsiona o desenvolvimento sustentável.
Em um relatório recente, a Cyon Research Corporation esclarece que o princípio central do IPP é que as maiores mudanças em termos de impacto ambiental dos produtos podem ser realizadas durante a fase de projeto (“início da linha de produção”) e não por meio de eficiência dos processos, produção mais limpa ou gerenciamento da poluição (“fim da linha”).
A União Européia calcula que mais de 80% de todos os impactos ambientais relacionados aos produtos são determinados durante a fase de projeto.
Como profissional e indivíduo, cada um de nós pode começar hoje mesmo a contribuir para a sustentabilidade do planeta.
A cada projeto, pergunte:
Qual é o custo das matérias-primas?
Até que ponto o processamento e o tratamento são ambientalmente benignos?
Que energia é necessária para utilizar esse material?
Existe um material que custe o mesmo, mas que seja mais fácil de reciclar?
Existe algum material novo que seja tão resistente a ponto de podermos usar uma quantidade menor para fazer uma peça existente com a mesma durabilidade?
Os resultados de médio e longo prazo serão o impacto reduzido sobre o meio ambiente, redução nos custos de tratamento da água, menos resíduos para os aterros sanitários, prevenção da poluição do solo, do ar e da água, preservação das florestas e da biodiversidade e redução das alterações climáticas.
Pensando e agindo desta forma, podemos almejar um mundo melhor no futuro, seja par aa continuidade dos negócios, seja para a preservação da vida.
Por Oscar Siqueira, country manager da SolidWorks Brasil.
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