A Nissan, que no Brasil produz apenas uma picape e um utilitário esportivo, vai fabricar a partir de 2009 um carro de passeio “mais popular” e mais próximo do “centro do mercado”. O novo veículo será produzido no Complexo Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba), onde também está a unidade brasileira da Renault.
De acordo com o presidente mundial dos grupos Renault e Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, o modelo deverá ser o carro-chefe do projeto de expansão da marca japonesa no Brasil – o único mercado em todo o mundo onde ela ainda opera com prejuízo.
Na entrevista coletiva de ontem, em São Paulo, o executivo não deu mais detalhes sobre o projeto, mas especula-se que o carro poderá ser fabricado sobre a plataforma “B-0”, a mesma do sedã popular Logan e do compacto recém-lançado Sandero, ambos da Renault.
“Abastecer o mercado brasileiro com produção do México e da Tailândia não é uma estratégia permanente”, disse Ghosn, referindo-se aos sete modelos importados que a Nissan vende no Brasil, entre utilitários e carros de passeio. “É isso [o novo veículo] que vai permitir a expansão da marca no Brasil.” A Nissan dobrou suas vendas neste ano e obteve seu melhor resultado desde que começou a produzir no país, em 2002.
No entanto, o volume vendido ainda é muito pequeno – serão 11,5 mil unidades até 31 de dezembro. Com o novo carro, a empresa quer praticamente quadruplicar esse número, chegando a 40 mil carros vendidos no ano de 2009. A fábrica brasileira da Nissan ocupa apenas 20% de sua capacidade máxima, com a produção do modelo antigo da picape Frontier e do utilitário esportivo Xterra.
Em São Paulo, Carlos Ghosn – que na terça-feira visitou a fábrica paranaense – também deu ênfase aos resultados da Renault, marca principal da aliança Renaul/Nissan no Brasil. A montadora francesa espera fechar o ano com 73 mil carros vendidos no mercado doméstico, com crescimento de 43% sobre 2006.
Superior à média do mercado nacional, que deve crescer 27%, o avanço permitiu à empresa aumentar sua participação de mercado. Além disso, a Renault anunciou que vai encerrar 2007 com equilíbrio entre receitas e despesas, o que era esperado apenas para 2008. Desde 1999, quando iniciou a produção no Brasil, a montadora acumulava prejuízos anuais.
“Estou muito satisfeito com 2007. Foi um ano de muito desenvolvimento e crescimento, mas não podemos continuar com uma participação de pouco mais de 3% [das vendas totais de veículos no Brasil]. Precisaremos ter vários outros anos de progresso”, ponderou Ghosn. “Mas temos um time ambicioso para reduzir o ‘gap’ [buraco] que existe entre nossa situação atual e o nosso potencial.”
De acordo com o executivo, apenas 48% dos brasileiros sabem que a Renault produz veículos no país. “Não é um resultado muito bom, e o da Nissan é mais baixo ainda. Outras montadoras têm mais de 90% [de reconhecimento]. Precisamos fazer um esforço para que nossas marcas sejam um orgulho dos brasileiros.”
Ghosn prevê que o mercado automobilístico nacional crescerá no mínimo 10% em 2008 e a Renault, “certamente acima disso”, novamente elevando sua participação nas vendas totais. Em entrevista à Gazeta do Povo no mês passado, o presidente da Renault do Brasil, Jérôme Stoll, estimou um crescimento de 10% para todo o mercado e de 30% para a marca francesa.
Desde meados de 2006, a Renaul/Nissan contratou mil funcionários, como parte dos planos de crescimento das duas marcas, cujo investimento soma US$ 510 milhões (cerca de R$ 920 milhões). O Complexo Ayrton Senna emprega hoje 4,5 mil pessoas, e deve fechar o ano com crescimento de 56% na produção, que chegará a 120 mil veículos, um recorde.
A meta é que, até 2009, o complexo ocupe 90% de sua capacidade instalada. A unidade de São José dos Pinhais foi a primeira em todo o mundo ocupada simultaneamente pelas duas marcas desde o início da aliança, em 1999 – aliança que, segundo Ghosn, é “motivo de orgulho”.
“A Renault/Nissan conseguiu algo raro. É a única aliança que deu certo no mundo todo.Todas as outras foram um colapso, e desapareceram por uma razão simples. Quando não há respeito pela identidade e pela cultura da marca parceira, não dá certo. Na Renaul/Nissan, passamos muito mais tempo colaborando uns com os outros do que entrando em conflito.”
Gostou? Então compartilhe:
Últimas notícias de Mercado