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A decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio gerou forte reação do setor industrial brasileiro. O Instituto Aço Brasil e a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) divulgaram notas oficiais expressando surpresa e preocupação com os impactos econômicos da medida anunciada nesta segunda-feira (10). Ambas as entidades destacam que as novas taxas podem comprometer o fluxo comercial entre os dois países e prejudicar a competitividade das exportações brasileiras. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também lamentou a decisão dos EUA, destacando o impacto na indústria brasileira, que destina 54% das exportações desses produtos ao mercado americano. A entidade busca, junto ao governo brasileiro, um diálogo para reverter a medida.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o Brasil exportou US$ 4,1 bilhões FOB em produtos de ferro e aço para os Estados Unidos em 2024, sendo esse o principal destino das exportações brasileiras do setor, com 54,4% do total embarcado. O valor representou 1,2% das exportações totais de bens do país e 10,4% do total exportado pelo Brasil para os EUA no ano passado. Além do mercado americano, os principais destinos desses produtos foram México (4,6%), Canadá (3,7%), Peru (2,7%), República Dominicana (2,7%) e França (2,3%). Em 2023, o Brasil foi o quarto maior fornecedor de ferro e aço para os EUA, com 8,2% do total importado pelo país, atrás de Canadá (23,4%), México (12,4%) e Coreia do Sul (9,7%).
“Essa medida é prejudicial tanto para a indústria brasileira quanto para a norte-americana. Lamentamos a decisão e vamos atuar em busca do diálogo para mostrar que há caminhos para que seja revertida. Temos todo o interesse em manter a melhor relação comercial com os EUA, que hoje são o principal destino dos produtos manufaturados do Brasil, mas precisamos conciliar os interesses dos setores produtivos dos dois países”, afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.
No caso do aço, a nova alíquota revoga o acordo firmado em 2018, durante o primeiro mandato do ex-presidente Donald Trump, que estabelecia cotas para a exportação brasileira ao mercado norte-americano. Segundo o Instituto Aço Brasil, esse acordo beneficiava tanto o Brasil quanto os Estados Unidos, uma vez que a indústria americana depende das placas brasileiras para suprir sua demanda interna. Em 2024, o país importou 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, das quais 3,4 milhões vieram do Brasil.
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"As exportações brasileiras de produtos de aço para os Estados Unidos cumpriram integralmente as condições estabelecidas no regime de 'hard quota', não ultrapassando, em momento algum, os volumes estabelecidos tanto para semiacabados como para produtos laminados", diz a entidade em nota.
A entidade também contesta a justificativa apresentada pelo governo americano para a imposição das novas tarifas, afirmando que “inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os Estados Unidos de produtos de aço oriundos de terceiros países”. Além disso, ressalta que o Brasil também enfrenta concorrência desleal de países como a China e já adota medidas de defesa comercial para mitigar os impactos dessas importações.
O setor do alumínio também será fortemente afetado pela decisão americana. A ABAL aponta que, embora o Brasil represente menos de 1% das importações americanas do metal, os Estados Unidos são um mercado importante, correspondendo a 16,8% das exportações brasileiras do setor em 2024 - o que movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Com a nova taxa, os produtos brasileiros perderão competitividade, tornando-se menos atrativos comercialmente, segundo a entidade.
Outro ponto de incerteza destacado pela ABAL é a falta de clareza sobre a aplicação da tarifa. Ainda não está definido se a nova taxa de 25% substituirá a já existente de 10% ou se será adicionada a ela, elevando a alíquota total para 35%. Além disso, diferentemente de medidas anteriores, não há previsão de isenções para nenhum país, o que amplia as dificuldades para os exportadores brasileiros.
Além dos impactos diretos nas exportações, a ABAL alerta para os efeitos indiretos da medida, como a possibilidade de desvio de comércio. Produtos que perderem acesso ao mercado americano poderão ser redirecionados para o Brasil, aumentando a concorrência no mercado interno e pressionando ainda mais os preços da indústria nacional. Esse fenômeno pode resultar em uma saturação de produtos a preços desleais e afetar a sustentabilidade do setor.
O Instituto Aço Brasil e a ABAL defendem a necessidade de fortalecer os mecanismos de defesa comercial e revisar a política tarifária nacional para proteger a indústria brasileira diante desse novo cenário global. “Cenários desafiadores como este requerem sensibilidade e diálogo na construção de soluções”, afirma a ABAL, ressaltando que o momento exige ações estratégicas para evitar impactos ainda mais severos na economia.
Ambas as entidades estão em contato com o governo brasileiro para discutir medidas que possam minimizar os prejuízos e buscar alternativas diplomáticas. O Instituto Aço Brasil se mantém confiante na possibilidade de um diálogo entre os governos dos dois países para restabelecer o fluxo de produtos siderúrgicos nos termos acordados anteriormente, enquanto a ABAL busca compreender melhor as implicações da medida e explorar soluções para manter a competitividade da indústria nacional.
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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