Tecnologias apropriadas, gestão de tecnologias e desenvolvimento sustentável

Maurício Novaes Souza (*)
 
Analisando o comportamento da humanidade ao longo de sua história, observam-se um enorme fascínio pelo uso de novas tecnologias, associadas ao desenvolvimento de novos produtos e/ou processos de produção. Porém, apesar de significativas vantagens proporcionadas com essas inovações, servindo de auxílio para a solução de grandes problemas, questiona-se a sua efetividade, com inúmeras dúvidas, tais como:

· Tem havido melhoria na qualidade de vida?;
· Até onde ir com a modernização dos padrões tecnológicos?;
· Algumas tecnologias contribuem efetiva e decisivamente para o aumento do bem-estar dos indivíduos e o aprimoramento dos sistemas sociais?;
· Estariam as inovações levando apenas à degradação progressiva da qualidade da vida humana?;
· Qual têm sido a participação e o grau de envolvimento dos centros de pesquisa e universidades públicas nessas questões?

Estas perguntas devem ser profundamente analisadas quando o objetivo é o desenvolvimento sustentável, e as suas respostas devem estar apoiadas no campo ético-moral.

A ciência moderna modificou a natureza dos objetos técnicos porque os transformou em objetos tecnológicos, isto é, em ciência materializada, de tal maneira que a teoria cria objetos técnicos e estes agem sobre os conhecimentos teóricos. A ciência contemporânea foi além ao transformar os objetos em autômatos, capazes de intervir não só sobre teorias e práticas, mas sobre a organização social e política.

Dessa forma, a ciência e a técnica contemporâneas se tornaram forças produtivas e trouxeram um crescimento brutal do poderio humano sobre a realidade total, a qual é construída pelos próprios homens. As tecnologias desenvolvidas revelam a capacidade humana para um controle total sobre a natureza, a sociedade e a cultura. Controle que, não sendo puramente intelectual, mas determinado pelos poderes econômicos e políticos, pode ameaçar todo o planeta.

Na busca para o desenvolvimento sustentável, não podem ser considerados apenas fatores como a eficiência para afirmar que uma determinada tecnologia é apropriada para a manutenção, elevação ou degradação da qualidade de um determinado sistema social, sendo necessário a definição do grupo de critérios a serem utilizados para a determinação se uma tecnologia é apropriada ou não.

Questões como o consumo de energia na produção, geração de resíduos e o tempo para a degradação natural de um produto, devem ser considerados no desenvolvimento das novas tecnologias, que deverão possuir os atributos e critérios das tecnologias apropriadas.

Atributos e critérios das tecnologias apropriadas

O conceito de desenvolvimento sustentável, que é condicionado a posturas ética-morais e sustentado por uma efetiva eqüidade social, tem criado uma série de tecnologias alternativas ou intermediárias, onde recentemente várias linhas de pesquisa têm sido desenvolvidas. Três ênfases básicas podem ser identificadas no desenvolvimento do conceito de tecnologia apropriada:

· a preocupação com o significado sócio-político das tecnologias;
· com o seu tamanho, nível de modernidade e sofisticação; e
· com o impacto ambiental causado por elas.

Os atributos e critérios das tecnologias para se atingir o desenvolvimento sustentável são aqueles que garantem:

· a manutenção em longo prazo dos recursos naturais e da produtividade agropecuária e florestal;
·  mínimo de impactos adversos aos produtores;
·  retorno adequado aos produtores;
· otimização da produção com o mínimo de insumos externos, reduzindo os riscos de poluição e aumento da entropia no sistema;
· satisfação das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais; e
· satisfação das necessidades humanas de alimentos e renda.

Baseado nesses princípios e condições, considerando a cultura e desejo pessoal dos produtores e das comunidades, devem sair as linhas de pesquisa que definirão as tecnologias apropriadas.

Importantes pesquisadores já propuseram um grupo de critérios para analisar de maneira multidimensional as tecnologias:

· Eficiência econômica;
· Escala de funcionamento;
· Grau de simplicidade;
· Densidade de capital e trabalho;
· Nível de agressividade ambiental;
· Demanda de recursos finitos; e
· Grau de autoctonia e auto-sustentação.

Todos os conceitos - educacionais, liberdades individuais e coletivas, etc. - devem estar articulados com os conceitos de sustentabilidade dos recursos naturais, porém embasados sob uma nova ética, a qual, a par de novas tecnologias, produzirão avanços consistentes e consolidados na gestão dos recursos naturais e no enfrentamento da escassez atual e futura.
 
Gestão da tecnologia

Os avanços científicos e tecnológicos voltados para o setor produtivo deverão permitir a implantação de indústrias limpas, que estão na base de um crescimento econômico mais equilibrado e integrado como o meio ambiente. Para isso deve haver uma visão equilibrada e integrada do meio ambiente, sistêmica, que favoreçam a própria gestão da tecnologia.

Dessa forma, os usos de tecnologias apropriados oferecerão oportunidades de otimizações regionais, absorvendo a tradição cultural do meio onde estão inseridas, oferecendo uma base empírica para a compreensão dos problemas locais e favorecendo o surgimento de empreendimentos. No meio urbano, a produção mais limpa é uma solução; na área rural, os modelos de produção agroecológicos podem ser considerados fortemente inseridos nessas propostas.

Antes de avançarmos no tema Recuperação Ambiental, tão discutido nos tempos recentes, é necessário conhecer um pouco mais sobre Impactos Ambientais e a importância de sua prévia avaliação na fase de planejamento de uma determinada atividade a ser implantada.

Facilitará de maneira decisiva a implementação e monitoramento dos Sistemas de Gestão Ambiental, garantindo a sustentabilidade da atividade, evitando o surgimento de áreas degradadas e a necessidade de recuperá-las: procedimentos geralmente onerosos, e de difícil implementação.
 
* Engenheiro agrônomo, mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e doutorando em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professor do CEFET - Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável.
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