Foto: BS Colway
Ao completar sete anos e meio de produção, a brasileira BS Colway, maior fabricante de pneus remoldados do Mundo, anunciou (sex.07.dez.2007) a demissão de todos os funcionários de sua fábrica e dos programas sociais que mantém em Piraquara, região metropolitana de Curitiba.
A razão é a proibição do governo brasileiro à importação da matéria-prima – pneus usados europeus – imprescindível à produção de
remoldados na qualidade que a fez conquistar 12% do mercado nacional de reposição. De 24 remoldadoras brasileiras, apenas a BS Colway e outra, ambas do Paraná, tiveram importação suspensa, segundo denuncia o presidente da empresa, Francisco Simeão, também presidente da Abip – Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados.
"As outras 22, todas fora do Paraná, continuam importando normalmente, e não foram sequer objeto de representação da AGU – Advocacia Geral da União, que em nome do Presidente da República provocou a decisão liminar do STF – Supremo Tribunal Federal que nos cortou a matéria-prima. A injustiça é dirigida a nós, porque lideramos um segmento da indústria brasileira que ousou desafiar as multinacionais", diz Simeão.
Segundo ele, se a situação não for revertida até o recesso (21.dez.2007) do STF, 700 demissões virão se somar às 500 havidas desde que a falta de matéria-prima obrigou a BS Colway a reduzir para dois os quatro turnos de trabalho que produziam 200 mil pneus por mês até ano passado. Em 2005 e 2006, a BS Colway, "Marca de Confiança do Consumidor Brasileiro", em escolha da Seleções de Reader's Digest, superava em dois pontos percentuais a média mundial de participação de remoldados, que é de 10%.
Além dos empregos diretos, serão afetados perto de cinco mil funcionários de cerca de 400 lojas e centros automotivos, mais os beneficiários dos programas sociais do IBS – Instituto BS Colway Social: 400 estudantes do Bom Aluno, que leva até a universidade os melhores alunos carentes de escolas públicas; sete mil escolares da Vila da Cidadania, mini-cidade para ensinar civismo desde o primeiro grau; mil escoteiros do Grupo Guardião das Águas, que protege os mananciais da água da região; e seis mil coletadores de pneus inservíveis do Rodando Limpo em vários estados.
"O senso de justiça dos ministros do STF, e em especial da presidente Ellen Gracie, certamente impedirá que se faça tanto mal a tanta gente humilde e trabalhadora", diz Simeão, ao voltar de uma semana inteira em Brasília fazendo gestões em todas as áreas do Governo – Executivo, Legislativo e Judiciário.
Contra o argumento da AGU de que a importação causa danos ambientais e de saúde pública, Simeão apresenta laudo em que o IAP – Instituto Ambiental do Paraná afirma não haver constatado aumento do passivo ambiental e nem liberação de substâncias tóxicas no solo ou na atmosfera.
Também exibe comprovantes da Petrobras e das cimenteiras Votorantim e Cimpor, que deram destinação ambientalmente adequada a mais de 17 milhões de pneus inservíveis coletados pelo programa Rodando Limpo no Paraná, Santa Catarina, Paraíba, Alagoas e Pernambuco.
O presidente da BS Colway calcula que poderão chegar a US$ 20 milhões os prejuízos com a paralisação do parque fabril ("máquina foi feita para produzir; parada, vira sucata"). Desde a suspensão de sua guia de importação pelo STF, retendo no porto de Paranaguá 200 mil pneus usados e causando a falta da matéria-prima, a empresa acumulou prejuízo de US$ 3 milhões.