A indústria que Geraldo Alckmin quer

Em entrevista para Revista Indústria Brasileira, o vice-presidente da República afirma que uma indústria inovadora, digitalizada e com alta complexidade tende a criar melhores empregos

Lançado pelo governo federal em janeiro de 2024, o programa Nova Indústria Brasil (NIB) tem como objetivo fortalecer as cadeias produtivas da indústria brasileira, explica Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). “A NIB busca uma indústria altamente tecnológica, verde, competitiva e exportadora”, resume ele em entrevista à Revista Indústria Brasileira. Segundo Alckmin, o programa promoverá empregos qualificados e elevará a renda dos brasileiros. Leia na íntegra:

Quais são as principais metas do programa Nova Indústria Brasil?

O Nova Indústria Brasil tem como principal objetivo alavancar o desenvolvimento do país, com mais emprego, mais renda e mais qualidade de vida, por meio do fortalecimento da indústria em bases inovadoras e sustentáveis. A NIB busca uma indústria altamente tecnológica, verde, competitiva e exportadora. Para isso, no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), definimos seis missões prioritárias e os mecanismos de financiamento, que envolvem recursos orçamentários, crédito financeiro e financiamento público.

Como vão funcionar os mecanismos de financiamento?

Criamos, com a NIB, o Plano Mais Produção, inicialmente com R$ 300 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Desse total, R$ 100 bilhões já foram aprovados em operações de projetos industriais. Todos esses instrumentos têm o objetivo de fazer com que a indústria volte, de fato, a crescer e gerar emprego, mas, acima de tudo, que ela se torne mais complexa tecnologicamente e que o fortalecimento das cadeias produtivas gere efeitos positivos em outros setores da atividade econômica, principalmente no de serviços, que demandará mão de obra mais qualificada, contribuindo para que o Brasil crie um ambiente favorável para o desenvolvimento, para o crescimento de longo prazo e para a atração de investimentos.


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Como a NIB poderá estimular as exportações?

Em 2023, o Brasil bateu recorde histórico de exportações e de saldo comercial, com superávit de quase US$ 100 bilhões, mesmo num contexto de recuo do comércio mundial. Em 2024, continuamos tendo bons resultados, inclusive com aumento de importações, reflexo de uma economia que voltou a ganhar dinamismo com o governo do presidente Lula. O nosso desafio é ampliar a pauta exportadora com produtos manufaturados e de maior valor agregado, que geram mais empregos, mais renda e mais divisas para o país. No Plano Mais Produção, reservamos R$ 40 bilhões para apoio e estímulo às exportações, por meio de financiamento do BNDES em linhas de pré e pós-embarque. Desse total, R$ 16,1 bilhões já foram contratados, com R$ 10,5 bilhões efetivamente liberados. O MDIC também tem atuado para melhorar o ambiente econômico com medidas de regulação, redução de custos, eliminação de burocracia e digitalização de operações. Exemplos disso são a criação do Certificado de Origem Digital para exportação de carnes de aves à União Europeia e ao Reino Unido e as licenças flex para simplificar exportações e importações.

Qual é sua expectativa em relação a novos investimentos em inovação após o programa?

A NIB e o Novo PAC são hoje as grandes oportunidades do Brasil para atração de investimentos. A Nova Indústria Brasil já demonstrou resultados positivos com o programa Mover, voltado para o setor automotivo, que foca a mobilidade e a logística sustentável de baixo carbono. Desde o anúncio da NIB, as montadoras já anunciaram investimentos de R$ 130 bilhões. O setor siderúrgico informou que pretende investir R$ 100,2 bilhões até 2028. Desde janeiro de 2023, houve um crescimento de 16,9% de investimento no país. Os índices de confiança estão aumentando, sobretudo a confiança dos consumidores. Além disso, estamos com o menor desemprego desde 2014, e a inflação está rodando abaixo de 4%. O Novo PAC é o maior programa de investimentos da história do Brasil, com R$ 1,7 trilhão de recursos públicos e privados para todos os estados. Ele envolve ações e obras nas áreas de infraestrutura, transporte, saúde, cidades sustentáveis, acesso a água, transição energética, educação, ciência e tecnologia, inovação na indústria da defesa e inclusão digital e conectividade.

Há alguma estimativa sobre a criação de emprego e renda?

No Brasil, atualmente, de cada dez empregos, sete são de baixa qualificação, e isso tem a ver com o fato de a nossa indústria ter perdido protagonismo. Com a NIB, queremos modificar justamente esse quadro. Uma indústria inovadora, digitalizada e com alta complexidade tecnológica tende a gerar melhores empregos não só na sua linha de produção, mas em toda a cadeia, para trás e para frente, sobretudo no setor de serviços. Não trabalhamos a priori com estimativas, mas com o objetivo claro de promover o emprego qualificado, que vai contribuir muito para elevar a renda do povo brasileiro.