Fonte: Abiodiesel - 28/11/07
Foto: Divulgação
Nunca se falou tanto em proteção ao meio ambiente quanto nos últimos tempos. As conseqüências das mudanças climáticas no planeta são visíveis e as conseqüências podem ser notadas por todo o globo. Pensando em como será o futuro da humanidade, governos e entidades têm se empenhado para tentar reduzir a quantidade de agentes poluidores na atmosfera, além de possíveis substitutos ao maior dos vilões no combate ao aquecimento global: os combustíveis fósseis.
No Brasil, o primeiro passo já foi dado há pelo menos 40 anos, quando o Governo lançou o ProÁlcool, na década de 60, como alternativa à crise do petróleo. Com isso, a tecnologia para a produção do etanol teve suas bases fincadas no país e continuou se desenvolvendo. Com o advento dos biocombustíveis – fontes de energia renováveis, infinitas, originadas de produtos vegetais – o Brasil tornou-se um dos principais produtores de combustíveis menos poluentes.
- No momento, o Brasil possui a vanguarda na produção do etanol, através da cana-de-açúcar, produzindo cerca de 18 bilhões de litros do combustível, só sendo superado pelos EUA, cuja principal matéria-prima é o milho – revelou Luiz Fernando Laranja, coordenador do programa Agricultura e Meio Ambiente da WWF Brasil.
Apesar dos Estados Unidos estarem prestes a superar o Brasil em termos de produtividade, a cana-de-açúcar apresenta menor balanço energético – que é o quanto se gasta, em termos de energia, para produzir mais energia – ou seja, enquanto os norte-americanos precisam de um litro de álcool para produzir 1,3 partes de energia do milho, o Brasil gasta um litro para produzir oito partes de energia.
Mas nem só de milho e cana-de-açúcar vivem os biocombustíveis. Existem diversos outros tipos de matérias-primas, como a beterraba, a mamona, a uva e cereais de forma geral. Aurelio Lamare Soares Murta, mestre em Engenharia de Transportes pelo IME e pesquisador doutorando da COPPE, afirma que, apesar da superioridade americana, o Brasil possui todos os ingredientes necessários para ter produtividade maior que os Estados Unidos.
- O Brasil possui todos os ingredientes. Temos solo fértil, clima tropical e tecnologia desenvolvida. O milho dos EUA se torna menos rentável por ser também destinado à alimentação – disse.
Opinião semelhante tem Laranja, que afirma que o fato dos EUA produzirem combustível de matéria-prima também destinada à alimentação pode prejudicar a balança comercial americana.
- A tendência é que quanto mais os norte-americanos produzirem álcool do milho, mais o preço do produto aumenta no mercado internacional, o que pode levá-los a optar por outro tipo de matéria-prima. Relatórios já garantem que a situação nos Estados Unidos é alarmante – afirmou.
Além do álcool, o Brasil também tem investido muito na produção do biodiesel, combustível utilizado em veículos de grande porte, como ônibus e caminhões e que é uma alternativa ao diesel obtido através do petróleo. Por ainda encontrar-se em fase de estudo, o Governo Federal permite apenas que 2% do combustível seja adicionado ao diesel comum.
Enquanto isso, cada vez mais se tem investindo em tecnologia no país. Segundo Laranja, o principal pólo de pesquisas encontra-se na região de Piracicaba, em São Paulo, além da USP e diversas empresas privadas, que têm feito importantes avanços na área. A COPPE, da UFRJ, também se destaca na área. O Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG), da COPPE/ UFRJ, vem desenvolvendo estudos a partir de diversas matrizes oleaginosas, entre elas óleo de soja virgem e óleo residual de fritura, além do dendê.
- Fizemos um projeto em parceria com a Comlurb, que adotou durante dois anos o uso de 5% de biodiesel (B5) misturado ao diesel nos caminhões de coleta, sem problemas para a frota em relação aos carros que usam diesel comum. A Companhia Vale do Rio Doce também participou de projeto parecido e vai, inclusive, adotar o B20, feito de dendê, em locomotivas – informou Murta, coordenador executivo do IVIG.
Apesar de todo esse investimento, Laranja faz questão de ressaltar que os biocombustíveis não vão substituir definitivamente os combustíveis fósseis.
- Isso é impossível. Se os biocombustíveis fossem realmente substituir os derivados do petróleo, ninguém plantaria mais nada no mundo que não matéria-prima. Eles são uma alternativa a mais para diversificar a matriz energética e só podem substituir em 15 ou 20% os combustíveis fósseis – afirmou.
– O que temos que fazer é investir em tecnologia de outros tipos de energia, como a eólica e a solar, por exemplo. Somente com a diversificação poderemos realmente combater o aquecimento global e resolver o problema da escassez de petróleo no mundo - ponderou.