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Em entrevista à Revista Indústria Brasileira, o professor titular da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) entre 2011 e 2015, Glauco Arbix, responde 5 perguntas sobre o conceito de política industrial e como ela pode ser útil no desenvolvimento do país. O especialista pontua que a industria brasileira precisa de novos métodos para se diferenciar da base antiga.
Revista Indústria Brasileira: O que é política industrial?
Glauco Arbix: Política industrial consiste em um conjunto de propostas, instrumentos, regras e objetivos que procuram mudar o patamar da indústria. No caso brasileiro, precisamos de uma política que não vise apenas recuperar a indústria, como sugere o termo “reindustrialização”. A indústria brasileira precisa ser renovada, precisa ter base e objetivos distintos daqueles existentes nas políticas industriais do passado.
É preciso incorporar novas metodologias, instrumentos e tecnologias e qualificar as pessoas para um mundo diferente. Vivemos um novo ciclo tecnológico, e tanto o Brasil quanto a nossa indústria estão muito atrasados. É claro que existem empresas, aqui, que estão trabalhando no mesmo padrão das mais avançadas do mundo, mas, no geral, temos um parque industrial de baixo desempenho.
Leia também: O que é e como funciona a política industrial
A competitividade e a produtividade da nossa indústria são muito baixas, e isso significa que temos muita dificuldade para competir no mercado internacional e para produzir bens mais sofisticados, que o mundo, os consumidores e os mercados exigem. Se não tivermos essas competências, vamos ficar ainda mais para trás. Por isso, uma política industrial é, mais do que nunca, necessária para elevar o padrão de produtividade e competitividade.
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RIB: Quais são as diretrizes para uma política industrial moderna?
GA: Acredito que existem três grandes linhas que precisam fundamentar a política industrial destes tempos. A primeira é o digital. O mundo digital está aí e precisamos focar nas tendências para não nos pautarmos por uma visão de curto prazo, que não nos permite pensar na elevação do patamar de competitividade das empresas.
A segunda linha é a sustentabilidade. Empresas que não olharem para o meio ambiente, que não trabalharem com as perspectivas de redução de impactos nas mudanças do clima, estarão desconectadas das demandas do mercado global. A terceira linha diz respeito à realidade do Brasil, aos aspectos sociais. Vivemos em um país com grande déficit do ponto de vista social.
Então, precisamos de uma política industrial que zele pelo emprego, pelo salário. Nós não vamos ter um país de ponta com o nível de desigualdade que temos hoje, e seria ingenuidade pensar o contrário.
RIB: Em que medida a diretriz social dialoga com a da tecnologia?
GA: Precisamos parar de acreditar no que alguns chamam de “determinismo tecnológico”, ou seja, que a tecnologia vai substituir as pessoas. Diversos casos mostram como a tecnologia pode ser geradora de empregos e de posições com remunerações mais altas.
Não somos um país desenvolvedor e gerador de novas tecnologias, então precisamos trabalhar para nos aproximarmos das nações que possuem as melhores e mais avançadas tecnologias, de modo que não fiquemos para trás. Entretanto, sabemos que reunir tecnologia, sustentabilidade e questões sociais não é uma questão simples.
Por isso, o governo precisa conversar com os empresários, com quem trabalha, com os sindicatos e com as associações. Ninguém sabe de tudo sozinho; é preciso união.
RIB: Qual é a importância da política industrial para o desenvolvimento de um país?
GA: Em primeiro lugar, ela articula os principais agentes que interferem na economia e na sociedade, como os setores público e privado, as universidades e os centros de pesquisa. Em segundo lugar, ela aponta a direção na qual o país quer caminhar, fixando metas e prioridades. Quando se define uma política industrial, ela vem acompanhada de metas, objetivos, orçamentos.
Não é um plano, não é um papel a mais. Não é um documento para ficar na gaveta ou para enfeitar uma estante em Brasília. É com diretrizes, políticas e instrumentos efetivos, com orçamento designado, que conseguiremos avançar de forma minimamente planejada.
RIB: Quais são os erros mais comuns em se tratando de política industrial?
GA: O Brasil, no passado, tinha como base uma economia fechada e protegida. Nos anos 1950 e 1960, o país decidiu se industrializar. Naquele momento, não estou discutindo se fez certo ou não. O Brasil chamou empresas de fora, mas, ao mesmo tempo, colocou uma série de barreiras para a importação de bens, o que estimulou a produção interna.
Hoje, temos um mundo globalizado, interconectado, e os países que tentarem se fechar vão se dar mal. É claro que qualquer abertura precisa ser responsável, mas tem que ter abertura. Inclusive porque não existe inovação em ambiente protegido. Então, temos que tirar da frente qualquer ideia de aumentar a proteção ou de fechar a economia.
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