Desafio climático: Governos dobram produção de combustíveis fósseis

Governos planejam produzir 110% mais combustíveis fósseis até 2030, desafiando metas climáticas, revela novo relatório

O relatório intitulado "Redução ou aumento gradual? Os principais produtores de combustíveis fósseis planejam ainda mais extração, apesar das promessas climáticas", revelou que os governos pretendem aumentar a produção de combustíveis fósseis em 110% até 2030, desafiando as metas de limitação do aquecimento global.

Em julho de 2023, registrou-se o mês mais quente já documentado, sendo provavelmente o mais elevado em cerca de 120 mil anos, conforme apontado por cientistas. Globalmente, eventos extremos como ondas de calor, secas, incêndios florestais, tempestades e inundações estão provocando impactos severos, resultando em perdas de vidas e meios de subsistência. Esses eventos ressaltam a presença evidente da mudança climática induzida pelo homem. As emissões globais de dióxido de carbono atingiram níveis históricos em 2021-2022, com quase 90% provenientes de combustíveis fósseis.

O relatório divulgado na última semana, produzido pelo Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI), Climate Analytics, E3G, Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), destaca a necessidade urgente de reduzir drasticamente a produção e uso de carvão, petróleo e gás. Recomendações incluem a eliminação quase total da produção de carvão até 2040 e uma redução de três quartos na produção de petróleo e gás até 2050. A diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, ressaltou que "os planos dos governos estão prejudicando a transição energética necessária", reforçando a importância de adotar fontes de energia limpa.


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Mesmo com 151 governos comprometidos com emissões líquidas zero, nenhum deles se comprometeu a reduzir a produção de carvão, petróleo e gás alinhada com a meta de aquecimento de 1,5°C. O secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que "os governos estão literalmente dobrando a produção de combustíveis fósseis", alertando para os impactos dessa decisão na catástrofe climática.

O relatório aponta para a necessidade de uma transição justa e equitativa, especialmente para os países com menos recursos. Michael Lazarus, diretor do Centro do SEI nos EUA, destaca que "os governos com maior capacidade de fazer a transição têm a maior responsabilidade de fazê-lo, ao mesmo tempo em que fornecem financiamento e apoio para ajudar outros países a fazer o mesmo". A COP28, programada para breve, surge como um momento crucial para os governos se comprometerem com a eliminação gradual de todos os combustíveis fósseis, reconhecendo o papel crucial dos produtores nesse processo.

O analista de clima e energia do Climate Analytics, Neil Grant, destaca a urgência de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis para alcançar metas climáticas. Angela Picciariello, pesquisadora sênior do IISD, ressalta a disparidade entre as promessas de emissões líquidas zero e o aumento contínuo na produção de combustíveis fósseis. Katrine Petersen, consultora sênior de políticas da E3G, enfatiza a necessidade de os governos alinharem políticas com a transição para a energia limpa, alertando sobre os riscos econômicos e climáticos.