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Pascoal Gomes | 31/05/2023
Notícias
Nas diferentes variações do transporte de cargas, a atenção tem se voltado, sobretudo, para a descarbonização da cadeia logística
É notório que, nos últimos anos, o compromisso com uma agenda sustentável tem sido uma das prioridades para as empresas em todo o mundo. Segundo o relatório ESG Radar 2023, da consultoria Infosys, o conceito de ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance) tem se tornado tema central no ambiente corporativo, tendo em vista que os investimentos das companhias em iniciativas desta natureza devem chegar a US$ 53 trilhões até 2025.
Inclusive, uma pesquisa desenvolvida pela MIT Center for Transportation & Logistics demonstra que os grandes players não estão fora dessa realidade, apostando em ações para uma logística sustentável nas operações. O estudo, intitulado State Of Supply Chain Sustainability, indica que 59% das empresas globais investem em sustentabilidade na cadeia logística.
No Brasil, observamos que a adoção de uma agenda ESG vem sendo cada vez mais discutida, conforme apontam dados de estudo realizado pela KPMG, que indicam que 76% das empresas brasileiras incluem práticas ESG em suas estratégias de negócio. Essa direção tem sido tomada não apenas por empresas privadas de todos setores, mas também por órgãos públicos, bancos e gestores de investimento, incentivados por uma regulamentação em construção, mas que já atende aos padrões internacionais.
Companhias alinhadas às práticas ESG e a princípios como transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa têm melhor desempenho nos negócios, atração de investidores de peso e linhas de crédito, bem como a possibilidade de construir uma cadeia de suprimentos mais aderente aos valores da marca. Além disso, essas ações refletem diretamente no engajamento das equipes, tornando a experiência do cliente ainda mais próxima e eficiente.
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Indo ao encontro desses conceitos, para fortalecer a posição de uma companhia com relação à sustentabilidade, é fundamental a divulgação de relatórios que exemplifiquem na prática as ações desenvolvidas. A partir deste documento, é possível apresentar para a sociedade, fornecedores, parceiros, colaboradores e investidores, de forma transparente e detalhada, o comprometimento da companhia com iniciativas efetivas e de relevância para uma agenda ESG.
Sendo assim, adotar uma postura comprometida com o bem-estar ambiental coloca empresas de todos os segmentos em uma posição estratégica no mercado, podendo refletir em maior eficiência na prestação de serviços, qualidade nas operações e, ainda, fidelização dos clientes.
Nas diferentes variações do transporte de cargas, a atenção tem se voltado, sobretudo, para a descarbonização da cadeia logística. Entre as prioridades das empresas que atuam neste segmento está a redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Para lidar com este cenário, é essencial adotar um projeto sólido que esteja atento às mudanças climáticas e que conte com ações que mitiguem a emissão de gases na atmosfera.
Neste sentido, a cabotagem emerge como a opção logística com menor impacto ao meio ambiente, tendo em vista a redução de até 80% na emissão de GEE, se comparado ao mesmo volume de cargas transportado pelo modal rodoviário. Além disso, de acordo com as premissas do GHG Protocol, a cada tonelada de bunker (combustível usado nos navios) economizada, evita-se a emissão de 3,16 t de CO². Dessa forma, os benefícios oferecidos pelo modelo, sobretudo com relação à eficiência energética e redução da emissão de gases poluentes, têm despertado o interesse das empresas pelo modal.
Já nos terminais portuários, é necessário contar com um plano consistente para a manutenção de máquinas e equipamentos, assegurando o bom funcionamento, bem como o controle de emissões. Além disso, é crucial adotar medidas que tornem a matriz energética mais sustentável, como melhorar a eficiência energética de todos os processos, bem como a utilização de fontes renováveis. Sendo assim, os terminais e os fornecedores devem atuar em conjunto para estimular o uso de energia limpas nestes ambientes, especialmente em transportes pesados.
O controle contínuo do consumo de água durante as operações, a adoção de Estações de Tratamento de Água (ETA), bem como de tratamento de resíduos e efluentes oleosos, são etapas fundamentais para aprimorar os resultados relacionados a iniciativas ambientais. Além disso, é importante que os gestores estejam atentos a detalhes intrínsecos à operação que possam ser aperfeiçoados.
Para além do engajamento sustentável, adotar uma postura alinhada às práticas de ESG também é fundamental para oferecer contribuições que impactem tanto os colaboradores das empresas, como a sociedade em geral.
Pautas sociais, como o incentivo à diversidade, também merecem atenção redobrada por parte das organizações. Para isso, a criação de programas que incluam pessoas pertencentes de grupos minoritários de diferentes etnias, orientações sexuais, PCDs e mulheres são fundamentais para a construção de um espaço mais inclusivo.
Esse é um passo fundamental para a luta a favor da equidade de gênero no setor logístico, cujas principais posições são majoritariamente masculinas. Para se ter uma ideia, segundo levantamento realizado pela plataforma de recursos humanos Gupy, embora a presença feminina no setor tenha aumentado entre os anos de 2020 (18,62%) e 2021 (28,05%), o número ainda é inferior à participação masculina, que representa 81,38% e 71,95%, se comparados o mesmo período.
Da mesma forma, estar em conformidade com as normas da Política SSMA (Segurança, Saúde e Meio Ambiente) e as medidas do SST (Saúde e Segurança do Trabalho), são indicadores cruciais para garantir mais qualidade de vida aos colaboradores e terceiros. Nesse sentido, as empresas devem ter o compromisso em adotar alternativas que reduzam os riscos de acidentes rodoviários e navegação.
Diante disso, práticas que envolvam a criação de programas que analisem a exposição dos colaboradores a riscos, realização de exames específicos para cada função, acesso ao atendimento médico de qualidade e campanhas que incentivem hábitos saudáveis são só alguns exemplos que corroboram para práticas atreladas à segurança e ao bem-estar.
Para além das ações desenvolvidas internamente, as companhias devem imergir na realidade das comunidades em seu entorno, sejam dos terminais portuários ou multimodais. A integração das comunidades com as empresas é essencial para o desenvolvimento socioeconômico dessas regiões. Por meio de iniciativas voltadas à educação e empreendedorismo, por exemplo, é possível construir um relacionamento sólido, saudável, sustentável e próspero entre ambas as partes.
Todos estes fatores baseiam-se em uma estrutura de governança formada por comitês e diretorias que definem as melhores decisões para o sucesso dos negócios, levando em consideração os aspectos éticos e ecologicamente corretos, alinhados aos valores da companhia.
Tais ações oferecem maiores garantias de segurança para todo o corpo da empresa. A partir deste propósito, a estruturação de um compliance robusto, com iniciativas anticorrupção, a implementação de um Comitê de Riscos e treinamento para a gestão de possíveis problemas que possam impactar o desenvolvimento dos negócios da marca, faz-se crucial.
O fato é que as empresas que não se adequarem às principais tendências de ESG, não serão competitivas a longo prazo. Por meio dessas práticas, é possível gerar ganhos para a sociedade como um todo, além de expandir os negócios tendo a garantia de promover maior eficiência nas operações da cadeia logística.
*Imagem de capa: Depositphotos
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Pascoal Gomes
Pascoal Gomes é diretor financeiro e de relações com investidores da Log-In Logística Intermodal, empresa de soluções logísticas, movimentação portuária e navegação de Cabotagem e Mercosul
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