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A indústria de alimentos do Brasil alcançou faturamento de R$ 1,075 trilhão em 2022 - 16,6% a mais do que 2021. No maior mercado do setor, o interno, as vendas chegaram a R$ 770,9 bilhões, equivalente a 14,3% a mais em termos nominais (não deflacionados) que no ano anterior. Já as vendas reais totais (descontada a inflação), considerando mercado interno e exportações, expandiram 3,7%, e a produção física teve um incremento de 2,5%, mostra o balanço econômico anual do setor, elaborado pela Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).
O relatório revela ainda a expansão na exportação. As vendas para fora aumentaram 30% em valor, com faturamento de R$ 304,4 bilhões. Outro destaque foi para a geração de novos postos de trabalho no setor, onde 58 mil novos postos foram criados, uma expansão de 3,4% que elevou a um total de 1,8 milhão de trabalhadores.
De acordo com a ABIA, além de conjunturas políticas e econômicas nacionais e internacionais, os resultados podem ser atribuídos também aos investimentos na expansão de plantas fabris, pesquisa e desenvolvimento, fusões e aquisições, compra de máquinas e equipamentos, que alcançaram R$ 23,6 bilhões, percentual de 2,2% do faturamento total da indústria de alimentos.
“É a primeira vez que ultrapassamos o trilhão em faturamento, e isso mostra um cenário superpositivo porque 72% desse valor vem do abastecimento do mercado interno e apenas 28% são oriundos de exportação. A indústria brasileira de alimentos tem mostrado, cada vez mais, que não somos apenas o celeiro do mundo, mas somos o supermercado também, contribuindo para a segurança alimentar global. Além disso, promovemos o desenvolvimento econômico do interior do país e absorvemos 1,8 milhão de trabalhadores em empregos formais, possibilitando que tenham mais qualidade de vida”, afirma o presidente do Conselho Diretor da ABIA, Gustavo Bastos.
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Ele complementa que, apesar de contingenciada pela aceleração da inflação em 2022, a expansão das vendas da indústria de alimentos para o varejo alimentar brasileiro apresentou alta de 1,7% em termos reais. O destaque ficou por conta do food service (serviços de alimentação fora do lar), que seguiu em trajetória de retomada das atividades.
“As vendas da indústria para o food service, em termos reais, cresceram 9,8% em relação ao ano de 2021 (descontada a inflação acumulada em 12 meses do grupo de alimentação fora do lar do IPCA-IBGE, de 7,5%). A participação do segmento nas vendas para o mercado alcançou 27,0%, superando o observado em 2021, de 26,3%. “O processo de fortalecimento do canal food service continuará ao longo dos próximos anos”, analisa Bastos.
O Brasil permanece no posto de segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo: foram 64,8 milhões de toneladas vendidas para 190 países, com destaque para proteínas animais, açúcares, farelos, óleos e gorduras. Ainda assim, as vendas para o exterior equivalem a apenas 28% do faturamento total da indústria, ao passo que o mercado interno representa 72%: no varejo alimentar, R$ 563,7 bilhões, e no food service (alimentação fora do lar), R$ 208 bilhões.
“Ao longo de 2022, o crescimento da economia mundial, apesar da desaceleração no ritmo observado em 2021, continuou estimulando o consumo de alimentos, fator que, combinado com a taxa de câmbio favorável (R$/US$), contribuiu para a expansão das exportações brasileiras de alimentos industrializados”, explica o presidente executivo da associação, João Dornellas.
Ele lembra que no ano passado a indústria de alimentos enfrentou um cenário desafiador, marcado por pressões generalizadas nos custos de matérias-primas agrícolas, energéticas e embalagens, movimento intensificado pelo conflito na Europa, e da inflação elevada, que contingenciou a expansão da renda da população.
Ainda assim, a continuidade do movimento de recuperação da economia brasileira e mundial em 2022, apesar da redução no ritmo - estimulada pelo retorno do setor de serviços - contribuiu, de forma decisiva, para a expansão da produção e das vendas da indústria brasileira de alimentos nos mercados interno e externo, com geração positiva de emprego e renda pelo setor.
Além das commodities agrícolas, a alta nos preços das embalagens, em patamar superior a 30%, e dos combustíveis, entre 25% (diesel) e 30% (gás natural), geraram um impacto médio no custo industrial de produção de alimentos no patamar de 15,0%, acima da inflação acumulada no ano do grupo alimentos e bebidas do IPCA-IBGE, de 12,0%.
Matérias-primas, embalagens e energia representam, juntas, 60% do custo de produção do setor. “Do lado da oferta, o conflito entre Rússia e Ucrânia, a partir de fevereiro, acentuou as rupturas nas cadeias globais de suprimentos iniciadas com a pandemia, o que elevou a pressão sobre a disponibilidade e os preços de matérias-primas agrícolas, energéticas (petróleo, gás, biodiesel) e demais insumos (fertilizantes), commodities com preços formados no mercado internacional, com impactos diretos sobre os custos de produção e preços dos alimentos no Brasil e no mundo”, explica Dornellas.
No mercado interno, os efeitos adversos das estiagens na região Sul no início no ano, que reduziu a safra de soja, somados à restrição de oferta e preços elevados de insumos, pressionaram os custos do setor - caso do leite e demais proteínas animais -, enquanto as safras recordes de trigo e a segunda maior de milho contribuíram para a melhoria da disponibilidade interna desses grãos e da acomodação dos preços no último trimestre do ano.
Apesar de o cenário atual da economia brasileira apontar para uma desaceleração do crescimento do PIB, que converge atualmente para o intervalo de 0,8% a 1%, das pressões nos custos de produção ainda presentes e das incertezas em relação à economia mundial, as perspectivas para a indústria de alimentos em 2023 permanecem positivas.
A produção e as vendas reais devem aumentar entre 1,5% e 2%; as vendas no mercado interno têm perspectiva de incremento moderado, com destaque para o food service, que continua em processo de recuperação.
As exportações de alimentos industrializados também seguem com cenário mais desafiador, diante da redução do crescimento projetado para a economia mundial, segundo recente avaliação do FMI, de 2,9%, ante + 3,4% em outubro.
Entre os fatores de estímulo estão o horizonte de manutenção da taxa de câmbio (R$/US$), e da expansão das economias da China, em processo de flexibilização das restrições à circulação de pessoas, e da Índia, estimulada pelos investimentos em infraestrutura, com projeções de expansão mais elevadas, de 5,2% e 6,1%, respectivamente, segundo o FMI.
Do lado da oferta, a entrada da nova safra de grãos, a partir de fevereiro de 2023 - se confirmadas as projeções de expansão do volume de produção pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de até 14,5%, mesmo com possíveis perdas de produtividade provocadas pela estiagem decorrentes do fenômeno La Niña, em algumas regiões do sul do país -, é um importante fator de melhoria na disponibilidade de matérias-primas para a indústria de alimentos e de redução nas pressões sobre os custos de produção, movimento que também está alinhado à tendência de acomodação dos preços de commodities agrícolas no mercado internacional em 2023.
*Imagem de capa: Depositphotos
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