Fonte: FIESP - 07/03/07
“Viabilizar o desenvolvimento sustentável, compatibilizando crescimento econômico e conservação ambiental, é o grande compromisso da indústria nos dias de hoje”, afirmou o diretor-titular do Departamento de Meio Ambiente (DMA) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson Pereira dos Reis, na abertura do Seminário Internacional “Tendências da International Organization for Standardization (ISO) em Normalização Ambiental Internacional e as Ações do Brasil”, realizado em 6 de março na sede da entidade.
O evento, que contou com a presença de palestrantes nacionais e internacionais – como Christopher Balle, coordenador do Grupo de Trabalho 7 do Comitê Técnico Ambiental da ISO (ISO TC207/WG7), e o britânico Nigel Carter, do Comitê Técnico Ambiental da ISO –, enfocou a importância de se adotar padrões internacionais para a normalização de produtos e serviços. “Quando se pratica normas aceitas mundialmente, elimina-se o problema das barreiras técnicas”, destacou Haroldo Mattos de Lemos, vice-presidente da ISSO/TC 207 e diretor do Comitê de Gestão Ambiental da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A ênfase foi dada à adoção de normas ambientais (ISO 14000), cada vez mais desejáveis num mundo que se aflige com as perspectivas do aquecimento global e do esgotamento dos recursos naturais.
O diretor-titular adjunto do DMA, Arthur Cesar Whitaker de Carvalho, pontuou as mudanças de postura do setor industrial – cada vez mais empenhado em buscar soluções ambientalmente corretas – e salientou a importância de tornar públicas essas medidas: “As indústrias têm investido em projetos de recuperação de ecossistemas e em tecnologias que viabilizam o reaproveitamento de resíduos, o reúso da água e a redução de emissões de gases poluentes, entre outros”, declarou. “Todos esses procedimentos são importantes fatores de diferenciação, que contribuem favoravelmente para a competitividade da indústria nacional junto aos mercados mais exigentes”.
Meio ambiente e competitividade
Embora muitas indústrias – principalmente as de menor porte, segundo diversos palestrantes – ainda tenham uma tendência a considerar que a adequação de seus processos, produtos e serviços às normas internacionais seja sinônimo de aumento de custos, a realidade mostra que as empresas brasileiras mais bem sucedidas são justamente aquelas que investem na inovação tecnológica. “E a maior parte dessas inovações tecnológicas resulta em algum ganho ambiental, direta ou indiretamente”, constatou a geóloga e técnica em Meio Ambiente do DMA/Fiesp, Maria Marta Teixeira Vasconcelos, que ministrou a palestra “Aspectos Ambientais em projetos, desenvolvimento e normalização de produtos – Oportunidades para o Brasil”.
Com base nas amostragens feitas pela publicação “Brasil Inovador”, produzida em 2006 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Maria Marta analisou os cases das empresas mais competitivas do Brasil. Ela descobriu que, em 33% das empresas amostradas, a inovação de produtos ou processos foi motivada por aspectos ambientais ou teve sua inclusão como principal característica de inovação. Alguns exemplos dessas inovações referem-se ao aproveitamento dos recursos da biodiversidade brasileira (principalmente pelas indústrias de fármacos, cosméticos e alimentos), à substituição de matérias-primas e componentes em adesivos industrias (com o uso de água em vez de solventes) e à utilização de biocombustíveis de fontes renováveis e sustentáveis (advindas da agricultura familiar).
Em outros cases apresentados pela publicação, os ganhos ambientais foram menos óbvios, mas se fizeram presentes: em 17% das empresas amostradas, foram percebidas melhorias nos aspectos ambientais, e em 8% delas, as inovações permitiram reduzir impactos na fase de produção e/ou no uso final dos produtos. “Os aspectos e benefícios ambientais associados a produtos e seus processos serão cada vez mais parâmetros de inovação, e objetos de reconhecimento e validação por patentes e/ou normas técnicas”, concluiu Maria Marta.
Ciclo de vida dos produto
Entre as discussões empreendidas ao longo das quase 10 horas de duração do Seminário, merece destaque o Painel sobre “Perspectivas da Avaliação do Ciclo de Vida de Produtos no Brasil”, apresentado pelo professor Gil Anderi da Silva, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). Anderi mostrou que a análise do ciclo de vida dos produtos é uma ferramenta de gestão ambiental que permite quantificar a parcela de responsabilidade que cabe a cada produto no atual cenário de degradação do Meio Ambiente.
Em vez de uma análise superficial, que leve em conta somente um ou dois fatores de impacto – por exemplo, o modo de extração da matéria-prima ou a energia gasta no processo produtivo –, a avaliação do ciclo de vida considera todas as etapas, ou atividades humanas, necessárias para que o produto cumpra sua função. “São considerados desde os aspectos ambientais da obtenção da matéria-prima até os impactos gerados pelo transporte, pelo uso do solo, pela utilização de água e energia no processo produtivo, as emissões gasosas, até o posterior descarte do produto. São dezenas de milhares de dados”, resumiu o professor, para quem “qualquer discussão sobre normalização técnica ambiental deve levar em conta a avaliação do ciclo de vida”. Anderi assinalou também que “essas informações não resolvem problemas, mas permitem identificar os caminhos mais adequados à tomada de decisões”.
O último painel do dia abordou a Norma ISO 14.064, que oferece diretrizes para a adoção de medidas destinadas reduzir a emissão de poluentes responsáveis pelo agravamento do efeito estufa. “Lançada em inglês no primeiro semestre de 2006, a Norma está sendo traduzida para o Português e deverá estar disponível a partir do mês que vem”, anunciou Vítor Feitosa, que coordena o Sub-comitê 09 (SC-09) da ABNT CB38 e gestor de Desenvolvimento Sustentável da Samarco Mineração S.A.
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