Fonte: Carbono Brasil - 26/10/07
Entre os assuntos que serão debatidos no encontro das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Bali, em dezembro, talvez o mais polêmico seja o pagamento por emissões de carbono evitadas para países tropicais que reduzirem as taxas de desmatamento. Um acordo para guiar os países ricos a pagar pelo “desmatamento evitado” parece ser o líder diplomático do encontro.
Estimativas apontam que o desmatamento e os incêndios florestais produzem cerca de 20% das emissões globais de carbono, quantidade equivalente as emissões dos Estados Unidos ou da China.
Até o momento, a proposta tem o apoio dos Estados Unidos e dos grandes países em desenvolvimento, que são contra metas obrigatórias de redução das suas emissões de gases do efeito estufa.
Uma das propostas, liderada por Papua Nova Guiné e Costa Rica, envolve o comprometimento dos países tropicais a assumir metas para evitar o desmatamento em troca de pagamentos vindos dos países desenvolvidos. Segundo especialistas, esta proposta tem grande chance de ser aprovada como parte de um novo acordo, que sucederá o Protocolo de Kyoto.
No início do ano, a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB) e seu parceiro local na Indonésia, Burung Indonesia, compraram uma concessão para desmatamento de 240.000 acres na ilha de Sumatra, mas escolheram não desmatar. Para isso, foi necessário modificar uma legislação do país. O acordo feito com o Ministério de Florestas, visto por conservacionistas como inovador, permite o manejo florestal para obter benefícios chamados “serviços ambientais”.
A floresta de Harapan possui 24 tigres da Sumatra, elefantes asiáticos e vários leopardos. Possui também 267 espécies de aves. A tribo nômade Batin Sembilan, com 150 membros, será beneficiada diretamente, podendo continuar a extrair a borracha, mel, frutas e ratan para uso próprio.
Este é o tipo de projeto que deve atrair financiamentos nas negociações de Bali, mas os países tropicais ainda estão divididos entre a proposta de um fundo internacional, pago aos governantes, ou a compra de créditos de carbono por empresas dos países desenvolvidos.
O Brasil sempre foi a favor de um fundo internacional, mas não tem tido muito sucesso internacionalmente, e os mercados de carbono têm o potencial para oferecer bilhões. O Banco Mundial demonstrou interesse em colocar dinheiro para ajudar os países tropicais a desenvolver estratégias nacionais para reduzir o desmatamento.
John Lanchbery, do RSPB pondera: “Ninguém diz que é uma má idéia. Somente há desentendimentos sobre como fazer. Não é a solução perfeita, mas é a única sendo discutida no momento. Não vejo razão para não ir em frente.”