80% das indústrias brasileiras inovaram na pandemia e tiveram aumento de produtividade e lucro em 2020

Pesquisa da CNI com executivos de 500 grandes e médias empresas industriais mostra que apenas 41% tem profissionais dedicados exclusivamente à inovação.

Oitenta por cento das indústrias brasileiras inovaram na pandemia e tiveram aumento de lucro, produtividade e competitividade em 2020, segundo a pesquisa realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com os dados, 67% das indústrias da região Sul que participaram do estudo relatam que fazem ou fizeram alguma inovação de algum processo produtivo ou produto em 2021. A porcentagem diminuiu quando comparada aos anos de 2020 e 2019, quando o número chegou a 75 e 85%, respectivamente. Os estados ficaram abaixo e igual em comparação com o dado a nível Brasil, que foi de 80% em 2019, 69% em 2020 e 67% em 2021.

Ainda na estratificação dos três estados do Sul, dos executivos que fizeram inovação, 46% responderam que os processos de inovação da empresa aumentaram muito a produtividade em 2021, 28% mais ou menos e 21% pouco. Já quando a pergunta foi sobre o aumento de lucratividade causado pela inovação, 26% relatou que teve muito, 41% mais ou menos e 28% pouco e, sobre aumento em competitividade decorrente de inovar, 45% respondeu que teve muito, 41% mais ou menos e 11% pouco.

Equipes e orçamento exclusivo para inovação

Outro dado que chamou atenção foi que apenas 40% dos respondentes da região relataram ter orçamento específico para inovação e 41% profissionais dedicados exclusivamente à inovação. Rafael Trevisan, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação no Sistema Fiep, explica que a preocupação com inovação em si deve ser uma missão e um objetivo de toda a empresa para melhorar produtividade de seus processos, atender melhor o cliente, gerar mais valor em produtos e melhorar produtividade dos seus processos. “Quando analisamos os dados de pesquisas de inovação, eles focam na dedicação de pessoas que estão atreladas à pesquisa e desenvolvimento, que é um pouco mais específico do que só o conceito da inovação em si”, diz Trevisan.


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Ele esclarece que a diferença é que, no caso de ter profissionais exclusivos, são pessoas que têm a missão de desenvolver projetos de inovação que atendem ao cliente. Ou seja, desenvolvem novos produtos, pesquisam novas matérias primas, modelam produtos novos junto com clientes, desenvolvem algumas composições químicas, novos ingredientes etc.  

O dado é importante, segundo Trevisan, devido ao conceito de esforço para a inovação, que mede o nível de esforço que uma empresa tem para inovar com o número de pessoas dedicadas exclusivamente a isso. “Quanto mais pessoas ou número de pesquisadores tem uma indústria, maior seu esforço para a inovação e quanto mais indústrias com profissionais dedicados à inovação, maior é a probabilidade de se obter melhores resultados com a inovação, como aumento da produtividade, maior eficiência e lançamento de produtos inovadores”, analisa.

Impactos da pandemia

Sobre o nível de dificuldade para inovação, no Sul, 2% relatou ter dificuldade muito alta, 35% alta, 47% média e 9% baixa e sobre a dificuldade de inovação especificamente durante a pandemia, 13% dos respondentes da região avaliaram que aumentou muito, 32% aumentou um pouco, 39% ficou igual e 13% considerou que diminuiu um pouco.

Além disso, 86% acreditam que, em um mundo pós pandemia, a empresa irá precisar mais de inovação para crescer ou mesmo sobreviver no mercado. E, por fim, pensando do ponto de vista da adoção de novas tecnologias digitais e comparando a empresa hoje com o que era antes do início da pandemia de coronavírus, 28% dos respondentes dos três estados disseram que a empresa avançou muito, 36% mais ou menos, 29% pouco e 7% nada.

De acordo com a pesquisa, as principais causas para dificuldade em inovar durante a pandemia são acessar recursos financeiros de fontes externas (19%), a instabilidade do cenário externo (8%), a contratação de profissionais (7%), falta de mão de obra qualificada (8%) e o orçamento da empresa (6%).

Ecossistema de Inovação do Paraná avança, mas ainda tem muito para crescer

Para Fabrício Luz Lopes, gerente executivo de Tecnologia e Inovação do Sistema Fiep, o Paraná hoje é um dos estados que tem solo mais fértil para inovação, mas há muito a ser construído. “Existem muitos atores que estão protagonizando movimento de desenvolvimento de inovação junto ao setor produtivo no Paraná para que os processos de inovação sejam mais sistemáticos e fortes”, conta. “O Governo do Estado através da Fundação Araucária e em parceria com o Senai no Paraná tem lançado editais e oferecido recursos para que as indústrias paranaenses possam desenvolver projetos de pesquisa e, naturalmente, gerar valor para nossa indústria e emprego”, lembra.

Além do Governo, o gerente ressalta que há prefeituras assumindo a liderança, junto a entidades de classe e o Sebrae. “O movimento das cooperativas do agro também tem sido um movimento bem relevante para desenvolvimento de valor para o segmento, porque é o setor hoje que lidera o PIB do Paraná”.

A Lei Estadual de Inovação, publicada em abril de 2021, representa um avanço para o Paraná. O texto, segundo a Agência de Notícias do Paraná, estabelece novas medidas de incentivo à inovação, pesquisa e políticas públicas de desenvolvimento econômico. “A lei foi um marco muito importante, mas a gente ainda tem uma longa caminhada e não podemos esquecer disso”, diz. Para Lopes, estamos atrasados como país dentro do desenvolvimento de inovação e consequentemente desenvolvimento de políticas de média e longo prazo. “Precisamos continuar com muitos atores e muita força para que a gente possa diminuir o abismo que existe entre a força de inovação do nosso país, do setor produtivo, os recursos, as políticas, comparado com outros países. Não há nenhuma nação no mundo que consiga se desenvolver com inovação se não tiver recursos públicos e políticas públicas para financiar esses desenvolvimentos, então isso é bem importante”, analisa o gerente.

O Instituto FSB Pesquisa entrevistou 500 executivos de empresas industriais de médio e grande porte, compondo amostra proporcional em relação ao quantitativo total de empresas industriais desses portes em todos os estados brasileiros. As entrevistas foram realizadas entre 1 e 23 de setembro.


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