Startup Desaer busca investimento para viabilizar novo avião nacional em 2025

Formada em São José dos Campos por ex-funcionários da Embraer, a startup Desaer busca investimentos para viabilizar uma nova aeronave nacional.

O modelo desenvolvido pela empresa recebeu o nome de ATL-100, sigla para Aeronave de Transporte Leve. A meta é atender a partir de 2025 a demanda da aviação regional, do transporte de cargas e das Forças Armadas.

As aeronaves, de motor turbo-hélice, terão capacidade para até 19 passageiros ou 2.500 quilos de carga.

O engenheiro Evandro Fileno, que trabalhou por 20 anos na Embraer, conta ter decidido criar a empresa em 2016 por considerar que havia uma oportunidade no mercado não atendida pela companhia.

O empresário calcula que existam cerca de 5.000 aviões do porte do ATL-100 em circulação no mundo, a maior parte deles fabricada nos anos 1970 e 1980.

Fileno estima que 2.000 dessas aeronaves precisarão deixar o mercado em uma década. Por outro lado, as fabricantes vêm dedicando a maior parte de seus esforços para aeronaves de grande porte, o que deixa espaço para a startup. A Embraer, por exemplo, encerrou a linha de produção do modelo Bandeirante, que o ATL-100 tenta substituir, em 1991.

Além disso, Fileno diz ver no plano do Governo de São Paulo de leiloar 22 aeroportos regionais em julho para destravar obras e atrair investimentos para o setor como um impulso para a demanda por aeronaves como a que desenvolve.

Fileno conta que o projeto do ATL 100 prevê uma aeronave de cabine não pressurizada, para voar preferencialmente em baixa altitude ou com cilindros de oxigênio (no caso de missões militares), de manutenção barata e com trem de pouso fixo (sem sistema de retração) para pouso e decolagem em qualquer pista. A autonomia de voo será de 1.500 quilômetros com carga total ou 2.100 quilômetros quilômetros sem carga. "Queremos uma aeronave simples, bruta e que atende ao cliente".

ATL 100 tem preço estimado de US$ 5,5 milhões (R$ 28 milhões). Segundo Fileno, a companhia tem assinadas 12 intenções de compra, de clientes no Brasil e no Uruguai, diz Fileno.


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Após avançar na elaboração do projeto, a companhia agora busca recursos para erguer sua fábrica que, nos cálculos de Fileno, poderia produzir quatro aviões por mês.

Fileno tem como sócios na Desaer outros cinco colegas de Embraer. Hoje sua companhia conta com 42 pessoas, a maior parte oriundas da fabricante nacional, e está sediada na Incubaero, incubadora de novos negócios da Fundação Casimiro Montenegro Filho, ligada ao ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e sediada em São José dos Campos (SP).

Até agora, foram investidos R$ 800 mil dos próprios sócios na iniciativa. Porém, para que a fabricação das aeronaves inicie, o valor necessário fica na casa dos US$ 100 milhões (R$ 522 milhões). Os sócios da startup buscam investidores na Ásia e Europa para tentar levantar o dinheiro, diz Fileno.

Fileno diz que a empresa terá para sua fábrica uma área de 270 mil metros quadrados, cedidos pela prefeitura de Araxá (MG), no Aeroporto Romeu Zema, em parceria anunciada em março. A definição sobre o período pelo qual o município permitirá o uso sem custos do espaço pela startup deve ocorrer nos próximos dias, afirma o empresário.

Assim que os recursos estiverem disponíveis, a operação da fábrica poderia começar em dois anos, avalia Fileno. Os voos de teste para obter a certificação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) teriam início em 2023 e a entrada no mercado ficaria para 2025, afirma.

A Desaer também firmou em 2020 uma joint venture para o desenvolvimento, fabricação e comercialização do ATL-100 com o Ceiia (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto), instituição portuguesa dedicada ao desenvolvimento de produtos de mobilidade.

Segundo Fileno, sua startup tem 70% da companhia resultante da parceria, a Desaer Portugal. Como os aviões da empresa fabricados no Brasil não deverão atravessar o continente, há a expectativa de que uma fábrica em Portugal, na cidade de Ponte de Sor, abasteça o mercado europeu e africano. A companhia também busca um parceiro na Ásia.

De acordo com o empresário, a pandemia trouxe um novo desafio ao projeto, por ter impactado negativamente todo o setor aéreo. "Não conseguimos ainda os recursos para decolar na velocidade que poderíamos ter em outra situação."