Fonte: Ecopress - 15/10/07
O interesse crescente das grandes organizações pela sustentabilidade
O interesse crescente das grandes organizações pela sustentabilidade abriu uma inédita temporada de caça a talentos de diferentes formações. Profissionais como geólogos, biólogos e até antropólogos estão em alta no mercado não penas para funções técnicas específicas. Mas também para cargos de gestão. Como a sustentabilidade não pode conceitualmente ser encaixada em um campo de conhecimento único, o super especialista, aquele que entedia muito de uma área, começa a perder espaço para um profissional com visão multidisciplinar, alguém com capacidade de compreender as diversas conexões do tema com o negócio.
Nos últimos cinco anos, com a ascensão do conceito de ecoeficiência, observou-se, nas corporações, um aumento significativo na contratação de especialistas em meio ambiente, recrutados para apoiá-las tanto no cumprimento de requisitos da legislação ambiental quanto na execução de estratégias de economia e uso racional de recursos naturais. A tendência agora aponta para outra direção. Com a necessidade cada vez mais evidente de conjugar eficiência econômica, justiça social e equilíbrio ambiental, a área de meio ambiente " antes gerida de maneira fragmentada, como mera consultoria técnica " está sendo gradualmente incorporada por departamentos de sustentabilidade, com status de diretoria, que nascem para integrar os três vetores, assegurando-lhes uma abordagem mais estratégica e mais inserida no modelo de produção e na gestão do negócio.
A mudança está em pleno curso. Mais perceptível nas organizações de grande porte, multinacionais e com atuação no novo mercado, ela decorre de duas percepções que se complementam "uma interna e outra externa ás empresas. No âmbito da gestão interna, cresce a consciência de que a sustentabilidade, mais do que um risco, representa uma oportunidade para reduzir perdas de eficiência e também os passivos ambiental e social, agora mais claramente vistos como empecilhos ao bom desempenho do negócio no curto e no longo prazos. Já no mercado, consumidores e investidores começam a preferir as empresas sustentáveis. Os primeiros porque, cada dia mais, demonstram interesse em comprar produtos e serviços de corporações éticas, com princípios e valores, que pensam e agem como eles. Os segundo porque enxergam nelas negócios mais sólidos, prósperos e rentáveis.
Ser sustentável virou um bom negócio. Prova disso são os indicadores de sustentabilidade, como o ISE (Índice de Sustentabilidade de Empresas) da Bovespa e o Down Jones da Bolsa de Nova Iorque. Pertencer a essas carteiras seletíssimas, cujo acesso restrito exige o atendimento a centenas de requisitos socioambientais, éticos, de transparência e governança corporativa, está se transformando em aspiração das empresas de capital aberto que fazem negócios no mundo globalizado.
Para dar respostas consistentes, em um contexto muito mais complexo, o mercado anda atrás de profissionais ecléticos. A primeira formação, antes decisiva, agora assumirá um peso relativamente menor nos processos de seleção. Qualquer que seja a graduação do profissional "em ciências humanas, biológicas ou exatas " é fundamental que ele tenha conhecimentos amplos sobre os grandes temas da sustentabilidade como, por exemplo, emissões de carbono e instrumentos de compensação, análise de cadeia produtiva e de ciclo de vida de produtos, venda de créditos de carbono e mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL), identificação e solução de passivos ambientais, educação ambiental, compliance e responsabilidade socioambiental, normas, índices e certificações.
Na esteira da sustentabilidade, tem surgido carreiras promissoras que, há menos de cinco anos, pareceriam improváveis. É o caso do corretor de créditos de carbono. Qualquer pessoa que, num passado recente, ousasse dizer que viveria de definir estratégias de redução de gás carbônico, identificar oportunidades de venda, estabelecer preços e negociar algo aparentemente tão abstrato em balcões ou pela Internet, não seria levado a sério. Também soaria estranho, tempos atrás, que biólogos, advogados e geólogos viessem a trabalhar em bancos analisando o risco de operações a partir de critérios socioambientais ou ainda que engenheiros se esforçariam para receber uma certificação especial (o Leed "Lliderança em Energia e Design Ambiental) para projetar e construir empreendimentos imobiliários verdes.
A realidade cada dia mais desafiadora, típica dos momentos de transição entre paradigmas, tem exigido e exigirá do novo gestor ambiental uma formação heterogênea, conhecimentos multifacetados e uma visão de mundo sistêmica. Programas realizados pelas próprias empresas, cursos técnicos, pós-graduações ligadas aos grandes temas socioambientais, MBAs, mestrados e doutorados na área são fundamentais. Assim como fundamental é também a capacidade e a disponibilidade para repensar, de modo holístico, novos modelos de pensar e de agir para as empresas neste surpreendente início de século.
Ricardo Voltolini é diretor de redação da revista Idéia Socioambiental e consultor de Idéia Sustentável
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