Lançamento do terceiro volume da série Pioneiros e Empreendedores

Fonte e foto: Agência Fapesp - 10/10/07

Com a preocupação de preservar o futuro do passado empresarial brasileiro, o terceiro volume da série Pioneiros e Empreendedores: a Saga do Desenvolvimento no Brasil foi lançado na tarde desta terça-feira (9/10), na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), na capital paulista.

A obra traz biografias de oito empresários das regiões Nordeste, Norte e Sudeste que se tornaram referência com a introdução de novos produtos e serviços no mercado brasileiro: Luiz Tarquínio (Bahia), Bernardo Mascarenhas (Minas Gerais), Delmiro Gouveia (Alagoas), Samuel Benchimol (Amazonas), Os Lundgren (Pernambuco), Roberto Marinho (Rio de Janeiro), Augusto Trajano de Azevedo Antunes (Amapá) e Edson Queiroz (Ceará).

“Esses nomes, que em suas épocas fincaram raízes que continuam florescendo, foram escolhidos por três motivos. Primeiro por terem fundado ou investido recursos próprios em empresas do setor industrial para gerar riqueza para o país. Segundo, por serem também pessoas que tiveram capacidade de liderar e de extrair o que havia de melhor em seus quadros humanos”, disse Jacques Marcovitch, professor da FEA, ex-reitor da USP e organizador da obra, durante o seminário Pioneirismo empresarial no Brasil e a construção do século 21.

“Em terceiro lugar, são pessoas que construíram uma ‘segunda vida’, uma vez que seus projetos empresariais tiveram continuidade depois de suas existências. Por isso, essa série faz uma ponte entre o passado, o presente e o futuro do Brasil, que talvez seja o país mais contraditório na escala mundial. Enquanto no nível político o país está depressivo, no nível econômico estamos em euforia devido ao grande interesse internacional pelas empresas brasileiras”, afirmou.

Esse foi o terceiro e último volume da série, que ao todo reúne 24 personagens. “Agora estamos começando a pensar no conceito museológico do projeto. Nossa intenção é organizar uma exposição com mais informações e fotos de todos os pioneiros que reunimos nos três volumes”, disse Marcovitch à Agência FAPESP.

De acordo com a organizadora da mostra, a museóloga Maria Cristina Bruno, a idéia é que ela seja dedicada ao público estudantil. “Nossa pretensão é que os jovens tenham mais acesso à memória desses brasileiros, que muitas vezes fica restrita ao ambiente familiar e das empresas. Um grande projeto educativo voltado aos professores deverá acompanhar a exposição”, explicou Maria Cristina, professora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, à Agência FAPESP.

Segundo ela, em princípio a mostra entrará em cartaz em São Paulo, em local ainda indefinido, e também existem hipóteses de que ela seja itinerante e percorra outros estados. “A meta é até meados de 2008 inaugurarmos a exposição. Ainda estamos reunindo os acervos, inclusive audiovisuais, uma vez que ela terá uma parte interativa”, disse.

Pioneiros e empreendedores

Até se tornar um destacado industrial, Luiz Tarquínio (1844-1903) teve que superar muitas adversidades. Filho de ex-escrava, começou a trabalhar desde cedo, como varredor de loja. Implementou a primeira vila operária do Brasil em 1891, em Salvador. No mesmo ano fundou aquela que se tornaria uma das maiores tecelagens do país, o Empório Industrial do Norte. Freqüentou a escola pública por apenas três anos, dos 7 aos 10 anos de idade.

“A vila operária, um projeto futurista que ultrapassou todas as barreiras sociais da época, foi considerada um novo modelo de organização da sociedade, que conciliava os interesses do trabalho com o capital, fazendo com que o dinheiro dignificasse o trabalhador”, disse a empresária, escritora e bisneta de Tarquínio, Eliana Bittencourt Dumêt, no lançamento do livro.

A vila operária abrigava os trabalhadores da tecelagem e oferecia aos moradores escola, academia de ginástica, armazéns de abastecimento e até um museu de história natural. Tarquínio foi ainda um dos primeiros a introduzir benefícios trabalhistas, como licença-maternidade.

Maria Teresa Ribeiro de Oliveira, professora da Universidade de Brasília (UnB) que falou, no evento na capital paulista, sobre a vida e obra de Bernardo Mascarenhas (1847-1899), destacou que, diferentemente de Tarquínio, ele praticamente não se envolveu com movimentos políticos e sociais.

“Mascarenhas era nitidamente um empresário capitalista da indústria têxtil, com poucas preocupações humanitárias, que idealizou, em 1872, a Tecidos Cedro, em Minas Gerais”, disse Maria Teresa. Ele foi ainda responsável pela construção de hidrelétricas que iluminaram Juiz de Fora e Belo Horizonte e que forneceram energia para outras indústrias de produção de tecidos do estado.

Delmiro Gouveia, comerciante alagoano que viveu entre 1863 e 1917, construiu em sua trajetória uma reputação de empresário ousado e inovador por ter levantado, em 1899, o Derby, um centro de comércio e lazer em Recife.

“Gouveia introduziu uma série de inovações nesse empreendimento, que reunia mercado, hotel, cassino e parque de diversões, e se aproximava muito do conceito atual de shopping centers”, disse Telma de Barros Correia, professora da Escola de Engenharia de São Carlos da USP.

“De modo semelhante aos dias de hoje, no Derby o consumo era promovido como espetáculo, distração e prazer”, disse. Também conhecido como o rei do comércio de couros, Gouveia foi ainda um destacado construtor de estradas e responsável pela instalação da primeira hidrelétrica do rio São Francisco.

Outro empreendedor de destaque lembrado no evento foi Samuel Isaac Benchimol (1923-2002), empresário e intelectual que, além de professor emérito da Universidade do Amazonas por mais de 50 anos, onde criou a disciplina Introdução à Amazônia, foi o fundador do grupo Bemol-Fogás, um dos mais importantes grupos empresariais da Amazônia que inclui desde empresas voltadas para o comércio exterior e a distribuição de gás de cozinha até lojas de departamento.

O terceiro volume da série Pioneiros e Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil foi lançado pela Editora da Universidade de São Paulo e pela Editora Saraiva.

Mais informações: www.usp.br/pioneiros