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O minério de ferro da Vale, de maior qualidade que o de suas concorrentes, pode ser utilizado para a fabricação de um produto para a siderurgia que permite maior redução das emissões pelas indústrias siderúrgicas, mas a companhia só deve levar adiante este projeto se vingar o plano do governo brasileiro de reduzir os custos do gás natural.
Isso porque o gás é o principal insumo para a fabricação do chamado "Hot Briquetted Iron" (HBI), um tijolinho compacto com 93% de teor de ferro com "baixíssimo" teor de contaminantes e maior valor agregado.
O preço do gás teria de cair mais de 60% ante os valores atuais no Brasil, para 4 dólares por milhão de BTU, segundo fontes da companhia, que na noite de quinta-feira deram mais detalhes sobre uma apresentação da empresa realizada na quarta-feira e divulgada ao mercado.
O HBI, cuja produção é possível apenas a partir de minério de alta qualidade, elimina a necessidade de coque ou carvão metalúrgico do processo da indústria siderúrgica, que hoje responde por cerca de 9% das emissões globais de CO2.
Com tais atributos, o HBI é negociado hoje no mercado internacional entre 250 e 300 dólares por tonelada, ou mais de três vezes o valor de minério de ferro, mas pouco se produz no mundo.
"A Vale tem interesse de fazer plantas de HBI, isso nos interessa. O modelo de como isso vai ser feito, isso está em discussão...", disse uma fonte da empresa, que preferiu ficar no anonimato.
"Mas o preço do gás precisa ser reduzido drasticamente para que isso nos interesse", ressaltou.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia citado o HBI como um potencial produto da Vale, dentro de seus planos de reduzir o custo do gás. Mas a mineradora apenas estuda a situação, e não tem o produto em seu plano de investimento, segundo a fonte.
Os poucos países produtores de HBI estão situados em áreas com oferta de gás barato, como o Oriente Médio, algo que pode mudar caso o plano do Brasil para ampliar a oferta e reduzir preços do gás se desenvolva com sucesso, em meio a grandes descobertas em águas profundas no Brasil, no pré-sal, e na área de Vaca Muerta, na Argentina.
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Na hipótese desse plano ser desenvolvido, a Vale poderia produzir cerca de 20 milhões de toneladas de HBI por ano --o equivalente a 5% da produção total de minério de ferro futura da empresa, maior produtora global. A fabricação do novo produto se daria a partir da metade da próxima década, segundo a fonte.
O produto de alta concentração de ferro teria grande demanda na Europa, já que se encaixaria perfeitamente com as audaciosas metas de redução de emissões dos europeus, segundo apresentação da Vale, que destacou que "produtos metálicos (como o HBI) são o próximo passo em termos de pureza química para siderúrgicas".
Além disso, explicou a fonte da Vale, o produto é muito apropriado para corrigir a qualidade da sucata.
O HBI poderia ter boa demanda também nos Estados Unidos, que já utiliza bastante a sucata na siderurgia.
O produto é usado em fornos elétricos de siderúrgicas, que se valem da sucata como matéria-prima na produção de aço, ou altos fornos, que utilizam minério de ferro.
A China também poderia ter grande interesse de utilizar o HBI, pois luta para combater as emissões de sua indústria siderúrgica, a maior do mundo, e já foca o minério da Vale em busca de menores emissões.
Segundo a fonte, a Vale faria os investimentos em unidades produtoras de HBI com parceiros, garantindo o fornecimento de minério de alta qualidade.
A obtenção do gás também seria feita por meio de parceiros, já que não está nos planos da mineradora retomar investimentos no setor de petróleo e gás, segundo a fonte.
Os representantes da empresa ressaltaram que, como o processo de produção do HBI demanda minério de ferro de alta qualidade, isso dá vantagem à Vale em relação aos concorrentes.
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